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31/05/2004 - 07h26

Premiê haitiano pede Ronaldo contra crise

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FABIANO MAISONNAVE
enviado da Folha de S.Paulo a Guadalajara (México)

Apesar de terem participado no México da mesma sessão da 3ª Cúpula América Latina e Caribe - União Européia, na sexta-feira passada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não chegou sequer a cumprimentar o primeiro-ministro haitiano, Gérard Latortue.

Caso Latortue tivesse sido um dos dez líderes que mantiveram encontros com Lula, teria dado um conselho: enviar também craques da seleção brasileira.

O premiê haitiano acredita que muitos dos homens armados trocariam seus fuzis por um ingresso para ver um jogo de futebol.

O conselho pode parecer excêntrico, mas se baseia na conhecida adoração pelo futebol brasileiro no Haiti --em 2002, quando o Brasil ganhou a Copa, o país teve dois dias de feriado nacional.

Um dos países mais pobres do mundo, o Haiti passou no início do ano por violentos distúrbios armados, que deixaram dezenas de mortos e culminaram com a saída em fevereiro do ex-presidente Jean-Bertrand Aristide (que ontem partiu da Jamaica para exílio na África do Sul).

O economista Latortue, 69, ex-funcionário da ONU, foi escolhido interinamente para o cargo no início de março por um conselho de "haitianos eminentes", apoiados pelos EUA. A missão de Latortue é conduzir o governo interino até novas eleições, previstas para 2005. Desde que assumiu o cargo, encontrou-se duas vezes com o secretário de Estado norte-americano, Colin Powell. A Presidência do país é ocupada por Alexandre Boniface, que ficou com um papel menor na transição.

Folha - Segundo o senhor, as tropas de paz da ONU têm de desarmar aproximadamente 15.800 homens. A violência é inevitável numa operação desse tipo?
Gérard Latortue
- Não acredito que seja. Alguns já foram desarmados pelas forças multinacionais, composta de franceses, canadenses e chilenos. Ainda há problemas sobretudo na região de Porto Príncipe e no norte do país. Acredito que, quando as tropas chegarem e expressarem seu desejo de desarmar as pessoas de todos os grupos, creio que a população cooperará.
O Brasil tem boa vantagem. Os haitianos amam o Brasil e amam o futebol brasileiro. Se o Brasil enviasse, com as tropas, dois ou três dos melhores jogadores, essas pessoas poderiam fazer uma promoção pública do Exército brasileiro melhor do que qualquer outra iniciativa brasileira.
No caso do desarmamento, é necessário ter a participação da população. Espero que, durante o período, o Brasil organize um ou dois jogos amistosos de futebol. Isso ajudará a aliviar a tensão. Se eles fizerem os jogos, todas as gangues assistirão à partida. Se as armas forem exigidas como ingresso, muitos deles as darão livremente somente para ver Ronaldo, Cafu ou Kaká.

Folha - O sr. já propôs isso ao governo brasileiro?
Latortue
- Não, não. Se o Brasil quiser sair da diplomacia tradicional e levar em consideração o que estou dizendo, essa é a garantia para o sucesso.

Folha - O sr. afirma que apenas 10% das milícias foram desarmadas e que há 15 mil partidários de Aristide armados no país. O sr. acredita que eles resistirão?
Latortue
- Enquanto Aristide estava na vizinha Jamaica, eles esperavam que ele retornaria. Mas Aristide irá [partiu ontem] para a África do Sul. Isso é um novo fato que mudará a situação. O governo jamaicano foi muito cuidadoso e não deixou Aristide causar problemas no Haiti.

Folha - Como está o contato entre os governos brasileiro e haitiano?
Latortue
- O contato tem sido feito em nível diplomático. Foi um infortúnio não ter me encontrado com Lula. Estive com os presidentes do Uruguai, do Chile e do Paraguai, mas não com Lula. Esperamos que a presença do Brasil não seja apenas com tropas mas também com contribuições ao desenvolvimento social e econômico do Haiti. Temos muito para aprender com a agroindústria brasileira. A tecnologia da rapadura poderia ficar disponível para nós. É um produto caro nos EUA, e há bom mercado.

Folha - O sr. apertou as mãos de Lula?
Latortue
- Eu o vi à distância, mas não tive chance. Estávamos à mesa na mesma sessão, na frente dele. Fizemos contato com os olhos. Foi muito ruim.

Folha - Lula o reconheceu?
Latortue
- Não sei. Eu sabia quem ele era. Planejo, porém, visitar todos os países que estão enviando tropas ao Haiti, mas tradicionalmente os presidentes de todos os países que enviam tropas normalmente visitam os soldados. Então espero que Lula visite o Haiti e eu o encontre.

Folha - O sr. pretende concorrer à Presidência?
Latortue
- Não, todos os membros do governo juraram não participar das eleições e não aceitar um cargo no próximo governo.
 

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