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26/03/2007
-
18h02
LUCIE GODEAU
da France Presse, em Londres
Uma exposição em Londres pelo bicentenário da abolição da escravatura na Inglaterra evidencia como um hábito nacional britânico, como tomar chá, influenciou no tráfico de escravos.
O Victoria and Albert Museum de Londres propõe um itinerário pelas coleções de arte decorativa para descobrir o nascimento da cultura do chá e sua importância para o império inglês nos séculos 17 e 18.
Um quadro do século 18, de Richard Collins, "Family of Three at Tea" (Família de três na hora do chá), mostra o elevado status social que este costume relativamente novo na época simbolizava.
"Tomar chá era uma ocupação tão importante que se desejava ser pintado assim", explica à France Presse Christopher Maxwell, comissário adjunto do departamento de coleções de cerâmicas e similares do museu. No entanto, esta forma de viver tipicamente britânica não teria prosperado sem o comércio de escravos, acrescenta.
"A cultura do chá foi introduzida na corte da Inglaterra por Catalina de Bragança, a rainha de Carlos 2º, a partir de 1660; A princípio, se consumia tanto chá verde quanto chá fermentado
preto, mas o preto se tornou rapidamente o favorito e se bebia com açúcar", conta.
O chá era importado da Índia pelo monopólio da East India Company e, embora esta companhia não estivesse implicada diretamente no tráfico de escravos, suas exportações de algodão asiático até a África alimentava o comércio triangular.
O comércio de escravos propriamente dito era praticado pela South Sea Company, que tinha o monopólio com a América do Sul, e logo por mercadores privados, que exportavam para a Europa algodão, café e, principalmente, o açúcar de cana colhido pelos escravos nas plantações do Caribe.
"O gosto dos ingleses pelo açúcar --que eram, ao final do século 18, os maiores exportadores de cana-- alimentava o comércio de escravos", relata Maxwell. À medida que sua potência naval e suas colônias progrediram, o império britânico se tornou o principal ator do comércio de escravos na Europa e se enriqueceu graças a seus monopólios.
"Até 1780 era cobrado um imposto de 100% sobre o chá", que se tornou caro, e "muito era importado ilegalmente". "Se você tinha chá legal, tinha que mostrá-lo", explica. Desta época, datam as caixas de prata, expostas no museu, para conservar o chá, e as xícaras minúsculas que ilustram o preço alto da bebida.
Mas os amantes do chá inglês contribuíram também para a abolição do tráfico de escravos. Um boicote ao açúcar de cana do Caribe produzido devido à escravidão, amplamente apoiado ao final do século 18, paralelamente às campanhas abolicionistas, levou à supressão, em 25 de março de 1807, da escravidão no império.
Nas coleções do museu, um pote de vidro azul datado de 1800 leva a inscrição "Açúcar da Índia oriental não produzido por escravos", que evoca aquele primeiro movimento dos consumidores.
Especial
Leia o que já foi publicado sobre o Victoria and Albert Museum
Exposição em Londres traça paralelo entre consumo de chá e escravidão
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da France Presse, em Londres
Uma exposição em Londres pelo bicentenário da abolição da escravatura na Inglaterra evidencia como um hábito nacional britânico, como tomar chá, influenciou no tráfico de escravos.
O Victoria and Albert Museum de Londres propõe um itinerário pelas coleções de arte decorativa para descobrir o nascimento da cultura do chá e sua importância para o império inglês nos séculos 17 e 18.
Um quadro do século 18, de Richard Collins, "Family of Three at Tea" (Família de três na hora do chá), mostra o elevado status social que este costume relativamente novo na época simbolizava.
Reprodução |
Quadro do sec. 18 de Richard Collins, "Family of Three at Tea", mostra elevado status social |
"A cultura do chá foi introduzida na corte da Inglaterra por Catalina de Bragança, a rainha de Carlos 2º, a partir de 1660; A princípio, se consumia tanto chá verde quanto chá fermentado
preto, mas o preto se tornou rapidamente o favorito e se bebia com açúcar", conta.
O chá era importado da Índia pelo monopólio da East India Company e, embora esta companhia não estivesse implicada diretamente no tráfico de escravos, suas exportações de algodão asiático até a África alimentava o comércio triangular.
O comércio de escravos propriamente dito era praticado pela South Sea Company, que tinha o monopólio com a América do Sul, e logo por mercadores privados, que exportavam para a Europa algodão, café e, principalmente, o açúcar de cana colhido pelos escravos nas plantações do Caribe.
"O gosto dos ingleses pelo açúcar --que eram, ao final do século 18, os maiores exportadores de cana-- alimentava o comércio de escravos", relata Maxwell. À medida que sua potência naval e suas colônias progrediram, o império britânico se tornou o principal ator do comércio de escravos na Europa e se enriqueceu graças a seus monopólios.
"Até 1780 era cobrado um imposto de 100% sobre o chá", que se tornou caro, e "muito era importado ilegalmente". "Se você tinha chá legal, tinha que mostrá-lo", explica. Desta época, datam as caixas de prata, expostas no museu, para conservar o chá, e as xícaras minúsculas que ilustram o preço alto da bebida.
Mas os amantes do chá inglês contribuíram também para a abolição do tráfico de escravos. Um boicote ao açúcar de cana do Caribe produzido devido à escravidão, amplamente apoiado ao final do século 18, paralelamente às campanhas abolicionistas, levou à supressão, em 25 de março de 1807, da escravidão no império.
Nas coleções do museu, um pote de vidro azul datado de 1800 leva a inscrição "Açúcar da Índia oriental não produzido por escravos", que evoca aquele primeiro movimento dos consumidores.
Especial
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