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31/05/2009 - 00h01

China chega à "maioridade" em 2009, diz diplomata americano; leia entrevista

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CLAUDIA ANTUNES
da sucursal da Folha de S. Paulo no Rio

Um dos principais intérpretes na primeira viagem do presidente americano Richard Nixon à China, que selou em 1972 o início da hoje simbiótica relação entre as duas potências, o embaixador aposentado Charles W. Freeman é uma das personalidades mais fortes da elite de política externa de Washington.

Franco como poucos diplomatas, adepto da realpolitik, Freeman esteve à frente das embaixadas americanas na Arábia Saudita e na China, foi secretário de Estado assistente para a África e secretário da Defesa assistente sob o democrata Bill Clinton, nos anos 90.

No início deste ano, o embaixador foi indicado para dirigir o Conselho Nacional de Inteligência, ligado à Casa Branca de Barack Obama. Acusado em blogs de ter posições anti-israelenses, acabou desistindo do posto. Hoje, diz que foi alvo de uma campanha de pessoas ligadas ao Likud, partido no poder em Israel, cujas ações, segundo acredita, são "autodestrutivas" e prejudicam a longo prazo a segurança do Estado israelense.

O embaixador é um defensor contundente de relações fortes entre China e EUA. Nesta entrevista, por e-mail, ele interpreta duas datas do calendário chinês deste ano --os 20 anos da repressão aos protestos na praça Tiananmen e os 60 da revolução comunista, em outubro-- e afirma que 2009 marca a "maioridade psicológica da China". Leia abaixo a entrevista.

FOLHA - Há 20 anos, o governo chinês ordenou a repressão dos protestos em Pequim. Quais eram os principais dilemas que opunham o então líder do PC, Zhao Ziyang, que era favorável ao diálogo com os manifestantes, e Deng Xiaoping, que era chefe da Comissão Militar do PC?

CHARLES W. FREEMAN - Esses foram eventos muito complexos, com várias facções disputando tanto na praça quanto nos círculos internos do PC. Nunca saberemos se o diálogo poderia ter dispersado os estudantes e aberto um processo de evolução pacífica para um sistema mais democrático, como desejavam muitos estudantes e o secretário-geral Zhao.

Os linha-dura dos dois lados temiam as consequências de ceder ao outro. Alguns na praça queriam uma confrontação sangrenta. Alguns no partido consideravam que a repressão violenta dos manifestantes era essencial para acabar com a oposição às políticas do partido. A escalada do problema levou os líderes chineses a verem o uso da força como única alternativa. O resultado foi a tragédia de 4 de junho.

FOLHA - A repressão manchou a imagem da China no exterior. Como é a interpretação na China desses eventos hoje e como ela difere da visão de fora?

FREEMAN - A política das grandes nações é sempre dominada pelos fatores e perspectivas domésticas. Os líderes chineses se preocupam muito mais com a segurança interna e com evitar o tipo de anarquia que o país sofreu durante a Revolução Cultural e em outras ocasiões do que com as relações exteriores. Se preocupam mais com o que seus seguidores pensam deles do que com o que os estrangeiros pensam.

O consenso na liderança chinesa é que seu maior erro foi a indecisão e a demora em dispersar a multidão na praça Tiananmen. O fracasso em pôr fim às manifestações antes que elas saíssem do controle, na visão dos dirigentes chineses, tornou inevitável o uso da força. A tragédia resultante foi ainda mais traumática porque alguns na praça eram os filhos da mesma elite que acabou mandando os militares para colocá-los para fora.

FOLHA - O senhor já disse que os eventuais resultados de uma democratização chinesa podem não ser os esperados internacionalmente, porque o nacionalismo popular poria mais pressão sobre os dirigentes para agir em questões como Taiwan. Interessa ao Ocidente que a China ponha a estabilidade antes da democracia?

FREEMAN - A China é a única grande potência cujo território permanece dividido pelos efeitos do colonialismo e da Guerra Fria, e o único com fronteiras ainda não demarcadas. O alinhamento de Taiwan com os EUA frustrou o objetivo do Partido Comunista de unificar a China sob o seu comando e remover desafios com apoio estrangeiro à autoridade central em seu território.

