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14/02/2003 - 20h14

Leia o discurso de Colin Powell na ONU em português

da Folha Online

Leia a seguir o discurso em inglês do secretário de Estado norte-americano, Colin Powell, sobre o Iraque, apresentado nesta sexta-feira ao Conselho de Segurança da ONU:

"Sr. Presidente, Sr. Secretário Geral, distintos membros do Conselho,

É um grande prazer estar aqui com vocês novamente para considerar essa questão muito importante, e estou muito satisfeito em estar aqui como secretário de Estado de um país relativamente novo na face da Terra.

Mas acho que posso ter algum crédito sentando aqui como representante da mais velha das democracias que estão reunidas aqui ao redor desta mesa. Orgulhoso disso. Uma democracia que acredita em paz, uma nação que tentou no curso de sua história mostrar como as pessoas podem viver em paz umas com as outras, mas uma democracia que não teve medo de cumprir suas responsabilidades no palco mundial quando foi desafiada; mais importante, quando outros no mundo foram desafiados, ou quando a ordem internacional foi desafiada, ou quando as instituições internacionais das quais fazemos parte foram desafiadas.

É por isso que integramos e nos tornamos membros ativos de instituições como as Nações Unidas e várias outras instituições que se reuniram pelo propósito da paz e pelo propósito de segurança mútua e pelo propósito de deixar outras nações que perseguem um caminho de destruição, que perseguem caminhos de desenvolvimento de armas de destruição em massa que ameaçam seus vizinhos, deixá-las saber que ficaremos firmes, ficaremos juntos para enfrentar esses tipos de desafios.

Quero expressar minha apreciação ao Dr. Blix e ao Dr. ElBaradei por sua apresentação desta manhã. Eles assumiram um desafio difícil quando voltaram ao Iraque no último outono em busca de desarmamento como requerido pela resolução 1441. E eu escutei muito atentamente tudo o que eles disseram esta manhã, e estou satisfeito que tenham havido progressos com relação ao processo. Estou satisfeito que tenha havido progresso com relação a não termos cinco supervisores com cada inspetor, [sendo que agora] há menos de cinco supervisores com cada inspetor.

Mas acho que eles ainda estão sendo supervisionados, eles ainda estão sendo observados, eles ainda estão sendo incomodados, eles ainda não têm a liberdade de acesso no Iraque de que necessitam para fazer bem seu trabalho.

Estou satisfeito de que algumas pessoas tenham se adiantado para entrevistas _mas não todas as pessoas que deveriam apresentar-se para entrevistas, com a liberdade de serem entrevistadas de um modo que sua segurança possa ser protegida e a segurança de suas famílias possa ser protegida como requerido pela resolução 1441 da ONU.

Fico contente com o fato de o acesso ter sido relativamente bom. Mas tudo isso é processo, não é substância.

Estou satisfeito em ouvir que agora foram publicados decretos que deveriam ter sido publicados anos e anos atrás, mas alguém realmente acha que um decreto de Saddam Hussein _dirigido a quem?_ vai mudar fundamentalmente a situação? E ele vem em uma manhã na qual nós estamos seguindo em frente pelo caminho traçado pela resolução 1441. Esses são todos assuntos processuais. Esses são todos truques que estão sendo jogados sobre nós.

E dizer que novas comissões estão sendo formadas e que irão encontrar materiais que eles alegam que não estão lá, em primeiro lugar _alguém pode honestamente acreditar que alguma dessas duas novas comissões irá ativamente buscar informação que eles estão ativamente tentando negar à comunidade mundial, aos inspetores pelos últimos 11 anos ou mais?

Eu glorifico os inspetores. Agradeço pelo que estão fazendo. Mas ao mesmo tempo, tenho que continuar voltando ao ponto do que os inspetores repetidamente fizeram, e eles fizeram isso novamente esta manhã, eles têm feito isso nos últimos 11 anos ou mais: o que nós precisamos não é de mais inspeções, o que nós precisamos não é mais acesso imediato, o que precisamos é cooperação imediata, ativa, incondicional, total por parte do Iraque. O que nós precisamos é que o Iraque se desarme.

A resolução 1441 não era sobre inspeções. Deixe-me dizer isso de novo. A resolução 1441 não era sobre inspeções.A resolução 1441 era sobre o desarmamento do Iraque.

Nós trabalhamos nessa resolução durante sete semanas, desde o momento do poderoso discurso do presidente Bush aqui na Assembléia Geral das Nações Unidas, no dia 12 de setembro, até a resolução ser aprovada no dia 8 de novembro.

