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11/04/2004
-
05h00
HELOISA PAIT
Free-Lance para a Folha de S. Paulo
Os americanos discutem hoje o papel dos Estados Unidos na ordem internacional como não o faziam no mínimo desde a Guerra do Vietnã (1965-75). É um debate que envolve os "think tanks" (institutos de estudos) conservadores, as revistas especializadas, a esquerda universitária e a imprensa em geral, e que repercutirá na eleição presidencial.
O 11 de Setembro, a intervenção no Afeganistão e os fracassos no Iraque mostraram ao americano médio a complexidade da política internacional e os deixaram sensíveis às opiniões internacionais sobre seu país e seu governo.
Voltou ao debate político um termo anteriormente de cunho pejorativo, "império". Durante a Guerra de Secessão (1861-1865), o sul acusava o norte de exercer uma posição imperialista como a dos europeus, e em épocas mais recentes a esquerda denunciou o imperialismo americano.
Agora, o império ressurge em suas várias denominações: o império "lite", do escritor Michael Ignatieff, que se engaja em ações humanitárias, o "império da liberdade", do historiador britânico Paul Johnson, e o "império informal", do também historiador britânico Niall Ferguson.
Mas os EUA são um império? Quais suas armas, seus aliados, e seus objetivos?
O neoconservador Richard Perle, até recentemente consultor do Pentágono, articula a visão que levou o presidente George W. Bush a essa segunda intervenção no Iraque. Os EUA, diz ele, têm de entrar batendo em regimes que alimentam o terror com fracasso econômico e opressão política: já foi a vez do Iraque e do Afeganistão, a Líbia pediu água, e agora é esperar para ver como a Síria, o Irã e a Arábia Saudita reagem. Para Perle, os EUA devem contar mais com reformas em suas agências de inteligência do que com a ONU ou com falsos aliados como a França. Mas dá pra agir sozinho?
O professor de Harvard Joseph Nye, subsecretário da Defesa durante o governo Bill Clinton (1993-2001), diz que é um erro chamar os EUA de império, pois o poder moderno reside principalmente em fluidas teias transnacionais de comunicação, onde os EUA não são hegemônicos. O Império Britânico tinha controle direto sobre as colônias, mas hoje é preciso exercer o poder com outros governos e com novas formas de organização globais.
O professor e ativista político Benjamin Barber vai além e diz que os EUA lutam a guerra errada, combatendo o fundamentalismo islâmico com o materialismo desenfreado que o alimenta (leia entrevista abaixo). Numa linha também cautelosa vai o experiente diplomata Zbigniew Brzezinski, alertando sobre a perda de liderança moral dos EUA com ações unilaterais.
O neoconservador Robert Kagan, do Carnegie Endowment for International Peace, se aproxima desse campo cauteloso dizendo que o motivo principal da colaboração entre os EUA e a Europa está no próprio público americano, que não aceitará o custo econômico e humano de intervenções militares se estiverem sob críticas das democracias liberais.
Opinião semelhante tem o historiador Ferguson, para quem os americanos precisam dos europeus na reconstrução de nações que submergiram no caos e no totalitarismo. "Se depois de seis meses os americanos ficam entediados e querem voltar para o Alabama, alguém tem de ficar no lugar deles" (leia entrevista abaixo).
Já o sociólogo Michael Mann acha que os EUA deveriam simplesmente levar as reivindicações de Bin Laden a sério e retirar suas bases dos países árabes. Para Mann, o problema todo reside nos EUA. Para Perle, a solução toda reside nos EUA. São posições extremas, à esquerda e à direita, que tendem a ficar na margem do debate nacional, à medida que os americanos percebem a necessidade de cooperação internacional num mundo globalizado.
Americanos tentam entender seu império
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Free-Lance para a Folha de S. Paulo
Os americanos discutem hoje o papel dos Estados Unidos na ordem internacional como não o faziam no mínimo desde a Guerra do Vietnã (1965-75). É um debate que envolve os "think tanks" (institutos de estudos) conservadores, as revistas especializadas, a esquerda universitária e a imprensa em geral, e que repercutirá na eleição presidencial.
O 11 de Setembro, a intervenção no Afeganistão e os fracassos no Iraque mostraram ao americano médio a complexidade da política internacional e os deixaram sensíveis às opiniões internacionais sobre seu país e seu governo.
Voltou ao debate político um termo anteriormente de cunho pejorativo, "império". Durante a Guerra de Secessão (1861-1865), o sul acusava o norte de exercer uma posição imperialista como a dos europeus, e em épocas mais recentes a esquerda denunciou o imperialismo americano.
Agora, o império ressurge em suas várias denominações: o império "lite", do escritor Michael Ignatieff, que se engaja em ações humanitárias, o "império da liberdade", do historiador britânico Paul Johnson, e o "império informal", do também historiador britânico Niall Ferguson.
Mas os EUA são um império? Quais suas armas, seus aliados, e seus objetivos?
O neoconservador Richard Perle, até recentemente consultor do Pentágono, articula a visão que levou o presidente George W. Bush a essa segunda intervenção no Iraque. Os EUA, diz ele, têm de entrar batendo em regimes que alimentam o terror com fracasso econômico e opressão política: já foi a vez do Iraque e do Afeganistão, a Líbia pediu água, e agora é esperar para ver como a Síria, o Irã e a Arábia Saudita reagem. Para Perle, os EUA devem contar mais com reformas em suas agências de inteligência do que com a ONU ou com falsos aliados como a França. Mas dá pra agir sozinho?
O professor de Harvard Joseph Nye, subsecretário da Defesa durante o governo Bill Clinton (1993-2001), diz que é um erro chamar os EUA de império, pois o poder moderno reside principalmente em fluidas teias transnacionais de comunicação, onde os EUA não são hegemônicos. O Império Britânico tinha controle direto sobre as colônias, mas hoje é preciso exercer o poder com outros governos e com novas formas de organização globais.
O professor e ativista político Benjamin Barber vai além e diz que os EUA lutam a guerra errada, combatendo o fundamentalismo islâmico com o materialismo desenfreado que o alimenta (leia entrevista abaixo). Numa linha também cautelosa vai o experiente diplomata Zbigniew Brzezinski, alertando sobre a perda de liderança moral dos EUA com ações unilaterais.
O neoconservador Robert Kagan, do Carnegie Endowment for International Peace, se aproxima desse campo cauteloso dizendo que o motivo principal da colaboração entre os EUA e a Europa está no próprio público americano, que não aceitará o custo econômico e humano de intervenções militares se estiverem sob críticas das democracias liberais.
Opinião semelhante tem o historiador Ferguson, para quem os americanos precisam dos europeus na reconstrução de nações que submergiram no caos e no totalitarismo. "Se depois de seis meses os americanos ficam entediados e querem voltar para o Alabama, alguém tem de ficar no lugar deles" (leia entrevista abaixo).
Já o sociólogo Michael Mann acha que os EUA deveriam simplesmente levar as reivindicações de Bin Laden a sério e retirar suas bases dos países árabes. Para Mann, o problema todo reside nos EUA. Para Perle, a solução toda reside nos EUA. São posições extremas, à esquerda e à direita, que tendem a ficar na margem do debate nacional, à medida que os americanos percebem a necessidade de cooperação internacional num mundo globalizado.
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