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24/05/2003 - 06h02

"Imagem distorcida da África precisa mudar no Brasil"

PAULO DANIEL FARAH
Especial para a Folha de S.Paulo

A maioria dos brasileiros tem uma imagem distorcida da África, limitada a conflitos armados e epidemias de fome, de acordo com o professor malinês Saddo Ag Almouloud, presidente do Fórum África, entidade de caráter sociocultural instituída em 2000 por profissionais africanos de diversos países e por brasileiros afrodescendentes.

"Há guerras, fome e subdesenvolvimento na África, mas há outro aspecto, rico, que nem sempre é mostrado", afirma Almouloud, 51. "Muitos alunos se formam na escola sem saber quase nada sobre a África. Em geral, o brasileiro não tem muita referência e absorve só o que lê nos jornais."
Para contrapor essa falta de informação, que provoca preconceitos em torno desse continente, diz Almouloud, o Fórum África oferece cursos de história e organiza eventos culturais sobretudo em maio, mês dedicado ao continente (amanhã é o Dia da África)

Em 25 de maio de 1963, foi fundada a Organização da Unidade Africana, que ajudou a combater o colonialismo e o apartheid. Em 2002, a OUA foi substituída pela União Africana, inspirada no modelo da União Européia e que nasceu com o sonho de instaurar um espaço único para quase 1 bilhão de habitantes desse continente.

Apesar das dificuldades e do ceticismo, integram os objetivos da UA um Parlamento continental, um tribunal pan-africano, um Banco Central e, mais tarde, a união monetária.

Questionado sobre o intercâmbio Brasil-África, Almouloud diz que "nem mesmo o empresariado conhece suficientemente a África para aproveitar suas potencialidades". De acordo com ele, alguns dos primeiros doutores em matemática do Mali foram formados no Brasil, na Unicamp. Depois desse grupo, com três ou quatro pessoas, nunca mais ninguém se formou aqui".

"Preconceito sutil"

Atualmente professor da pós-graduação de matemática na PUC, Almouloud diz que "uma boa parte da população brasileira se identifica com a África, quer saber das raízes, da história e da cultura da África". Isso não impediu, porém, que ele fosse vítima do que descreve como "preconceito sutil" no país.

"O racismo é um fenômeno mundial. No Brasil, é um pouco sutil. A gente tem de viver um certo tempo no país para começar a enxergar algumas coisas. Às vezes, por exemplo, meus colegas da PUC me apresentam a colegas de outras universidades. Dizem: "Este é Saddo, professor da PUC". E os outros perguntam: "Você está estudando o quê?". As pessoas acham que houve um engano quando ouvem que sou professor aqui. Talvez imaginem que o negro não é capaz de ser um professor de alto nível. O que vale não é a cor, é a competência."

Saddo elogia a lei 10.639, que obriga as escolas a ensinar história e cultura afro-brasileira, e alega que "o povo precisa saber mais sobre a parte cultural, social, política e econômica da África. É preciso mais informação para mudar essa imagem distorcida e parcial".


Paulo Daniel Farah é professor na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP
 

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