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09/11/2006
-
09h40
RAFAEL CARIELLO
da Folha de S.Paulo
Para Walnice Nogueira Galvão, professora titular de literatura da USP, a grandeza e a inovação representadas por "Formação da Literatura Brasileira" estão no fato de Antonio Candido ter apresentado tanto o Brasil quanto a literatura brasileira não como entidades prontas, dadas, que teriam sempre existido --ou, ao menos, desde Cabral--, mas como "duas coisas que se constituíram".
É da articulação dessas duas constituições --para ela projetos da elite brasileira, tanto o Estado como a literatura nacional-- que Candido deriva seu modelo.
Walnice afirma que a literatura brasileira é apresentada por Candido como "um projeto da elite", mas que também existe, em parte, independentemente dela. "É e não é, ao mesmo tempo, autônoma".
"O que havia de inovador é isso: que ele pensava o Brasil e sua literatura como processos. Ninguém até então tinha pensado a construção da literatura e do país dessa maneira", afirma Walnice.
Alcir Pécora, professor de teoria literária da Unicamp, diz que "Formação da Literatura Brasileira" ainda é o principal modelo utilizado no país para pensar o conjunto histórico da literatura brasileira.
Quase 50 anos depois, ele diz, "ainda é o estudo que tem a maior amplitude e que é o mais aplicado". "O modelo é muito consistente em sua formulação e consegue dar conta de muita coisa. É abrangente e, ao mesmo tempo, dá conta de muitas obras particulares", afirma.
O professor da Unicamp, no entanto, lembra que duas críticas são possíveis a esse modelo.
A primeira é de que ele é "pouco aplicável a alguns objetos", a algumas obras que se encontram fora do viés e do período privilegiado por Candido --e aí se inclui boa parte da produção feita na América portuguesa no período colonial, anterior, portanto, ao processo de constituição do "sistema".
O outro ponto problemático, nos dias que correm, é a crítica constante quanto a qualquer possibilidade de narrativa histórica. Modelos, para a crítica contemporânea, ele diz, parecem não dar conta da "multiplicidade, dos acasos", da contingencialidade das obras.
Esta, no entanto, não é uma crítica específica a Candido, mas a toda tentativa de sistematização e de dar "sentido" à história. "Como criticar o que não tem lei?", pergunta Pécora.
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Para Walnice Nogueira Galvão, professora titular de literatura da USP, a grandeza e a inovação representadas por "Formação da Literatura Brasileira" estão no fato de Antonio Candido ter apresentado tanto o Brasil quanto a literatura brasileira não como entidades prontas, dadas, que teriam sempre existido --ou, ao menos, desde Cabral--, mas como "duas coisas que se constituíram".
É da articulação dessas duas constituições --para ela projetos da elite brasileira, tanto o Estado como a literatura nacional-- que Candido deriva seu modelo.
Walnice afirma que a literatura brasileira é apresentada por Candido como "um projeto da elite", mas que também existe, em parte, independentemente dela. "É e não é, ao mesmo tempo, autônoma".
"O que havia de inovador é isso: que ele pensava o Brasil e sua literatura como processos. Ninguém até então tinha pensado a construção da literatura e do país dessa maneira", afirma Walnice.
Alcir Pécora, professor de teoria literária da Unicamp, diz que "Formação da Literatura Brasileira" ainda é o principal modelo utilizado no país para pensar o conjunto histórico da literatura brasileira.
Quase 50 anos depois, ele diz, "ainda é o estudo que tem a maior amplitude e que é o mais aplicado". "O modelo é muito consistente em sua formulação e consegue dar conta de muita coisa. É abrangente e, ao mesmo tempo, dá conta de muitas obras particulares", afirma.
O professor da Unicamp, no entanto, lembra que duas críticas são possíveis a esse modelo.
A primeira é de que ele é "pouco aplicável a alguns objetos", a algumas obras que se encontram fora do viés e do período privilegiado por Candido --e aí se inclui boa parte da produção feita na América portuguesa no período colonial, anterior, portanto, ao processo de constituição do "sistema".
O outro ponto problemático, nos dias que correm, é a crítica constante quanto a qualquer possibilidade de narrativa histórica. Modelos, para a crítica contemporânea, ele diz, parecem não dar conta da "multiplicidade, dos acasos", da contingencialidade das obras.
Esta, no entanto, não é uma crítica específica a Candido, mas a toda tentativa de sistematização e de dar "sentido" à história. "Como criticar o que não tem lei?", pergunta Pécora.
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