O Tibete continua instável por muitos fatores, incluindo as ações encobertas americanas e indianas, nos anos 50, que procuraram desestabilizar o oriente da China. A China, como outras civilizações não ocidentais como a Índia e o mundo árabe, vive com o trauma da humilhação pelo colonialismo ocidental. As memórias chinesas das dezenas de milhares de mortes infligidas durante os 14 anos de invasão japonesa continuam vívidas.

Há, então, muitos fatores que levam o ressentimento a permanecer logo abaixo do ponto de ebulição na China e que levam em algumas ocasiões a manifestações de massa. O governo chinês quer manter a paz de modo que o país possa se desenvolver e reconquistar a dignidade a posição de riqueza e poder que tinha antes de ser eclipsado pelo Ocidente. Ele compartilha o nacionalismo da maioria dos cidadãos, mas muitas vezes tem que agir para acalmar os ânimo: eles reagem fortemente ao que percebem como atos de provocação ou desrespeito com os estrangeiros.

É do interesse do Ocidente, assim como da China, que a democratização chinesa seja alcançada gradualmente, com estabilidade social e sem confrontos emocionais entre a China e outras grandes potências.

FOLHA - Qual é a sua memória mais vívida de sua primeira viagem à China, com Nixon? Como essa viagem mudou sua percepção do país?

FREEMAN - O que me deixou mais impressionado em 1972 foi ver o grau de continuidade entre a China imperial e a República Popular. Eu tinha estudado em Taiwan, que dizia ter preservado a cultura política e os hábitos sociais chineses tradicionais, mas que de fato os havia modernizado.

Eu tinha levado a sério demais o que os comunistas diziam sobre terem transformado a China continental. As famílias continuavam presas a seus lugares ancestrais, com sua cultura tradicional, a influência estrangeira era mínima e a economia continuava desconectada do resto do mundo.

Ao contrário da direção de origem mais burguesa do Partido Nacionalista em Taiwan, muito da elite dirigente de Pequim descendia das grandes famílias de estudiosos e burocratas. Ironicamente, em muitos aspectos, a República Popular preservou a "velha China", enquanto Taiwan desenvolvera uma "nova China", o que era exatamente o oposto do que cada lado dizia.

FOLHA - A linha do tempo da cerimônia que abriu a Olimpíada de Pequim, no ano passado, foi direto das dinastias do século 18 ao presente, ignorando as invasões do século 19 e a revolução de 1949. Como o senhor acha que o 60º aniversário da revolução será comemorado em outubro deste ano?

FREEMAN - Este outubro será comemorado com uma grande parada militar na praça Tiananmen destinada a demonstrar a modernização militar chinesa e a deter qualquer país que possa ser tentado a desafiá-la militarmente.

Se a Olimpíada marcou a reconquista de competência técnica e econômica, este dia nacional vai marcar sua reemergência como um Estado moderno e poderoso. 2009, o 60º aniversário da República Popular, marca então sua maioridade psicológica e a superação do apequenamento que ela experimentou de 1842 [ano do Tratado de Nanquim, que abriu os portos chineses ao comércio britânico do ópio] a 1949.

FOLHA - Hoje, muitos analistas falam em um G2, com China e EUA. O senhor concorda com esse conceito?

FREEMAN - A noção de um G20 reconhece em muitos aspectos que a China está agora se tornando, como os EUA, uma potência mundial, cujos interesses devem ser levados em consideração na resolução de questões em qualquer lugar pelo mundo. Também reconhece que um número crescente de problemas não pode ser abordado sem contribuições da China e dos EUA. Esses problemas incluem todos aqueles relacionados à administração dos recursos e do ambiente, assim como os ajustes necessários nos sistemas monetários, cambial, de reservas, questões de assistência estrangeira, as leis internacionais e os mecanismos de resolução de disputas, como os da ONU. A China e os EUA precisam conduzir um diálogo bilateral sobre essas questões para haver algum progresso.

Mas, como conceito, a noção de um G2 não é bem vinda e é inexequível. O mundo não precisa e não receberia bem a substituição da tentativa fracassada americana de unipolaridade por um condomínio sino-americano. Nem este duopólio funcionaria. Como a emergência de fóruns como o G20 ilustra, o poder e a riqueza estão crescentemente difusos e o mundo é mais bem concebido em termos de multipolaridade. A China e os Estados Unidos devem dar contribuições para a resolução dos problemas mundiais dentro de um contexto multilateral, não bilateral.

