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10/11/2000
-
04h49
da Folha de S.Paulo
O cinema brasileiro rendeu-se à tônica do "roteiro bem elaborado". Sim, como se costuma dizer, um bom filme começa por um bom roteiro. Mas o que prometem os manuais e cursos de roteirização não seria antes um modelo de "qualidade total" para pragmáticos decididos a vender seu projeto? Esse modelo encontraria seu ideal no padrão americano e sua verdade em arremedos de filmes comerciais televisivos como "Tolerância".
O cinema nacional continua, enfim, a tatear o mercado, por vezes um tanto atabalhoadamente. "Tolerância", de Carlos Gerbase, é a prova de que o panorama permanece confuso e não menos tenebroso. O casamento inevitável com a TV ameaça se consumar não só na exportação de produtos televisivos para o cinema, mas na proliferação de subprodutos televisivos no cinema.
Vejamos os clichês de "Tolerância": uma trama de thriller americano (com a diferença de que não há Justiça no Brasil), personagens novelescos (a velha ninfetinha sensual e ardilosa) e, para excitar o público, uma boa dose de sexo (Maitê não convence como advogada, mas, para vender lingeries, ela parece muito boa) e de sangue.
Trata-se, enfim, de um thriller erótico televisivo, mas com uma mensagem de tolerância embutida. Mensagem que, ao que parece, foi o que restou da história original escrita em 95 por Gerbase. Depois de passar pelas mãos de vários profissionais do roteiro (como Jorge Furtado) e de ser submetido a 12 tratamentos diferentes, o roteiro adquiriu duas subtramas de amargar.
Numa, Júlio (Roberto Bomtempo), editor de uma revista masculina, que foi idealista na juventude e hoje se contenta em retocar bundas pelo computador, envolve-se com a melhor amiga da filha. Na outra, sua mulher, a advogada Márcia (Proença), envolve-se com um de seus clientes.
Apesar de ser da geração do "amor livre", o casal não sobrevive ao ciclo de infidelidades sem passar por um ciclo de mortes. Da concepção dos personagens ao desenvolvimento da intriga, o que se trama por aqui é a intolerância. Como poderiam sugerir os cacoetes tarantinescos que se evidenciam tanto nas bifurcações de seu "roteiro elaborado" quanto na trilha sonora, talvez Gerbase pretendesse apenas reciclar o lixo. Mas mesmo para isso (Tarantino que o diga) é preciso talento.
(TMM)
Tolerância
Direção: Carlos Gerbase Produção: Brasil, 2000
Com: Maitê Proença, Roberto Bomtempo
Quando: a partir de hoje nos cines Belas Artes, Center Norte e circuito
Crítica: Thriller erótico televisivo sucumbe em mar de clichês
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O cinema brasileiro rendeu-se à tônica do "roteiro bem elaborado". Sim, como se costuma dizer, um bom filme começa por um bom roteiro. Mas o que prometem os manuais e cursos de roteirização não seria antes um modelo de "qualidade total" para pragmáticos decididos a vender seu projeto? Esse modelo encontraria seu ideal no padrão americano e sua verdade em arremedos de filmes comerciais televisivos como "Tolerância".
O cinema nacional continua, enfim, a tatear o mercado, por vezes um tanto atabalhoadamente. "Tolerância", de Carlos Gerbase, é a prova de que o panorama permanece confuso e não menos tenebroso. O casamento inevitável com a TV ameaça se consumar não só na exportação de produtos televisivos para o cinema, mas na proliferação de subprodutos televisivos no cinema.
Vejamos os clichês de "Tolerância": uma trama de thriller americano (com a diferença de que não há Justiça no Brasil), personagens novelescos (a velha ninfetinha sensual e ardilosa) e, para excitar o público, uma boa dose de sexo (Maitê não convence como advogada, mas, para vender lingeries, ela parece muito boa) e de sangue.
Trata-se, enfim, de um thriller erótico televisivo, mas com uma mensagem de tolerância embutida. Mensagem que, ao que parece, foi o que restou da história original escrita em 95 por Gerbase. Depois de passar pelas mãos de vários profissionais do roteiro (como Jorge Furtado) e de ser submetido a 12 tratamentos diferentes, o roteiro adquiriu duas subtramas de amargar.
Numa, Júlio (Roberto Bomtempo), editor de uma revista masculina, que foi idealista na juventude e hoje se contenta em retocar bundas pelo computador, envolve-se com a melhor amiga da filha. Na outra, sua mulher, a advogada Márcia (Proença), envolve-se com um de seus clientes.
Apesar de ser da geração do "amor livre", o casal não sobrevive ao ciclo de infidelidades sem passar por um ciclo de mortes. Da concepção dos personagens ao desenvolvimento da intriga, o que se trama por aqui é a intolerância. Como poderiam sugerir os cacoetes tarantinescos que se evidenciam tanto nas bifurcações de seu "roteiro elaborado" quanto na trilha sonora, talvez Gerbase pretendesse apenas reciclar o lixo. Mas mesmo para isso (Tarantino que o diga) é preciso talento.
(TMM)
Tolerância
Direção: Carlos Gerbase Produção: Brasil, 2000
Com: Maitê Proença, Roberto Bomtempo
Quando: a partir de hoje nos cines Belas Artes, Center Norte e circuito
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