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16/04/2010 - 18h23

Análise: Capacidade intelectual marca pontificado de Bento 16

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BEATRIZ FARRUGIA
da Ansa

O pontificado de Bento 16 se diferencia dos antecessores pela capacidade intelectual e de argumentação do papa, o que faz com que ele não atraia a simpatia da comunidade internacional e da mídia, opinam especialistas.

"Ele é, sobretudo, um intelectual, um teólogo, que já escreveu estudos e documentos muito bons, que têm grande capacidade lógica", explica a vaticanista Elisa Pinna, que comanda a equipe da agência Ansa no Vaticano.

Segundo Pinna, tais características marcam profundamente o pontificado de Bento 16, que completa 83 anos de idade nesta sexta-feira e, na próxima segunda-feira, cinco anos na liderança da Igreja Católica.

"Pela primeira vez temos um papa convicto de sua linha de pensamento. Ele não fala, mas discute com [Karl] Marx, com [Sigmund] Freud. É um crítico da filosofia e da modernidade", destaca, por sua vez, o teólogo Fernando Altemeyer Júnior, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

Nascido na cidade de Marktl am Inn, sul da Alemanha, Ratzinger deu aula em várias universidades locais, como a Escola Superior de Filosofia e Teologia de Freising, e foi vice-reitor da Universidade de Regensburgo.

Esse repertório acadêmico contribuiu para que aguçasse seu potencial lógico e de questionamento, o que o faz ser um pontífice ativo em debates e focado em suas convicções, que muitas vezes não são populares.

Comparação com João Paulo 2º

Para o frade dominicano Frei Betto, esta postura contrasta, principalmente, com o seu antecessor direto, João Paulo 2º (1978-2005). "Não faço um balanço muito positivo desse período [pontificado de Bento 16]", opina o religioso, que aponta que o atual papa sucedeu "um homem de muita empatia com a opinião pública".

Por outro lado, Pinna esclarece que, apesar de Ratzinger não ser unanimidade na sociedade, ele consegue "tocar no coração das pessoas em seus discursos", o que, segundo a especialista, "é o fundamental".

"Ele não quer aplausos, não se importa com isso. Um teólogo não precisa de audiência", complementa Altemeyer, que afirma ainda que não há como comparar os dois pontificados.

"João Paulo 2º tinha outros interesses, questões geopolíticas, como a queda do Muro de Berlim. Mas Bento 16 se preocupa com a beleza, com a estética e com a convicção da religião. Ele luta contra a secularização. Seu pavor é que a Europa perca sua alma cristã", diz o teólogo.

Em diversas ocasiões, o papa demonstrou essa preocupação ao ressaltar que a mídia tem sido utilizada "para difundir o individualismo, o hedonismo e ideologias que minam os fundamentos do matrimônio, da família e da moral cristã".

Acusações de pedofilia

Altemeyer acredita ainda que os recentes casos de pedofilia denunciados em vários países contra membros da Igreja Católica não devem desviar o pontífice do que ele "programou nos últimos 40 anos".

"Isso só reforça a tese dele, paradoxalmente, claro. Ele não gostaria de ser papa e explodir tudo isso no colo dele. Mas, com sofrimento ou não, isso só vem corroborar aquilo que ele defende, porque agora ele pode falar 'olha, o mesmo vírus atacou meus companheiros', o vírus do cinismo, o uso da sexualidade como patologia etc.", completa.

Joseph Ratzinger foi eleito à sucessão de João Paulo 2º em 19 de abril de 2005, 17 dias após a morte de seu antecessor. Karol Wojtyla, que foi o primeiro papa polonês e exerceu um dos maiores pontificados da Igreja Católica, era aclamado pelos católicos.

 

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