Tivemos discussões intensas. Todos vocês são familiares a isso. Vocês participaram dessas discussões. E era sobre desarmamento. E a resolução começou com a clara declaração de que o Iraque estava em violação material de suas obrigações pelos últimos 11 anos e continuava até aquele dia, o dia em que a resolução foi aprovada, em violação material. E a resolução disse que agora o Iraque deve envolver-se em obediência, ele deve desarmar-se.

A resolução continuou para dizer que nós queríamos ver uma declaração do Iraque dentro de 30 dias de todas as suas atividades, que colocasse tudo sobre a mesa. 'Vamos ver o que vocês têm feito. Dêem a nós uma declaração em que possamos acreditar e que seja integral, completa e precisa'. Foi isso o que dissemos ao Iraque no dia 8 de novembro. E cerca de 29 dias depois, recebemos 12 mil páginas. Ninguém neste conselho pode dizer que essa era uma declaração integral, completa e precisa.

E agora se passaram vários meses desde que a declaração foi apresentada. E eu não escutei nada que sugerisse que eles preencheram os vazios que havia naquela declaração ou acrescentado evidências que deveriam nos dar qualquer conforto de ter uma declaração integral, completa e precisa.

Vocês se lembrarão que colocamos aquele pedido de declaração na resolução como um primeiro teste da seriedade do iraque. eles são sérios? Eles vão se desarmar? Eles vão cumprir? Eles vão cooperar?

E a resposta com aquela declaração foi não, nós vamos ver com o que conseguimos sair. Podemos ver o quanto conseguimos deslizar sob seu nariz e todos aplaudirão e dirão, 'não é maravilhoso?'. Eles forneceram uma declaração. Ela não foi de nenhuma utilidade particular.

Nós então tivemos certo nível de aceitação do fato de que os inspetores estavam voltando. Pedimos isso. O Iraque tentou usar esta vantagem logo após o discurso do presidente em setembro para tentar impedir a resolução 1441 de ir por água abaixo. De repente na manhã seguinte após o discurso do presidente, 'oh, deixaremos os inspetores voltarem'.

Por quê? Porque quando o presidente falou e o Iraque viu que a comunidade internacional estava agora se reunindo com seriedade e com determinação, soube que era melhor fazer alguma coisa. Não fez isso devido à bondade de seu coração ou repentinamente descobriu que estava em violação por todos esses anos. Fizeram isso devido à pressão . Fizeram isso porque este conselho permaneceu firme. Fizeram isso porque a comunidade internacional disse, 'Basta, nós não toleraremos o Iraque continuando a ter armas de destruição em massa para ser usada contra seu próprio povo, para serem usadas contra seus vizinhos, ou pior, se encontrarmos um nexo pós 11 de setembro entre o Iraque e organizações terroristas que estão procurando exatamente tais armas'.

E eu submeterei e fornecerei mais evidência de que tais conexões estão agora emergindo, e nós podemos estabelecer que elas existem.

Nós não podemos esperar que uma dessas terríveis armas apareçam em uma de nossas cidades e especular de onde ela veio depois de ser detonada pelo Al Qaeda ou qualquer outro. Esse é o momento de ir atrás da fonte desse tipo de arma. E é sobre isso que trata a [resolução] 1441.

Até este dia, nós não vimos o nível de cooperação que era aguardado, antecipado e esperado. Eu espero por isso. Ninguém trabalhou mais que os Estados Unidos. E eu digo a vocês, ninguém trabalhou mais, se eu posso dizer de forma humilde, em tentar propor uma resolução que mostraria a determinação da comunidade internacional para a liderança do Iraque, para que eles agora cumprissem suas obrigações, confessassem e obedecessem. E eles não fizeram isso.

Apesar disso, toda a discussão que ouvimos até agora nesta manhã sobre dar mais tempo às inspeções, vamos ter mais aviões sobrevoando, vamos acrescentar mais inspetores ao processo de inspeção _dr. Blix apontou no começo desta semana que mais inspetores não são necessários. O que é necessário é o que tanto o dr. Blix quando o dr. ElBaradei dizem ser necessário desde 1991: compromisso e cooperação imediatas, ativas e incondicionais.

Estou satisfeito que o Iraque está agora discutindo essa questão com a África do Sul. Mas isso não é cirurgia cerebral. A África do Sul sabe como fazê-lo. Qualquer um sabe como fazê-lo. Se nós estamos obtendo o tipo de cooperação que esperávamos quando a 1441 foi aprovada, estes documentos estariam fluindo das casas, fluindo das fábricas. Não haveria perguntas sobre o acesso. Não perguntas questões sobre entrevistas.

