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10/11/2000
-
05h07
da Folha de S.Paulo
Tradicional reduto vanguardista, São Paulo inverte os sinais neste momento em que os conceitos de gravadora e Internet começam a se interpenetrar para variar sem participação ativa dos dinossauros da indústria.
A iniciativa paulista do Estilingue se divide em dois pesos, duas medidas: por um lado, o banco de dados de novos artistas que aí se está criando é valioso e preenche mais um dos inúmeros vácuos que as grandes gravadoras tinham a obrigação de não deixar existir. É iniciativa fundamental, já passava da hora.
No segundo prato da balança, estão as bandas paulistanas Raskafari e Mada Foca, as primeiras bandas bancadas pelo selo Estilingue. A aposta é, exclusivamente, no imediatamente vendável.
Pela amostra até agora oferecida, as duas bandas seguem a cartilha de clonar grupos de comunicação imediata como Raimundos, naquela fórmula rock + hormônios adolescentes + piadinhas.
Em pique outro, mas equivalente, a cantora pop-romântica-dançante Cidália Castro começa diluindo a obscura "Lábios de Mel" (79), do repertório de Tim Maia, com resultados ainda indefinidos.
Do outro lado da ponte aérea, a Net Records investe em novos nomes qualificados pela proposta de adicionar novos elementos ao puído tecido da MPB.
Primeiro, há o já conhecido Karnak, que ainda procura em "Estamos Adorando Tokio" equacionar as referências de pop nacional e world music. Nota curiosa fica por conta da regravação de "Nuvem Passageira", do brega-pop dos 70 Hermes Aquino.
Vulgue Tostoi se destaca dentro de um formato de rock'n'roll contaminado por interferências aprendidas na cultura eletrônica, obtendo efeitos como "vocodizar" e desconstruir "Vapor Barato" (71), do repertório clássico de Gal Costa, ou acelerar os beats da balada climática "Deleta".
A dupla paulista Autoload se destaca elaborando caldeira antropofágica de citação a Tom Zé e Belchior, crítica à axé music ("você pensa que sou menos brasileiro/ porque odeio ouvir axé o ano inteiro?") e fusão de dicções do rap e do drum'n'bass. O resultado é original, no mínimo.
A carioca Katia B, por sua vez, contribui com seu consistente álbum lançado no ano passado, de MPB de voz cândida e produção eletronizada, que contou com a presença do produtor iugoslavo-brasileiro Suba (1961-99). Katia faz show único hoje, às 20h, em São Paulo, no Sesc Vila Mariana.
Juntos, Katia, Vulgue e Autoload conformam contribuições efetivas e promissoras ao prosseguimento do pop brasileiro como algo além do mero mercado. Alô, gravadoras-dinossauros, tchau e boa-noite.
(PAS)
São Paulo comercializa, Rio de Janeiro oferece arte pop
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Tradicional reduto vanguardista, São Paulo inverte os sinais neste momento em que os conceitos de gravadora e Internet começam a se interpenetrar para variar sem participação ativa dos dinossauros da indústria.
A iniciativa paulista do Estilingue se divide em dois pesos, duas medidas: por um lado, o banco de dados de novos artistas que aí se está criando é valioso e preenche mais um dos inúmeros vácuos que as grandes gravadoras tinham a obrigação de não deixar existir. É iniciativa fundamental, já passava da hora.
No segundo prato da balança, estão as bandas paulistanas Raskafari e Mada Foca, as primeiras bandas bancadas pelo selo Estilingue. A aposta é, exclusivamente, no imediatamente vendável.
Pela amostra até agora oferecida, as duas bandas seguem a cartilha de clonar grupos de comunicação imediata como Raimundos, naquela fórmula rock + hormônios adolescentes + piadinhas.
Em pique outro, mas equivalente, a cantora pop-romântica-dançante Cidália Castro começa diluindo a obscura "Lábios de Mel" (79), do repertório de Tim Maia, com resultados ainda indefinidos.
Do outro lado da ponte aérea, a Net Records investe em novos nomes qualificados pela proposta de adicionar novos elementos ao puído tecido da MPB.
Primeiro, há o já conhecido Karnak, que ainda procura em "Estamos Adorando Tokio" equacionar as referências de pop nacional e world music. Nota curiosa fica por conta da regravação de "Nuvem Passageira", do brega-pop dos 70 Hermes Aquino.
Vulgue Tostoi se destaca dentro de um formato de rock'n'roll contaminado por interferências aprendidas na cultura eletrônica, obtendo efeitos como "vocodizar" e desconstruir "Vapor Barato" (71), do repertório clássico de Gal Costa, ou acelerar os beats da balada climática "Deleta".
A dupla paulista Autoload se destaca elaborando caldeira antropofágica de citação a Tom Zé e Belchior, crítica à axé music ("você pensa que sou menos brasileiro/ porque odeio ouvir axé o ano inteiro?") e fusão de dicções do rap e do drum'n'bass. O resultado é original, no mínimo.
A carioca Katia B, por sua vez, contribui com seu consistente álbum lançado no ano passado, de MPB de voz cândida e produção eletronizada, que contou com a presença do produtor iugoslavo-brasileiro Suba (1961-99). Katia faz show único hoje, às 20h, em São Paulo, no Sesc Vila Mariana.
Juntos, Katia, Vulgue e Autoload conformam contribuições efetivas e promissoras ao prosseguimento do pop brasileiro como algo além do mero mercado. Alô, gravadoras-dinossauros, tchau e boa-noite.
(PAS)
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