Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
08/12/2006 - 10h52

Arnaldo Jabor prepara romance e diz que volta a filmar

Publicidade

INÁCIO ARAUJO
Crítico da Folha de S.Paulo
RAFAEL CARIELLO
da Folha de S.Paulo

Arnaldo Jabor era colega no serviço militar obrigatório de Joffre Rodrigues, filho de Nelson. Foi então, com 18 anos, que conheceu o dramaturgo, que se tornaria uma espécie de pai intelectual e influência decisiva para o futuro diretor de "Toda Nudez Será Castigada".

"O Nelson Rodrigues ia buscar o filho de carro no Exército, com motorista, e me dava carona. Lembro da primeira frase que disse para mim: "O prazer estético é igual ao orgasmo de uma cutia no Campo de Santana'", conta Jabor.

Prestes a completar 66, o cineasta ainda não se cansou de procurar esse prazer. Prepara um romance --o título provisório, em inglês, é "The Speaker"-- e se anuncia disposto a voltar a filmar.

Divulgação
Arnaldo Jabor voltará a filmar
Arnaldo Jabor voltará a filmar
"Argumento, eu já tenho." A idéia, diz Jabor, é fazer uma obra "meio proustiana", "meio o "Amarcord'", de Fellini. Ou seja, "lembranças infantis". Fellini é, por sinal, outra referência central na formação de Jabor. Desde a juventude se desentendia com os amigos comunistas. "Como é que você gosta daquele pequeno burguês?". Algumas dessas lembranças já estão escritas. "É sobre a formação sexual de garotos de 12 anos há 40 anos atrás, por exemplo. Tem muita coisa engraçada. O que eu não tenho mais saco é "princípio, meio e fim". Eu quero fazer um filme feito o Fellini fazia."

Jabor diz que já há "gente querendo produzir", mas por ora se ocupa exclusivamente do livro. "É uma espécie de épico individual. Um narrador que tenta uma transcendência qualquer, uma grandeza. Como um quixote. É um pouco a minha cabeça. Tentando encontrar uma grandeza qualquer na vida, e sempre rechaçado", diz.

Duas "transcendências" que o próprio Jabor atingiu durante sua carreira voltam aos cinemas hoje, em São Paulo, Rio e Porto Alegre: os filmes "Tudo Bem", de 1978, que ele qualifica como sua melhor obra, e "Eu Sei que Vou Te Amar", de 1986.

Ao mesmo tempo, foi lançada nesta semana uma caixa de DVDs com todos os longa-metragens do cineasta, pela distribuidora Versátil. São "oito filmes e meio", diz Jabor, lembrando o número felliniano.

É ao comentar "Tudo Bem", filme em que operários-biscateiros se instalam num apartamento de classe média decadente do Rio em razão de uma obra que nunca termina, que Jabor traça diferenças entre o cinema e o Brasil das décadas de 60 e 70 e dos dias atuais.

O que há de ambicioso e alegórico naquele filme --aquele apartamento, afinal, era o Brasil-- e em outras produções da época, parece em alguns momentos quase incompreensível nos dias de hoje.

"Passei numa cabine o "Tudo Bem", e escapou de alguns essa coisa alegórica. Que o que acontecia ali se referia também a coisas que estavam fora dali, da tela. Fora do filme", diz Jabor. "Isso desapareceu um pouco. Agora a coisa é a coisa mesmo. O filme é só o que está no filme. As relações não têm nenhum caráter transcendental nem remetem a nada fora."

Também as relações de classe, conflituosas, certamente, mas com traços então de, digamos, cordialidade, se modificaram. "A visão da miséria nos comovia mais, talvez. A desgraça está tão geral que a gente perdeu um pouco da compaixão. No resto, o filme é atual. Todo esse beco sem saída está lá. Não há solução para este país. O Brasil é uma sinuca de bico."

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre Arnaldo Jabor
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página