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02/03/2006 - 19h32

Washington quer criar dificuldades para governo do Hamas

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da France Presse, em Washington
da Efe, em Moscou

Os Estados Unidos querem isolar financeira e politicamente o movimento radical palestino Hamas para que o grupo tenha "muitas dificuldades" para governar, declarou nesta quinta-feira o subsecretário de Estado americano para o Oriente Médio, David Welch.

Washington está tentando dissuadir outros países de se encontrar com líderes do Hamas, de modo a isolar o grupo extremista, vencedor das últimas eleições palestinas de janeiro e considerado um grupo terrorista pelos Estados Unidos e a União Européia, lembrou Welch no Congresso.

"Nós lhes pedimos que evitem qualquer contato, porque, na nossa opinião, o isolamento e as pressões devem ser as palavras-chave neste momento", declarou Welch, que acompanhou a secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, em sua recente viagem ao Oriente Médio.

"Se for necessário, porém, ter contatos (...) vamos chamar sua atenção para a declaração do Quarteto para o Oriente Médio [ONU, Estados Unidos, União Européia e Rússia]", que pede ao Hamas para reconhecer Israel, renunciar à violência e respeitar os acordos feitos entre os dirigentes palestinos e a comunidade internacional, acrescentou.

A estratégia americana é "fazer com que eles tenham muitas dificuldades para governar", concluiu Welch.

Visita a Moscou

Uma delegação do Hamas chega amanhã à Rússia para os primeiros diálogos com um integrante do Quarteto de Madri, em uma tentativa de romper seu isolamento e expor sua visão sobre o conflito com Israel.

"A visita tem por objetivo iniciar o diálogo. Sem pressões nem condições prévias", declarou Khaled Mashaal, chefe da delegação e dirigente do escritório político do Hamas no exílio em Damasco, ao jornal russo "Vremia Novostei".

Mashaal, que será recebido pelo ministro russo de Relações Exteriores, Serguei Lavrov, disse existir uma nova realidade no Oriente Médio.

"O Hamas chegou ao poder na Palestina. Esta é a escolha do povo palestino e a comunidade internacional deve respeitá-la", disse Mashaal.

O chefe da diplomacia russa assegurou que, em seu encontro com o Hamas, serão discutidos os acordos adotados em 30 de janeiro pelo Quarteto.

O Kremlin prometeu transmitir ao Hamas um sinal claro sobre a necessidade de renunciar ao terrorismo, abandonar as armas e da coexistência de um Estado palestino independente e democrático em paz e segurança com Israel.

Embora Mashaal não descarte um encontro com o presidente russo, Vladimir Putin, o chefe do Kremlin prometeu recentemente às autoridades israelenses que não receberia, em nenhuma hipótese, os dirigentes do Hamas.

"A vitória do Hamas é uma oportunidade. Chegou o momento de remover os obstáculos [à estabilidade] no Oriente Médio. Isso, claro, se o mundo quiser paz na região. Em caso contrário, os palestinos não renunciarão a seus direitos e terão de defendê-los", declarou Mashaal.

Ao contrário de outros membros do Quarteto, Moscou não considera que o Hamas seja uma organização terrorista, apesar de o grupo palestino pregar o desaparecimento do Estado israelense, fundado em 1948.

O movimento islâmico palestino, autor de dezenas de atentados suicidas contra instalações israelenses, declarou trégua há mais de um ano.

Mashaal louvou a "coragem" da Rússia ao convidar o Hamas para visitar Moscou, mas não deixou nenhum espaço para esperanças de entendimento ao tachar de "injusto" e "ilógico" exigir que "a vítima [os palestinos] reconheça o ocupante e assassino [Israel]".

"O governo palestino anterior reconheceu Israel. E daí? Adiantou alguma coisa? Mudou alguma coisa? A ocupação terminou? Israel mudou sua postura?", questionou Mashaal.

O líder do Hamas considera um "erro" a postura dos que defendem que o Hamas reconheça Israel, "que pode matar, continuar sua ocupação e não reconhecer absolutamente nenhum dos direitos" palestinos.

"Por que a comunidade internacional não pede a Israel que termine com a ocupação? Por que a pressão só é feita sobre os palestinos?", disse o dirigente.

Mashaal quis enviar uma mensagem à comunidade internacional: "Queremos o retorno de Israel às fronteiras de 1967 e que reconheça os nossos direitos, incluindo o retorno dos refugiados e o direito a [assumir o controle sobre] Jerusalém".

"Só depois podem pedir posições similares dos palestinos. Não haverá nem paz nem segurança nas atuais condições de ocupação", acrescentou Mashaal.

A Rússia considera que os diálogos com o Hamas são imprescindíveis para "evitar a degradação do processo de paz" e preservar as perspectivas de avanço do plano de paz internacional para o Oriente Médio desenhado pelo Quarteto.

Sobre os acordos assinados pela ANP (Autoridade Nacional Palestina), Mashaal disse que "a situação no Oriente Médio obriga à revisão" dos atuais mecanismos de paz.

"Estes mecanismos de regra nos permitem ver a luz no fim do túnel e nos tirará do atual beco sem saída, ou devemos mudar os enfoques?", perguntou Mashaal.

O dirigente do Hamas também negou que, para receber financiamento do exterior, o grupo esteja disposto a "vender seus direitos legítimos".

"Esse apoio é parte de nosso direito como povo que sofre e vive sob ocupação. Mas essa é um ajuda humanitária, não se pode impor condições. Isso é inaceitável", advertiu o chefe da delegação palestina.

Nesse caso, segundo Mashaal acrescentou, "os palestinos podem dar um jeito com a ajuda dos árabes, dos muçulmanos e de nossos amigos", entre os quais mencionou explicitamente o Irã.

Putin convidou o Hamas no início de fevereiro para um "exercício de responsabilidade", a fim de expressar a necessidade de que renuncie à luta armada e reconheça o direito do Estado de Israel a existir.

O convite provocou reações extremadas nos Estados Unidos e em Israel, que considerou a iniciativa "uma punhalada pelas costas", enquanto a França apoio a iniciativa do chefe do Kremlin.

Por sua vez, o candidato do Hamas a primeiro-ministro da ANP, Ismail Haniyeh, prometeu a jornais russos que sua primeira visita oficial ao exterior será feita à Rússia.

"Caos social"

Ontem, o ministro das Relações Exteriores francês, Philippe Douste-Blazy, advertiu sua colega israelense, Tzipi Livni, que uma disfunção grave na estrutura política e econômica do governo palestino pode detonar um "caos social" nos territórios.

"Um desmoronamento brutal da administração e da economia palestinas não beneficiaria ninguém, levaria a um caos social, econômico e da segurança, com uma retomada dos atos de violência", declarou Douste-Blazy, antes de um jantar de trabalho com Livni.

O chanceler francês pediu a Israel que dê seu apoio ao presidente da ANP (Autoridade Nacional Palestina), Mahmoud Abbas, e considerou perigoso retirar toda a ajuda financeira dos palestinos, "pelo menos até que se instaure o novo governo" do movimento radical Hamas.

Livni respondeu que seu país não quer prejudicar a população civil palestina, mas frisou que, "quando uma organização islâmica pede a destruição de Israel, temos de nos defender".

"Ninguém deveria manter contatos com o Hamas até que ele aceite as condições" da comunidade internacional, ou seja, a renúncia à violência e o reconhecimento de Israel e dos tratados de paz.

Especial
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