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03/12/2006 - 18h17

Pinochet, o homem mais temido do Chile, pode escapar da Justiça

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da France Presse, em Santiago

O ex-ditador Augusto Pinochet, que foi na sua época o homem mais temido do Chile e neste domingo foi hospitalizado em estado grave após sofrer um ataque cardíaco, pode terminar sua vida sem chegar a ser condenado, apesar dos múltiplos processos abertos contra ele nos tribunais.

Em 1973, uma foto em preto e branco do general, então com 57 anos --ele nasceu em 25 de novembro de 1915, em Valparaíso--, circulou pelo mundo inteiro: sentado, com óculos pretos, os braços cruzados, o militar que aniquilou o governo de esquerda de Salvador Allende e bloqueou "a via chilena para o socialismo", entrava na história como o arquétipo do tirano latino-americano.

Era a época da Guerra Fria entre os Estados Unidos e a então União Soviética. Na América Latina, Cuba apoiava as guerrilhas. Os EUA, que tentaram em 1961 derrocar Fidel Castro, preocupavam-se com a vitória do socialista Salvador Allende em 1970.

Segundo antigos documentos secretos, hoje acessíveis, o então presidente americano, Richard Nixon, ordenou: "façam sofrer a economia (do Chile)!". Coisa que a CIA não deixou de fazer.

Neste contexto, Pinochet se orgulhava de ser o primeiro a vencer o comunismo, desencadeando em seu país uma repressão sangrenta contra seus inimigos.

A polícia política chilena Dina, dirigida pelo general Manuel Contreras e depois substituída em 1977 pela CNI, prestava contas apenas ao general Pinochet, proclamado "chefe supremo da Nação" e, depois, presidente da República.

A Dina "contribuiu fortemente para o fortalecimento do poder pessoal do general, fazendo a guerra contra o marxismo, mas também neutralizando seus possíveis rivais dentro do próprio regime militar", de acordo com um informe publicado em dezembro de 2004 pela Comissão Nacional sobre a Detenção Política e a Tortura.

Até o final, o general se negou a reconhecer sua responsabilidade no regime de terror por ele instaurado. "A quem vamos pedir perdão? Aos que tentaram nos matar? Aos que tentaram liquidar a pátria?", dizia, em 1994.

Depois de promulgar em 1978 uma lei de anistia, após uma constituição elaborada na medida para controlar as Forças Armadas, ele teve, porém, de prestar contas às vítimas de seu regime e seus familiares.

Em 1998, o juiz espanhol Baltazar Garzon, que recebeu as denúncias das vítimas da repressão na Argentina e no Chile, interrompeu as férias do ex-ditador em Londres. Pinochet foi detido em outubro por policiais britânicos, mas ele acabou sendo solto pelas autoridades em março de 2000 por razões médicas.

De volta para o Chile, de novo seu estado de saúde lhe permitiu escapar do primeiro processo por violação dos direitos humanos. A Corte Suprema considerou em 2002 que tinha uma "demência moderada" que não lhe permitia ser julgado.

Dois anos depois, porém, o processo se reiniciou no âmbito da investigação dos crimes da Operação Condor, um plano de repressão adotado pelas ditaduras latino-americanas nos anos 70 e 80 em escala continental.

Em setembro de 2004, a filha de Salvador Allende, Isabel, deputada socialista, disse achar provável que Pinochet morresse antes de ser condenado.

"Mas isso não tem importância. Quero que o processo comece para que ele veja que não está acima da lei dos homens. Se ele será condenado ou não, não é o que importa agora", comentou.

O ano de 2006 esteve marcado por investigações judiciais contra o ex-ditador, que perdeu sua imunidade, com detenção domiciliar muitas vezes, em meio a graves assuntos que foram ressurgindo, como a "Caravana da Morte" ou as torturas da Villa Grimaldi.

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