Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
20/04/2006 - 10h44

Vítimas reconhecem centro de tortura no Chile

Publicidade

da Ansa, em Santiago
da Folha Online

Colonos de Villa Baviera, prédio que servia como sede da colônia alemã Dignidade, no Chile, reconheceram nesta quarta-feira o local que foi utilizado como centro de torturas e prisão de opositores à ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).

Eles também revelaram que o fundador da colônia, o ex-militar nazista Paul Schäffer, escravizou prisioneiros e violentou crianças, entre elas seus próprios filhos.

"Depois do golpe militar [de Pinochet], Schäffer colaborou ativamente na repressão de opositores políticos, e destinou a Villa Baviera como centro de detenção e tortura de pessoas perseguidas pelo regime", de acordo com informações publicadas pela imprensa chilena nesta quarta-feira.

Durante 43 anos, imigrantes alemães conviveram em uma comunidade chamada Colonia Dignidad, que posteriormente teve seu nome alterado para Villa Baviera, no sul do Chile. Pessoas que viveram no local afirmam ter vivido de forma alienada e enganados por Schäffer, que à época era guru da comunidade. Os colonos só deixaram o local para fazer negócios agrícolas e responder judicialmente a acusações de abuso sexual de menores. Foi quando revelaram os horrores ocorridos na Colonia Dignidad.

Atualmente, Schäffer, 84, está preso na Chile. Ele é acusado de abusar sexualmente de dezenas crianças e de ajudar a polícia secreta chilena na repressão a opositores durante a ditadura militar do país. Sua seita pregava a ausência de contato entre homens e mulheres e longas horas de trabalho em troca de comida e moradia comunitárias.

Anteriormente, os colonos se diziam convencidos de que tais informações [sobre tortura e abuso] eram acusações sem fundamento, pois Schäffer conseguiu mantê-los com o mínimo de informação --fazendo com que praticamente ignorasse o que realmente ocorria na Villa Baviera, de acordo com as informações publicadas.

Agora, os colonos admitem que a ocorrência de graves delitos. "Ainda aguardamos esclarecimentos definitivos da Justiça, com a qual queremos colaborar na medida de nossas forças e de nossos conhecimentos. Compreendemos e respeitamos a dor de todas as pessoas que sofreram, depois de setembro de 1973, com a perda de parentes próximos e, principalmente, daquelas que ainda desconhecem o destino de seus entes queridos", disseram.

Segundo o texto, moradores da Villa Baviera culpam Schäffer de agir de forma "obsessiva" na busca pela pureza moral e, principalmente, pela proteção da juventude contra tentações sexuais'. No entanto, afirmam que, apesar desse "exagero de uma moral aparentemente tão estrita", o fundador da colônia construiu um "muro" que escondia suas perversões'.

Abuso infantil

"Ele [Schäffer] escolheu suas vítimas de maneira que nenhum adulto teve conhecimento dos abusos que ocorriam. Entre as crianças [abusadas], estariam seus próprios filhos -- para quem ele era a única e exclusiva autoridade", diz o documento, acrescentando que Schäffer teria obrigado suas vítimas infantis [muitas delas sem entender que se tratava de violência sexual] a contar a ninguém o que acontecia.

"Elas [as crianças] nem entendiam o que lhes ocorria. Confundiam as perversões de Schäffer com mostras de carinho, também dadas por ele, que acabou virando um ídolo às crianças", segundo os relatos. Schäffer também teria causados danos a pessoas de fora da Villa Baviera.

De acordo com a declaração-denúncia, entre os métodos de tortura utilizados por Schäffer, estariam a aplicação de altas doses de tranqüilizantes, choques elétricos e longos períodos de isolamento --alguns durante anos.

Nas atuais declarações, os colonos classificam Schäffer como um "líder despótico" e prometem se esforçar porque querem a oportunidade de serem perdoados e reintegrados à sociedade chilena.

"Estamos dispostos a colaborar, para assim diminuir os sofrimentos que causamos aos outros e a nós mesmos, para que em Villa Baviera nunca mais ocorram os horrores do passado", diz a declaração.

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre a ditadura chilena
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página