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12/09/2007 - 08h16

Análise: Renuncia Shinzo Abe, um "príncipe" sem liderança

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FERNANDO MEXÍA
da Efe, em Tóquio

Chamado de "príncipe" por causa de seus refinados gestos e de "falcão" por seu conservadorismo, Shinzo Abe foi um premiê reformista mas sem liderança, que caiu vítima de sua incapacidade para conduzir seu partido.

Abe, que anunciou nesta quarta-feira sua renúncia como premiê japonês, dilapidou em menos de um ano o patrimônio político de seu carismático antecessor, Junichiro Koizumi.

O mandato foi marcado por uma obsessão em situar o Japão em um lugar de destaque na esfera internacional. Abe, 52, tornou-se o premiê mais jovem do país desde o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), apostou na reforma da Constituição pacifista imposta pelos Estados Unidos e promoveu o fortalecimento das Forças de Autodefesa japonesas.

Seu pai foi ministro. Seu avô, o premiê Nobusuke Kishi, detido como criminoso de guerra mas depois perdoado. Mantendo a tradição da família, Abe alcançou o poder no Partido Liberal Democrático (PLD), após catalisar os apoios da corrente mais conservadora.

Em 1º de setembro de 2006, anunciou sua candidatura à sucessão de Koizumi. Apenas 20 dias mais tarde, tornou-se presidente do PLD, e em 26 de setembro foi designado premiê sem passar pelas urnas.

Em 12 de setembro de 2007, após menos de um ano no cargo, um Abe cabisbaixo e sem energias anunciou a sua renúncia, que vinha se aproximando há muito tempo. Os casos de corrupção de vários de seus ministros minavam a sua popularidade, e foram determinantes na contundente derrota do PLD nas eleições para o Senado, em 29 de julho.

Durante seus tortuosos dias à frente do Executivo, em nenhum dos escândalos o chefe de governo foi o responsável. Mas pagou o preço de um conturbado ambiente político, num partido que se mostrou incapaz de conduzir.

Vitórias

As conquistas da era Abe foram poucas. Elas se destacaram no plano internacional, como a sua aproximação com a China, para diminuir as tensões dos últimos meses da gestão de Koizumi, e a proposta japonesa contra o aquecimento global, substituindo o Protocolo de Kioto, que vence em 2012.

Mas a política interna derrubou o primeiro-ministro. No início de julho, seus níveis de popularidade tinham caído para 30%, menos da metade do apoio de que gozava quando assumiu o cargo.

Desde a sua nomeação, Shinzo Abe teve que lidar com as demissões de seus ministros, derrubados por gafes ou acusações de corrupção. Um deles chegou a cometer suicídio.

Dois ministérios foram autênticos quebra-cabeças para o líder do PLD. O da de Agricultura teve quatro ministros em seu mandato, e o da Defesa, três.

As múltiplas mudanças no gabinete, inclusive com uma reforma ministerial quase completa em 27 de agosto, foram inúteis, e a corrupção continuou à mostra. Só quatro ministros continuam em seu posto desde 26 de setembro de 2006.

Caso após caso, os escândalos foram deteriorando a imagem de Shinzo Abe, que entoava o "mea culpa" em suas repetidas aparições públicas provocadas pelos deslizes de seus ministros.

Decadência

Pouco a pouco, Abe foi se afundando e pareceu passar de "falcão" a "pomba".

O escândalo da previdência pública, em que a Administração japonesa perdeu os registros trabalhistas de 50 milhões de empregados, caiu sobre os ombros de Abe e custou ao PLD a maioria no Senado. No seu primeiro e único teste nas urnas, o governo foi reprovado.

Shinzo Abe, formado em Ciências Políticas pela Universidade Seikei, de Tóquio, em 1977, completou seus estudos na Universidade da Califórnia do Sul, nos Estados Unidos. Começou sua carreira profissional na siderúrgica Kobe Steel, em 1979, três anos antes de entrar para a política, como assessor de seu pai.

Em 1993, obteve uma cadeira de deputado do PLD pela Província de Yamaguchi. Em 2000, começou a trabalhar no Executivo como porta-voz. Em 2003, foi nomeado secretário-geral do partido e manteve o cargo de ministro porta-voz durante o governo de Junichiro Koizumi.

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