Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
05/03/2007 - 12h20

Filme japonês gera polêmica ao homenagear camicases

Publicidade

PIER LUIGI ZANATTA
da Ansa, em Tóquio

Um filme japonês baseado nas experiências de um grupo de pilotos camicase exalta pela primeira vez, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, o papel desses aviadores, elevando-os à categoria de heróis exemplares ao ponto de fazer uma vulgar apologia do renascente militarismo no país.

O filme, que deverá se chamar "Vou Morrer por Você", foi escrito e produzido pelo governador de Tóquio, o populista Shintaro Ishihara, e sua estréia está prevista para este ano.

Uma apresentação de pré-estréia programada para a imprensa gerou as primeiras polêmicas, que prometem estender-se além dos limites do Japão, em pleno debate sobre uma reforma da sua constituição pacifista pós-guerra.

O atual premiê japonês, Shinzo Abe, pretende, desde sua ascensão em setembro 2006, revisar a constituição pacifista, redigida durante a ocupação norte-americana no fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

A Constituição de 1947 proíbe que o Japão use forças militares em disputas internacionais e apenas as autoriza em caso de auto-defesa. Foi por isso que a participação do Japão na coalizão que ocupa o Iraque precisou de uma lei, cuja constitucionalidade foi posta em dúvida, mesmo com um discurso oficial de que o contingente nipônico realiza apenas tarefas humanitárias.

História

O filme foi dirigido por Taku Shinjo com o roteiro de Ishihara, que atualmente tem 74 anos e é um ex-produtor cinematográfico.

A trama conta as peripécias de um grupo de "tokkotai", os pilotos suicidas que no fim de 1944 foram a ferramenta dos militares japoneses em uma tentativa desesperada de mudar a sorte da guerra ou, pelo menos, frear o avanço dos aliados após a queda das Filipinas.

Repleta de exclamações e gestos enfáticos, entre os quais se destaca o suicídio de um comandante ao final da guerra, a produção mostra os pilotos como heróis, inseguros apenas com a questão: "é mais justo morrer pela família ou pelo imperador Hirohito?".

Um dos pilotos que consegue voltar vivo das missões, por problemas meteorológicos, é castigado com golpes e insultado, e pensa apenas na melhor ocasião de "se redimir com a morte".

Os juramentos antes da missão final são firmados com sangue --até as mulheres que costuram as bandanas dos suicidas com o símbolo do Sol Nascente se cortam para aderir "aos pactos".

Em contrapartida, a aeronáutica dos Estados Unidos é apresentada, com traços grossos, como uma assassina de inocentes.

Outras cenas que seguramente atrairão críticas são as ambientadas no pós-guerra. "'Frente à ofensiva da invasão, devemos concentrarmos na dignidade da derrota", diz um dos personagens.

Também se fala em repetidas ocasiões sobre o santuário de Yasukuni, um local de culto sintoísta, que contém um memorial com os quase dois milhões e meio de soldados japoneses, coreanos e taiwaneses do exército imperial mortos em conflitos bélicos, entre eles 14 criminosos de guerra condenados.

A realização do filme, que foi rodado em um ano, custou cerca de 120 milhões de euros.

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre kamikazes
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página