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Chávez e Cristina Kirchner trocam gentilezas em Caracas
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FLÁVIA MARREIRO
em Caracas
Depois de ser oradora de honra da festa de bicentenário da independência da Venezuela, a presidente da Argentina, Cristina Fernández de Kirchner, encerrou nesta terça-feira a visita oficial ao país de Hugo Chávez assinando 25 acordos bilaterais, que incluíram a criação de três empresas mistas do setor de gás com investimento total estimado em US$ 300 milhões.
Todas as empresas formadas têm participação privada argentina em parceria com companhias da holding PDVSA, a estatal do petróleo venezuelana. Uma delas será baseada na costa argentina, para a regaseificação --o país de Cristina atravessa queda de produção de gás e quer diversificar suas fontes do combustível, que atualmente importa da Bolívia.
As duas outras empresas produzirão, na Venezuela, equipamentos para o uso de gás veicular. Questionado sobre a viabilidade de automóveis e caminhões a gás na Venezuela --onde a gasolina é baratíssima--, o ministro de Energia e presidente da PDVSA, Rafael Ramírez, afirmou que a aposta do país é justamente deixar de usar "de forma irracional" seus recursos naturais.
Um terceiro acordo tratou da criação de uma empresa mista para a produção de diques e barreiras para potencializar o transporte naval venezuelano. Os demais memorandos de entendimento visavam aumentar cooperação na área energética e de agricultura.
Gentilezas e modéstia
Como o brasileiro, o governo argentino mantém reuniões trimestrais com o venezuelano. Criticada em seu país pela aproximação com Chávez --Caracas é credora desde 2006 de mais de US$ 9 bilhões da dívida externa argentina--, Cristina enfatizou as vantagens da relação bilateral para o empresariado e o agronegócio de seu país. A Venezuela, com economia que depende 96% do petróleo, importa alimentos e manufaturados argentinos.
A presidente argentina também foi criticada na Venezuela. Historiadores e a oposição atacaram sua escolha como oradora da sessão solene pelo bicentenário. Mas, no evento, Cristina marcou alguma distância da retórica do anfitrião. Defendeu seu movimento peronista como fundadores da "terceira via" --nem alinhado com os EUA nem com a URSS na Guerra Fria. Comentou ainda que ante as exibições de força militar --horas antes as novas aquisições de armamentos da Venezuela haviam sido estrelas na parada pelo bicentenário--, preferia "a força das ideias".
Nesta terça-feira, no Palácio Miraflores, sede da Presidência da Venezuela, Cristina defendeu a "diversidade de pensamento" e rejeitou todo tipo de "verdade única". Agradeceu mais uma vez a honra "que não merecia" de estrelar a festa venezuelana. Chávez elogiou e agradeceu Cristina, mas brincou com a convidada: "Nunca vi uma pessoa tão modesta. Muito menos um argentino".
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