FOLHA - O senhor frequentemente menciona a parceria da China contra a ocupação soviética do Afeganistão, de que pouco se fala. O senhor pode descrever o que aconteceu? E hoje, como é o envolvimento chinês na região?

FREEMAN - A China compartilhava do alarme dos EUA e de outros países, incluindo o Paquistão e outras nações muçulmanas, com a ocupação soviética do Afeganistão, que é afinal vizinho da China. Muitas das armas que os afegãos usaram contra os ocupantes foi fornecida pela China por intermédio do Paquistão, seja diretamente ou em cooperação com os EUA. Outros países, como a Arábia Saudita, financiaram parte significativa desse esforço.

A agressão soviética criou uma coalizão improvável e alguns argumentariam que o estresse da experiência afegã causou o fim da URSS. A China continua vitalmente interessada na estabilidade e na segurança do Paquistão e em impedir que os territórios paquistanês e afegão sejam usados por terroristas, alguns dos quais são motivados pelo desejo de obter a independência da China em Xijiang, região majoritariamente muçulmana. Mas, nos últimos anos, o papel chinês se limitou à assistência econômica e ao fornecimento de armas aos militares do Paquistão.

FOLHA - Um dos lados negros da aliança sino-soviética nos anos 70 foi o apoio ao regime do Khmer Vermelho no Camboja. O intelectual de esquerda Noam Chomsky chegou a dizer que a invasão vietnamita de 1979, que derrubou o Khmer, foi talvez a única verdadeira "intervenção humanitária" do século 20. Como o senhor avalia essa política da perspectiva de hoje?

FREEMAN - Certamente houve assistência chinesa ao Khmer Vermelho, especialmente sob a Gangue dos Quatro, quando o Khmer estava no poder em Phnom Penh, e mais tarde em cooperação com a Tailândia, quando era uma guerrilha oposta à ocupação vietnamita.

Posso testemunhar a partir do meu serviço em posições diplomáticas importantes em Pequim e Bancoc que, longe de assistir o Khmer Vermelho, os EUA nunca tiveram relações com eles. Os EUA excluíram o Khmer da ajuda que davam aos grupos cambojanos opostos ao Vietnã.

As aspirações do Vietnã por um império na Indochina e a preocupação com o sofrimento dos vietnamitas étnicos no Camboja, não razões humanitárias, motivaram a invasão vietnamita, apesar de essa invasão ter tido o mérito de derrubar do poder os assassinos do Khmer Vermelho.

A subsequente invasão chinesa do Vietnã foi destinada a demonstrar a Hanói que não poderia construir um império na fronteira sul da China em aliança com o maior inimigo da China, a União Soviética. Isso, também, não foi motivado por humanitarismo.

Hoje o sul da Ásia está em paz. O Vietnã tem grande influência no Laos, mas não exerce hegemonia na Indochina. O Camboja está se recuperando de suas experiências traumáticas tanto sob o Khmer Vermelho quanto sob os vietnamitas. O Vietnã seguiu a China e conduziu reformas econômicas radicais que o integraram à economia global.

Todos os três países da Indochina têm mais problemas hoje com corrupção do que com contestação política, apesar de nenhum ter avançado muito no caminho da democracia e do Estado de Direito. Ninguém, que eu saiba, tem nenhuma saudade do Khmer Vermelho.

FOLHA - A aliança entre os EUA e a China foi, nos anos 70, baseada no interesse comum de conter a URSS. Hoje a China tem uma parceria com a Rússia na Organização de Cooperação de Xangai (SCO). Isso preocupa os EUA?

FREEMAN - Não, nem deveria. A Rússia hoje não é mais a União Soviética de antes. Nem a SCO a aliança militar ou complô antiamericano que alguns polemistas paranoicos anti-China nos EUA pintam. Há limites naturais para a relação sino-russa, a menos que os EUA os pressionem muito, como a União Soviética fez com a China e os EUA quando invadiu o Afeganistão. Não acredito que os EUA vão agir para alinhar a China com a Rússia contra eles.

