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30/11/2000
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04h44
LAURA MATTOS, da Folha de S.Paulo
Só fogos de artifício. Muito glamour e orgulho de ter "uma das melhores televisões do mundo". Em 2000, a TV brasileira não se cansou de comemorar seus 50 anos. No próximo dia 5, no entanto, os convidados da festa terão de parar um pouco de beber champanhe e dar atenção a uma visão crítica da história da televisão.
Serão lançados, no Espaço Unibanco de Cinema, um livro e um documentário de longa-metragem sobre a presença dos negros nas novelas brasileiras. O livro, "A Negação do Brasil - O Negro na Telenovela Brasileira", e o filme, "A Negação do Brasil", resultam da tese de doutorado que Joel Zito Araújo, 46, fez no Núcleo de Pesquisa de Telenovela da Escola de Comunicações e Artes da USP.
Por cinco anos, o autor se transformou em um incansável "noveleiro" e fez o levantamento da participação de atores e atrizes negros em 174 novelas produzidas entre 64 e 97, pela Globo e Tupi.
Depois de "garimpar" informações nos arquivos da Globo, da Cinemateca, com autores, diretores e atores, Araújo pôde concluir: "Quando a novela não é temática sobre escravidão, em que o negro obviamente faz papel de escravo, ele interpreta empregados, motoristas, porteiros".
Mas esse não é o ponto forte da análise, principalmente porque a justificativa é a de que as novelas retratariam a situação dos negros no país. O importante para Araújo é que o papel do negro, qualquer que seja, raramente tem destaque na trama. "A empregada doméstica pode até ser engraçada, mas nunca tem uma história própria. Seu papel é apoiar os personagens brancos."
Mulato, o documentarista e escritor usou sua própria vida como fio condutor do documentário. "Percebi que as novelas provocaram em mim o desejo de ser branco e uma certa tendência de negar minha origem negra, e é isso o que ocorre com todos da raça negra. As novelas, que têm enorme importância em nossa cultura, podem ter tido um impacto forte (e negativo) na identidade dos negros, já que têm pacto com a ideologia do "branqueamento" e com o mito da democracia racial."
Araújo diz que os primeiros anos da década de 90 apontavam para uma melhora. Ele cita momentos importantes na discussão do preconceito, como a novela "Por Amor", de Manoel Carlos, exibida na Globo em 1997.
Na trama, a atriz negra Maria Ceiça interpretava uma artista plástica casada com um branco. O marido não queria ter um filho com ela, temendo que a criança nascesse negra.
"Hoje, sinto que existe um retrocesso na questão da abordagem racial. Achei que chegaríamos à virada do século com mais atores negros em papéis de destaque. Mas a telenovela está muito presa às formulas de sucesso e começa a perder a capacidade de dialogar com questões importantes no país e trazer temas novos para a cultura."
Mesmo sabendo da crítica, a Globo apoiou esse trabalho e se diz preocupada com a questão.
Livro: A Negação do Brasil - O Negro na Telenovela Brasileira Autor: Joel Zito Araújo
Editora: Senac
Quanto: R$ 28 (323 págs.)
Lançamento: dia 5, às 19h30, no Espaço Unibanco de Cinema (r. Augusta, 1.470, São Paulo). Haverá exibição do documentário às 21h30
"A Negação do Brasil" discute participação dos negros na TV
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Só fogos de artifício. Muito glamour e orgulho de ter "uma das melhores televisões do mundo". Em 2000, a TV brasileira não se cansou de comemorar seus 50 anos. No próximo dia 5, no entanto, os convidados da festa terão de parar um pouco de beber champanhe e dar atenção a uma visão crítica da história da televisão.
Serão lançados, no Espaço Unibanco de Cinema, um livro e um documentário de longa-metragem sobre a presença dos negros nas novelas brasileiras. O livro, "A Negação do Brasil - O Negro na Telenovela Brasileira", e o filme, "A Negação do Brasil", resultam da tese de doutorado que Joel Zito Araújo, 46, fez no Núcleo de Pesquisa de Telenovela da Escola de Comunicações e Artes da USP.
Por cinco anos, o autor se transformou em um incansável "noveleiro" e fez o levantamento da participação de atores e atrizes negros em 174 novelas produzidas entre 64 e 97, pela Globo e Tupi.
Depois de "garimpar" informações nos arquivos da Globo, da Cinemateca, com autores, diretores e atores, Araújo pôde concluir: "Quando a novela não é temática sobre escravidão, em que o negro obviamente faz papel de escravo, ele interpreta empregados, motoristas, porteiros".
Mas esse não é o ponto forte da análise, principalmente porque a justificativa é a de que as novelas retratariam a situação dos negros no país. O importante para Araújo é que o papel do negro, qualquer que seja, raramente tem destaque na trama. "A empregada doméstica pode até ser engraçada, mas nunca tem uma história própria. Seu papel é apoiar os personagens brancos."
Mulato, o documentarista e escritor usou sua própria vida como fio condutor do documentário. "Percebi que as novelas provocaram em mim o desejo de ser branco e uma certa tendência de negar minha origem negra, e é isso o que ocorre com todos da raça negra. As novelas, que têm enorme importância em nossa cultura, podem ter tido um impacto forte (e negativo) na identidade dos negros, já que têm pacto com a ideologia do "branqueamento" e com o mito da democracia racial."
Araújo diz que os primeiros anos da década de 90 apontavam para uma melhora. Ele cita momentos importantes na discussão do preconceito, como a novela "Por Amor", de Manoel Carlos, exibida na Globo em 1997.
Na trama, a atriz negra Maria Ceiça interpretava uma artista plástica casada com um branco. O marido não queria ter um filho com ela, temendo que a criança nascesse negra.
"Hoje, sinto que existe um retrocesso na questão da abordagem racial. Achei que chegaríamos à virada do século com mais atores negros em papéis de destaque. Mas a telenovela está muito presa às formulas de sucesso e começa a perder a capacidade de dialogar com questões importantes no país e trazer temas novos para a cultura."
Mesmo sabendo da crítica, a Globo apoiou esse trabalho e se diz preocupada com a questão.
Livro: A Negação do Brasil - O Negro na Telenovela Brasileira Autor: Joel Zito Araújo
Editora: Senac
Quanto: R$ 28 (323 págs.)
Lançamento: dia 5, às 19h30, no Espaço Unibanco de Cinema (r. Augusta, 1.470, São Paulo). Haverá exibição do documentário às 21h30
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