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22/12/2000 - 08h07

Crítica: "Fuga das Galinhas" encanta por imitar o mundo humano

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INÁCIO ARAUJO
Crítico de Cinema da Folha

O que vemos no início de "Fuga das Galinhas" será mesmo a granja Tweedy's? E será que é mesmo uma galinha que cava um buraco para escapar, passando sob a grade de ferro?

Sim e não. Porque ao mesmo tempo que desfilam sob os olhos do espectador essas imagens de animação criadas por Nick Park e Peter Lord (cinco Oscar na carreira, somados os dois), vemos ao mesmo tempo um campo de extermínio típico da Segunda Guerra. É a isso que nos remetem os galpões soturnos, os cães ameaçadores, as grades opressivas.

Assim, estamos diante de Ginger, a líder das galinhas poedeiras, disposta a escapar dali com suas companheiras antes que, extenuada sua capacidade produtiva, sejam transformadas em tortas.

Na prática, vemos uma história de campo de concentração adaptada para o gosto infantil. E na realidade é com filmes dos anos 50/60 que dialoga. É a eles também que o espectador é remetido.

Existe um fascínio seguro nessas figuras de animação. Ao contrário das do passado, elas não criam um mundo fechado, de seres imaginários.

Ginger e suas companheiras imitam em tudo e por tudo o mundo dos humanos. Seus sentimentos, fraquezas, temores ou heroísmo poderiam ser representados -com ligeiras adaptações- por atores de carne e osso. Mas como são figuras de animação permanecem suspensas entre ser e não ser, entre a fantasia da animação e a realidade da ficção representada pelos humanos.

São ambas as coisas, não é nenhuma delas. São, em suma, dotadas de uma ambiguidade diabólica -e talvez seja daí que provém boa parte de seu encanto.

Em parte, o encanto provém de sua capacidade de dialogar com o cinema contemporâneo -ao menos o que se produz em Hollywood. Porque esse cinema oscila da paródia ao simulacro e não se envergonha de propor imagens inverossímeis, na melhor das hipóteses -ou inverídicas, na pior- como reais.

Uma delas é a de um presidente dos EUA pendurado por uma corda, voando atrás de um avião (Harrison Ford em "Força Aérea Um"). "Fuga das Galinhas" retomará essa cena: um personagem se verá em idêntica situação.

O espectador estará no direito de perguntar, ao vê-la: qual a mais real? É a segunda, a de "Fuga das Galinhas". É a da animação, que questiona a primeira, e que põe ordem no galinheiro, como a lembrar que o fantástico pertence ao mundo da ambiguidade, e não ao da arbitrariedade.

"Fuga das Galinhas", embora seja um filme infantil, pode perfeitamente interessar aos adultos. É bem mais adulto que a média da produção hollywoodiana recente.

A Fuga das Galinhas (Chicken Run)
Direção: Nick Park e Peter Lord
Produção: EUA, 2000
Quando: a partir de hoje nos cines Anália Franco, Center Penha, Espaço Unibanco, Gemini, Jardim Sul, Metrô Tatuapé e circuito
 

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