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29/06/2003 - 04h37

Mito sobre Leo Strauss ''é delírio'', afirma sua filha

JOÃO BATISTA NATALI
da Folha de S.Paulo

Jenny Strauss Clay é pesquisadora de literatura grega na Universidade da Virgínia. Mas é também filha de Leo Strauss, morto há 30 anos e visto por muitos --incluindo aí liberais-- como o ideólogo póstumo do neoconservadorismo nos EUA.

Ela qualifica como "puro delírio" as referências a uma espécie de conspiração velada, na qual discípulos de seu pai teriam se apoderado de postos importantes na administração Bush para pôr em prática uma política externa agressiva.

Leia abaixo trechos de sua entrevista à Folha de S.Paulo.

Folha de S.Paulo- Por que alguns neoconservadores reivindicam como raiz teórica o pensamento de Strauss?

Jenny Strauss Clay - Isso é para mim um mistério. Creio que tudo começou com a acusação de Hillary Clinton de que haveria hoje uma "vasta conspiração de direita". O que pressupõe a existência de algum guru que possa organizá-la. Não sei, no entanto, por que a escolha recaiu sobre Strauss. O fato é que a mídia tem publicado coisas malucas, sem sentido. Fala-se da "Conexão Wohlstetter". Que eu saiba, é puro delírio.

Folha de S.Paulo- Mas não há sequer um único indício do que possa ter gerado essa idéia de conspiração?

Strauss Clay - Meu pai foi sobretudo um professor importante, que deve ter influenciado muita gente, de direita e de esquerda. Insisto: há muitos straussianos de esquerda. Mas Strauss foi um conservador, no sentido de não acreditar que mudanças seriam necessariamente no sentido de melhoria social. Muitos de seus estudantes passaram a lecionar. Outros foram trabalhar para o governo. O que não me parece caracterizar uma "conspiração".

Folha de S.Paulo - O prof. Strauss rejeitava a relatividade dos valores morais. Ele não estaria sendo hoje vítima dessa mesma relatividade?

Strauss Clay - Strauss se opunha ao relativismo porque era nesse sentido que caminhava o dogmatismo moderno. E todo dogmatismo deve ser questionado.

Folha de S.Paulo - A sra. lembra se personagens como Paul Wolfowitz, Robert A. Goldwin, Carnes Lord ou Irving Kristol frequentavam a casa de sua família, em Chicago?

Strauss Clay - Encontrei-me com Paul Wolfowitz duas vezes, há muitos anos, e bem depois da morte de meu pai. Conheci Carnes Lord porque ele foi meu colega como professor da Universidade da Virgínia. Nunca encontrei Irving Kristol. Quanto a Robert Goldwin, ele foi aluno de meu pai e um amigo da família. Quando me tornei cidadã americana, ele foi minha testemunha no processo de naturalização.

Folha de S.Paulo - Gente do Partido Republicano não estaria usando o nome de Leo Strauss para provar que o neoconservadorismo tem bases teóricas bem sólidas?

Strauss Clay - Tenho dúvidas, e pode ser até algum absurdo. Se alguém acredita que esses cidadãos são espertos, é em razão da astúcia ou dos sucessos que demonstram, e não porque leram Platão. Por aqui as pessoas dizem qualquer coisa, até que o livro predileto de Bill Clinton era uma biografia de Marco Aurélio.
 

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