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08/11/2000
-
04h42
da Folha de S.Paulo
Folha - A Internet seria uma das causas do desemprego, ao substituir, em parte, o trabalho humano?
Kurz - O comércio eletrônico pode produzir, nos próximos anos, um novo tipo de desemprego. Isso porque o B2B (em inglês, sigla para "business-to-business", negócios entre empresas) torna supérfluos setores inteiros de compras e administração, que ainda não haviam sido afetados pela racionalização microeletrônica. Muitas estruturas comerciais intermediárias são extintas. Por sua vez, as empresas na própria Internet geram pouquíssimos postos de trabalho em relação aos milhões que se tornam supérfluos.
Folha - Qual sua expectativa para quem migra agora para a Internet?
Kurz - O comércio eletrônico constitui uma segunda fase do cassino-capitalismo especulativo. As inúmeras pequenas empresas de Internet, que nos últimos dois anos entraram na bolsa, jamais terão lucros reais. O capital é apenas "queimado" para obter lucros com a elevação especulativa das cotações das ações. Se a relação entre a cotação das ações e os lucros reais na indústria tradicional é de cerca de 30 para 1 -duas vezes mais que a média histórica-, nas empresas de Internet, ela é de 200 para 1 ou de 300 para 1. Esta inflação dos valores das ações é a única diferença econômica entre as empresas tradicionais e as empresas de Internet. O capitalismo-Internet é o centro da "exuberância irracional" sobre a qual Alan Greenspan nos adverte há anos.
Folha - Por que o senhor acredita que o retorno esperado para a UMTS, futura rede de telefonia celular européia, com acesso à Internet, não justificaria os enormes investimentos das empresas?
Kurz - O fim do boom especulativo faz-se anunciar também pela tecnologia UMTS (sigla para sistema universal de telecomunicação móvel). Os investimentos em licenças, tecnologia e infra-estrutura já ultrapassam os lucros especulativos esperados. As empresas envolvidas em UMTS devem, portanto, "queimar" em investimentos um capital maior que os lucros reais e especulativos que um dia poderão ter. Já começou na Alemanha, após o leilão das licenças, a grande ressaca. As grandes teles vão ao governo pedir a devolução do dinheiro que este planejou aplicar de outro modo. Isto mostra como se age de forma irracional e nada profissional.
Folha - O senhor costuma acessar a Internet e usar e-mail?
Kurz - Uso a Internet para enviar e-mails, travar discussões teóricas ou, por exemplo, procurar e comprar livros usados. Até o momento, não tenho uma conexão particular, porque temo ser inundado por um lixo de informações. Atualmente, a universalidade da rede serve menos à comunicação intelectual do que à proliferação de tagarelices pós-modernas sem sentido. A Internet ainda está longe daquilo que poderia ser como mídia de oposição.
Robert Kurz diz que rede cria novo desemprego
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Folha - A Internet seria uma das causas do desemprego, ao substituir, em parte, o trabalho humano?
Kurz - O comércio eletrônico pode produzir, nos próximos anos, um novo tipo de desemprego. Isso porque o B2B (em inglês, sigla para "business-to-business", negócios entre empresas) torna supérfluos setores inteiros de compras e administração, que ainda não haviam sido afetados pela racionalização microeletrônica. Muitas estruturas comerciais intermediárias são extintas. Por sua vez, as empresas na própria Internet geram pouquíssimos postos de trabalho em relação aos milhões que se tornam supérfluos.
Folha - Qual sua expectativa para quem migra agora para a Internet?
Kurz - O comércio eletrônico constitui uma segunda fase do cassino-capitalismo especulativo. As inúmeras pequenas empresas de Internet, que nos últimos dois anos entraram na bolsa, jamais terão lucros reais. O capital é apenas "queimado" para obter lucros com a elevação especulativa das cotações das ações. Se a relação entre a cotação das ações e os lucros reais na indústria tradicional é de cerca de 30 para 1 -duas vezes mais que a média histórica-, nas empresas de Internet, ela é de 200 para 1 ou de 300 para 1. Esta inflação dos valores das ações é a única diferença econômica entre as empresas tradicionais e as empresas de Internet. O capitalismo-Internet é o centro da "exuberância irracional" sobre a qual Alan Greenspan nos adverte há anos.
Folha - Por que o senhor acredita que o retorno esperado para a UMTS, futura rede de telefonia celular européia, com acesso à Internet, não justificaria os enormes investimentos das empresas?
Kurz - O fim do boom especulativo faz-se anunciar também pela tecnologia UMTS (sigla para sistema universal de telecomunicação móvel). Os investimentos em licenças, tecnologia e infra-estrutura já ultrapassam os lucros especulativos esperados. As empresas envolvidas em UMTS devem, portanto, "queimar" em investimentos um capital maior que os lucros reais e especulativos que um dia poderão ter. Já começou na Alemanha, após o leilão das licenças, a grande ressaca. As grandes teles vão ao governo pedir a devolução do dinheiro que este planejou aplicar de outro modo. Isto mostra como se age de forma irracional e nada profissional.
Folha - O senhor costuma acessar a Internet e usar e-mail?
Kurz - Uso a Internet para enviar e-mails, travar discussões teóricas ou, por exemplo, procurar e comprar livros usados. Até o momento, não tenho uma conexão particular, porque temo ser inundado por um lixo de informações. Atualmente, a universalidade da rede serve menos à comunicação intelectual do que à proliferação de tagarelices pós-modernas sem sentido. A Internet ainda está longe daquilo que poderia ser como mídia de oposição.
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