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06/07/2003 - 02h40

Máscaras, quarentena e repressão ajudaram a derrotar Sars

CLAUDIO ANGELO
Editor-assistente de Ciência da Folha de S.Paulo

No dia 30 de abril, os infectologistas Eduardo Massad e Marcelo Burattini, da USP, mandaram para a revista "Nature" um artigo científico contendo um exercício de futurologia: o número de casos de Sars em Hong Kong seria 320 mil no meio do ano se não fosse adotada nenhuma medida de controle. Com o uso de máscaras, aventais, isolamento de pacientes e medidas de higiene como lavar as mãos, ficaria em 1.778.

Hong Kong teve a doença contida no mês seguinte, com 1.765 casos. "A curva é tão boa que o pessoal acha que a gente roubou", afirma Burattini, referindo-se ao modelo de computador montado por ele e seu colega, com base nos dados da OMS, para prever o comportamento da Sars.

O modelo atesta que um desastre global com a pneumonia foi evitado por meio de medidas simples. "Não houve vacinas ou remédios. Identificando casos por vigilância, isolando pacientes, buscando as pessoas que estiveram em contato com esses casos e pondo essas pessoas de quarentena é que os países se livraram do surto", diz David Heymann.

"O uso de máscaras, o isolamento e a lavagem de mãos reduziram a intensidade da transmissão em 75%. Isso dá 3 em cada 4 casos", diz Burattini.

E, se as autoridades chinesas não tivessem demorado tanto para notificar o surto (surgido em 16 de novembro na Província de Guangdong), a doença poderia ter tido o mesmo destino da "gripe da galinha", de 1997: ser erradicada antes de cruzar fronteiras.

Se a omissão inicial do governo chinês ajudou a espalhar a epidemia, sua posterior repressão -com ameaças de morte a quem fugisse à quarentena-, também ajudou a contê-la. "Eles fecharam escolas, hospitais, tudo ficou de quarentena, sem ter necessariamente uma justificativa epidemiológica. E parece que funcionou", disse à revista eletrônica "The Scientist" o médico James Mackenzie, da OMS, que visitou Guangdong em março.

Segundo David Heymann, a China conseguiu estabelecer um sistema de vigilância "confiável" no país. "Eles viram que deveriam fazer algo, ou as repercussões econômicas seriam grandes."

O chefe de doenças transmissíveis da OMS diz não saber, no entanto, se os chineses foram ajudados pelo fato de o vírus da Sars não ser tão transmissível -diferentemente do vírus da gripe, ele não passa pelo ar-, ou porque a Sars é uma doença sazonal. "É uma questão que teremos de responder no próximo ano."

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