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04/10/2001 - 04h52

CIA treinou comandos no Paquistão

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da Folha de S.Paulo

A CIA treinou e equipou paquistaneses em 1999 para atacar o líder terrorista Osama bin Laden no Afeganistão, mas o plano foi prejudicado por um golpe militar no Paquistão, disse ontem o jornal "The Washington Post".

Segundo o jornal, que baseou a reportagem em declarações de fontes não identificadas dos serviços de inteligência dos EUA, a CIA (serviço secreto americano) treinou em segredo 60 comandos paquistaneses em coordenação com o governo do então primeiro-ministro do Paquistão, Nawaz Sharif. Em troca de sua participação na operação, o país receberia auxílio financeiro e teria sanções contra si suspensas pelos EUA.

Os relatos citados pelo jornal, confirmados por fontes que falaram à TV CNN e à agência "Reuters", indicam que a idéia foi abandonada quando o atual líder do Paquistão, general Pervez Musharraf, derrubou Sharif em um golpe de Estado em 1999.

Natal
"Era um empreendimento", disse um funcionário do governo, citado pelo diário. Segundo ele, funcionários do governo Clinton estavam "maravilhados" com a operação, que, segundo acreditavam, representava uma oportunidade real de eliminar Bin Laden. "Era como se fosse Natal", disse.

Mas tentativas "substanciais" de persuadir o novo governante a aprovar o plano foram frustradas, afirmou o "Post".

Musharraf se tornaria, depois dos ataques de 11 de setembro em Nova York e Washington, um aliado-chave dos EUA em sua busca por Bin Laden, acusado de planejar os atentados.

O treinamento dos paquistaneses, após os atentados a bomba a embaixadas dos EUA na África em 1998 -os quais Bin Laden foi acusado de planejar-, foi apenas a última dentre várias tentativas americanas de capturar ou matar Bin Laden durante o governo Clinton (1990-2000).

Os EUA já haviam tentado prender Bin Laden em 1996. Na época, ele era suspeito de planejar uma tentativa fracassada, em 1992, de explodir o hotel utilizado por tropas americanas no Iêmen. Bin Laden era então uma figura menos conhecida, mas, mesmo assim, preocupava Washington. Ainda em 1996, a CIA montaria uma unidade especial para lidar com o "caso Bin Laden" depois de obter evidências que o associavam ao atentado a bomba ao World Trade Center em 1993.

O Sudão, onde Bin Laden morava, chegou a se oferecer para extraditá-lo à Arábia Saudita. Os sauditas já haviam expulsado Bin Laden em 1991 e cassado sua cidadania em 1994, mas se recusaram a recebê-lo por temer represálias de extremistas islâmicos. Em 1996, o Sudão decidiu expulsá-lo.

Bin Laden mudou-se então para o Afeganistão. Em fevereiro de 1998, ele se tornou um foco importante de ações de espionagem dos EUA após emitir uma fatwa (decreto religioso) pedindo o assassinato de americanos.

Por um triz
Em agosto de 1998, após os ataques às embaixadas, Clinton ordenou o lançamento de mísseis Cruise contra supostos campos de treinamento terroristas no Afeganistão. As fontes ouvidas pelo "Post" disseram que os EUA haviam obtido informações que Bin Laden estaria em um dos campos e que acreditavam não tê-lo atingido "por um triz". Segundo as fontes, Bin Laden deixou o campo algumas horas antes, talvez após ter sido informado por agentes do Taleban, milícia que controla a maior parte do Afeganistão, infiltrados nos serviços de inteligência do Paquistão.

Os mísseis estavam equipados com bombas de fragmentação, que lançam estilhaços, para matar o maior número de pessoas possível. Informações sobre o impacto do ataque nunca foram confirmadas, mas acredita-se que 30 pessoas tenham morrido.

Mas, além de não ter conseguido matar Bin Laden, o ataque pode ter ajudado a fortalecê-lo. "Por causa desse ataque tão limitado e incompetente, transformamos esse cara em um herói folclórico", disse Harlan Ullman, analista do Centro de Estudos Internacionais e Estratégicos, com sede em Washington, ao "Post".

Os EUA mantiveram tropas de forças especiais e helicópteros militares em estado de alerta na região por algum tempo, disse o "Post". Caso informações sólidas sobre o paradeiro de Bin Laden fossem obtidas, as forças atacariam imediatamente.

Walter Slocombe, ex-subsecretário de Defesa dos EUA, disse que recebeu inúmeros telefonemas dos serviços de inteligência com informações sobre o paradeiro de Bin Laden, mas elas não eram precisas o suficiente para permitir um ataque militar.

Em 1999, disse o "Post", informações de que Bin Laden poderia estar em um certo vilarejo do Afeganistão chegaram duas vezes. Segundo as fontes ouvidas pelo jornal, "houve discussões sobre a possibilidade de destruir os vilarejos, mas as informações não foram consideradas críveis o suficiente para justificar um possível massacre de civis".

Leia mais no especial sobre atentados nos EUA
 

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