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24/10/2006 - 09h59

"Como Eu Festejei o Fim do Mundo" mostra ditador romeno com humor

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SÉRGIO RIZZO
da Folha de S.Paulo

Retratos do ditador romeno Nicolae Ceausescu (1918-1989) aparecem em ambiente escolar, como um Big Brother à espreita de crianças e jovens, no início de "Como Eu Festejei o Fim do Mundo". São imagens de um Ceausescu jovial, a sugerir que ainda se vive o início de seu período sangrento no governo.

Pura ilusão, logo desfeita: estamos em 1989, o derradeiro dos quase 25 anos em que ele impôs ao país seu regime de terror. O próprio ditador já era um decrépito incapaz de notar que o barco afundava. Os usos e costumes, no entanto, ainda ecoavam os velhos tempos.

Em seu primeiro longa-metragem como diretor, chancelado por Martin Scorsese e Wim Wenders como produtores executivos, o romeno Catalin Mitulescu (que ganhou a Palma de Ouro em Cannes com o curta "Trafic", em 2004) faz a anatomia da derrocada de Ceausescu, mas da perspectiva de uma criança, Lalalilu (Timotei Duma), e de sua irmã mais velha, Eva (Doroteea Petre).

Ambos freqüentam uma escola cujo ambiente autoritário procura reproduzir os valores do regime. A "camarada professora" se impõe aos alunos como se fosse um delegado do Partido Comunista, e os jovens, estimulados a delatar e a perseguir colegas, banem Eva por causa de um episódio acidental de afronta simbólica ao poder.

Em uma aula de música, adolescentes se preparam para uma cerimônia oficial e ensaiam uma canção cujos primeiros versos falam que "nosso país é nosso". Naquele momento, parece ironia. Mais um pouco, no entanto, e a letra vai adquirir caráter profético, devidamente trabalhado pelo filme. Ao examinar como o germe da ditadura encontra na escola um ambiente amplamente favorável à sua reprodução, Mitulescu se aproxima do albanês "Slogans" (2001), de Gjerji Xhuvani, abordagem bem-humorada do culto à figura de Enver Hoxha (1908-1985), que governou a Albânia com mão de ferro durante 40 anos.

"Como Eu Festejei o Fim do Mundo" também encontra no humor a alternativa para tornar mais leve (e palatável a um público mais amplo) a leitura do contexto político. Lalalilu, seu dente de leite (destinado a lhe dar sorte em momento crucial da história) e os dois companheiros de travessuras estão ali para criar um tom onírico.

Eva tem outra função: vítima do estado de coisas, tanto na escola quanto em casa, ela incorpora a consciência política em formação --alterna a companhia de dois jovens que buscam modos de afrontar o sistema, cada um à sua maneira-- e o desejo de tocar a vida em outro quadrante. Não é ocasional que, entre as metáforas usadas por Mitulescu, as principais se refiram a meios de transporte: o trilho de trem que passa à margem de todos; uma carcaça de automóvel que leva seus passageiros a viagens imaginárias a outros países; e, por fim, um navio em alto-mar, símbolo de um tempo em que a palavra liberdade volta ao dicionário.

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