Na minha opinião, os EUA devem buscar uma relação cooperativa com a SCO, com a qual compartilha o interesse de conter o terrorismo e reduzir as rivalidades entre os países da Ásia Central, que poderiam levar a formas inapropriadas de competição entre poderes externos com ligações com eles.

FOLHA - Em março passado o Pentágono divulgou relatório no qual enfatizava a falta de transparência dos gastos militares chineses. O diretor nacional de Inteligência do presidente Obama, almirante Dennis Blair, também criticou a "agressividade" da Marinha da China depois de um incidente com um navio militar americano no Mar do Sul da China. O que essas declarações significam?

FREEMAN - São duas coisas diferentes.

O relatório a que você se refere foi encomendado por congressistas que visam curar o que alguns chamam de "desordem de déficit de inimigo" _ quando alguém não tem mais um inimigo óbvio a combater ou quer justificar a encomenda de novas armas do seu complexo industrial-militar. O objetivo é promover a China à posição de "inimigo por escolha" ou "competidor interpares".

É escrito pelo Pentágono, não pela comunidade de inteligência, e reflete o viés de seus autores. A China não é tão transparente quanto gostaríamos, claro. Tradicionalmente, procurou deter seus adversários potenciais encorajando-os a superestimar sua prontidão militar. Com este fim, escondeu suas verdadeiras capacidades. Mas, à medida que a força da China cresce, ela progressivamente tem menos razões para fazer isso.

Se alguém gastar tempo lendo jornais militares chineses ou falando com pensadores militares, pode descobrir muito sobre a percepção que a China tem dos desafios militares que enfrenta e das estratégias e estruturas sobre as quais se apoia para enfrentá-los. Claro que, se você não faz isso, ou se faz uma leitura seletiva para encontrar os tipos de ameaça de que precisa para justificar maiores gastos com seus próprios militares e não os encontra, não ficará feliz. Vai então se queixar da falta de transparência de seu antagonista. Parte do relatório do Pentágono é bem fundamentada e parte reflete esse tipo de queixa.

A questão das confrontações navais no Mar do Sul da China é mais séria. Tendo sido invadidos pelo mar no passado (por portugueses, holandeses, espanhóis, britânicos, franceses, americanos, alemães, japoneses), os chineses adotaram uma estratégia marítima que veta as áreas litorâneas a estrangeiros. Recentemente, começaram a afirmar que operações militares em sua zona econômica exclusiva (ZEEs) exigem sua aprovação prévia. Essa é uma interpretação da Convenção do Mar que a Marinha dos EUA não subscreve.

O que está acontecendo entre os navios americanos fazendo pesquisas com objetivos militares na costa chinesa e a Marinha da China é tanto um esforço militar da China para manter os navios estrangeiros afastados quanto uma disputa pela interpretação correta da lei internacional. Essas confrontações têm o potencial de se transformarem num conflito naval real. Eu interpreto a crítica de Dennis Blair como um esforço para avisar os chineses dos riscos que estão correndo. No fim, os EUA e a China vão encontrar um caminho para discutir nossas diferenças e encontrar um modo de convivência.

FOLHA - Na sua visita recente à China, a secretária de Estado, Hillary Clinton, disse que deixaria de lado questões contenciosas, como direitos humanos e Tibete, para se concentrar nos temas de interesse comum. Como o senhor avalia essa abordagem e as críticas subsequentes de grupos de defesa dos direitos humanos?

FREEMAN - No primeiro mandato de Bill Clinton, as questões de direitos humanos dominaram a relação bilateral de tal modo que muitas outras formas de interação entre os dois países foram adiadas ou abandonadas. A declaração da secretária Clinton foi um sinal saudável de que nem o governo Obama nem ela acreditam que essa abordagem unidimensional é apropriada. É um reconhecimento bem vindo das complexidades da relação bilateral e do fato de que a China é um participante essencial de qualquer processo destinado a resolver os principais problemas de nosso tempo.

Eu não considero surpreendente que grupos focados em um tema apenas, como os de direitos humanos, possam se opor a políticas que tirem a primazia de sua agenda, mas é muito difícil concordar que dar absoluta prioridade a um tema faça sentido.