Se o Iraque era sério nestas questões, os entrevistados deveriam estar esperando do lado de fora dos escritórios do Unmovic e do IAEA em Bagdá, porque eles devem provar ao mundo, dar ao mundo todas as evidências necessárias de que essas armas de destruição em massa não existem.

Mas as perguntas, apesar de todo o nível do relatório, as perguntas permanecem, e alguns dos meus colegas falaram sobre elas. Nós não sabemos do antraz, não sabemos do botulismo, do VX, ambos agentes biológicos, local de cultivo, 30 mil munições químicas e biológicas.

Esses não são assuntos triviais que se pode apenas ignorar e passar por cima e dizer: 'Bem, talvez os inspetores os descubram, talvez não'. Não não recebemos uma declaração completa e apurada.

Nós vimos a reconstrução de câmeras múltiplas para mísseis. Por quê? Porque eles ainda estão tentando desenvolver essas armas. Nós vimos o tipo de cooperação que foi antecipado, esperado e exigido por esse órgão.

E nós devemos continuar a exigi-lo. Nós devemos continuar a pressionar o Iraque, a forçar o Iraque para termos certeza de que a ameaça foi retirada, porque a 1441 era sobre cumprimento, não sobre inspeções. As inspeções foram colocadas como uma forma, claro, de ajudar o Iraque a se adiantar e obedecer, para verificar, para monitorar, como o chefe dos inspetores notou.

Nós então obtivemos uma resposta incompleta do Iraque, nós encaramos uma situação difícil. Mas inspetores, sinto muito, não são a resposta.

O que nós precisamos é de cooperação imediata. Tempo? Quanto tempo leva para se dizer 'eu entendo o desejo da comunidade internacional, e eu e meu regime estamos mostrando tudo para vocês e não estamos jogando, não estamos formando comissões, não estamos lançando decretos, não estamos aprovando leis que deveria ter sido aprovadas anos atrás que são repentinamente aprovadas no dia que nos encontramos'.

Essas não são ações responsáveis por parte do Iraque. Esses são esforços contingentes para enganar, negar, desviar, nos tirar do trilho, do caminho.

A resolução se antecipou a esse tipo de resposta do Iraque. E é por isso que toda nossa discussão sobre aquela resolução mostra que essa é uma violação material. Se eles surgissem com uma nova violação material, com uma declaração falsa ou não aceitação em cooperar e obedecer, as OP4 (ph) diz, então a questão deve ser enviada ao Conselho com sérias consequências.

Eu sugiro a vocês que, apesar dos avanços em processo que notamos e saúdo _e eu agradeço aos inspetores por seu trabalho árduo_, esses avanços no processo não nos levam para longe do problema central, que continuamos a ter. E mais inspeções e um período de inspeção mais longo não nos leva para longe da questão central, o problema central que estamos encarando. E esse problema central é que o Iraque falhou em cumprir a 1441.

A ameaça da força deve permanecer. A força deve sempre ser o último recurso. Eu prego isso pela maior parte da minha vida como soldado e diplomata. Mas deve ser um recurso.

Nós não podemos permitir que esse processo seja esticado de forma contínua, como o Iraque está tentando fazer agora: 'Estique-o o maior tempo possível, e o mundo começará a olhar outras direções, o Conselho de Segurança vai adiante, nós escaparemos de novo'. Meus amigos, eles não podem escapar novamente.

Nós estamos agora em uma situação em que a falta de obediência contínua e o fracasso de cooperação do Iraque, me parece, nos termos mais claros exigidos este Conselho, começam a pesar sobre as consequências de passar por esse problema, ou a realidade, que temos de encarar este problema, e que em um futuro muito próximo nós teremos de considerar neste Conselho, por mais desagradável que possa ser, por mais relutantes que possamos ser, tanto quanto _há tantos de vocês que prefeririam não encarar essa questão, mas é uma questão que deve ser encarada, e querendo ou não é tempo de considerar consequências sérias do tipos previstos na 1441.

A razão para que nós não passemos por cima são essas armas terríveis. Nós estamos falando sobre armas que não matariam apenas algumas pessoas, não uma centena, não mil pessoas, mas que poderiam matar dezenas de milhares de pessoas se elas caíssem em mãos erradas.

E a segurança da região, as esperanças do próprio povo do Iraque, e nossa segurança depende de encararmos nossas responsabilidade e, se chegar a isso, invocarmos as consequências sérias previstas na 1441.

A 1441 é sobre desarmamento e obediência, não simplesmente um processo de inspeções que continua eternamente sem resolver o problema básico.

Muito obrigado."

Tradução de Iana Cossoy Paro e Cristina Amorim

 

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