Minha opinião é que o ostracismo e as sanções, os meios de influência que essas organizações parecem preferir, são de fato contraprodutivas. Eu não vejo que eles tenham ajudado a melhorar a situação dos direitos humanos em parte alguma. Como muitos casos atestam, essas melhorias vêm do diálogo e do engajamento, não de diatribes, diplomacia declaratória ou desinvestimento. No tempo correto, a secretária Clinton vai abordar questões de direitos humanos junto com outras.

FOLHA - O senhor esteve recentemente envolvido numa disputa política barulhenta, depois de sua nomeação para um cargo no Conselho Nacional de Inteligência da Casa Branca. A disputa dizia respeito a antigas críticas a Israel e o senhor acabou abrindo mão da nomeação. Como o senhor definiria sua posição nessa questão?

FREEMAN - No final de janeiro, eu relutantemente aceitei a nomeação para presidir o Conselho Nacional de Inteligência, o que me obrigaria a voltar ao serviço público depois de ter servido por mais de 30 anos. Quando a notícia da minha nomeação vazou, fui imediatamente atacado por pessoas ligadas ao Likud israelense. Quando é enxovalhado, um homem decente mostra consideração pelos que se trabalhariam com ele e não tomam o lugar para o qual foram convidados.

Os homens sem princípio que lançaram uma campanha de assassinato moral contra mim acreditam que a retirada da população árabe original de toda a Palestina é vontade divina e necessária para garantir a segurança do Estado de Israel. Eu acredito que, ao contrário, essas ações ameaçam trazer um renascimento do antissemitismo e negar a Israel a aceitação de seus vizinhos, necessária para sua segurança.

Eu acredito que a segurança dos EUA é ameaçada pela falta de julgamento independente sobre as políticas autodestrutivas de Israel e a raiva contra os EUA que isso gera no mundo muçulmano. Eles querem censurar o debate sobre essas questões. Eu acredito que a discussão pública é essencial para os EUA formularem políticas fortes. Eles acreditam que silenciar os críticos de Israel é bom para Israel. Eu acredito que isso encoraja decisões contraprodutivas pelos israelenses e políticas que expõem os americanos a riscos.

Minhas visões sobre Israel não diferem das de muitos israelenses e judeus americanos.

FOLHA - Em que medida o público americano absorveu a ideia de que, com a crise econômica e as consequências das políticas de Bush, a margem de manobra dos EUA diminuiu?

FREEMAN - Eu acho que isso está no cerne dos esforços do governo Obama para reformar a política externa americana e que o povo americano sabia disso quando o elegeu contra seu oponente, que estava comprometido com uma abordagem unilateralista e militarista das relações exteriores.

FOLHA - A história da política externa americana está cheia de exemplos de consequências imprevistas de atos destinados a enfraquecer o rival da hora. O acordo nuclear com a Índia, em 2006, foi justificado como um meio de balancear o poder da China na região. Mas também foi um golpe no Paquistão, aliado desde a Guerra Fria. Qual o impacto disso quando os EUA precisam dos paquistaneses para combater a Al Qaeda e o Taleban?

FREEMAN - Os EUA realmente precisam gerenciar suas relações com a Índia com a devida atenção para seu impacto no Paquistão. Sob o general [Pervez] Musharraf [que ficou no poder entre o golpe militar de 1999 e o ano passado], o Paquistão havia começado um auspicioso processo de reaproximação com a Índia.

Depois do ataque a Mumbai por terroristas baseados no Paquistão, em 2008, essa reaproximação desabou. O conflito na Caxemira reacendeu. Se a Índia está preocupada, como deve estar, com terroristas baseados no Paquistão, o Paquistão tem um medo legítimo de uma ameaça militar convencional da Índia. Ele se sente cercado pela penetração indiana no Afeganistão, onde a Índia tem agora cinco consulados.

Essas questões são, acredito, fonte de maior preocupação para Islamabad do que o acordo nuclear EUA-Índia e têm impacto maior na habilidade de os militares paquistaneses cooperarem com as forças americanas. Elas ilustram muito bem o ato de equilíbrio delicado que os EUA devem fazer para construir relações com a Índia como uma potência emergente enquanto conduz operações militares ao norte, no Afeganistão.

 

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