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Sábado, 29 de abril de 2000

Quarto (mundo)

José Henrique Mariante
     
 



Graças a uma nota da semana passada, a coluna foi tomada por alguns leitores como exemplo de antinacionalismo e pessimismo contraproducente que nada acrescenta à pátria de 500 anos.

A tal nota comentava que Barrichello, até então, não havia conseguido superar seus três reais adversários deste ano em treinos.

A resposta de Barrichello surgiu no mesmo dia, com a pole em Silverstone, suficiente para que iradas mensagens chegassem ao colunista cobrando uma retratação.

Seria fácil afirmar que Barrichello terminou a classificação em primeiro, e o conturbado fim-de-semana de Silverstone apenas em quarto no campeonato.

Seria fácil também admitir que o jornal de sábado já estava embrulhando peixe no domingo, talvez a mais conveniente prerrogativa do jornalismo diário.

Nada disso, porém, interessa a esses leitores, que transformaram a pole do piloto brasileiro em uma espécie de prova do orgulho nacional em dia de efeméride.

Algo até coerente diante do fiasco em que se transformou a festa, organizada por um sujeito que estava com a cabeça a prêmio e que culminou com o vexame da nau indo a pique junto com os tantos milhões que consumiu.

Guardadas as devidas proporções, seria possível recordar até de 1986, quando Senna mostrou a bandeira brasileira na vitória em Detroit um dia depois da mortal cobrança de pênaltis contra a França, na Copa do México.

Mas mais do que guardar proporções, correto seria admitir a falta de proporcionalidade entre esses dois fins-de-semana. Pelos personagens, pelas circunstâncias.

Também no domingo, a Folha publicou pesquisa Datafolha com o título "O país do futuro imediato", uma radiografia da auto-estima nacional. Senna superou Getúlio, Pelé e Tiradentes como o maior herói brasileiro de todos os tempos.

Barrichello foi lembrado entre os que melhor representariam a cara do futuro do país (liderados por um sintomático "ninguém"), com citação mínima, ao lado de figuras como Sasha.

Finalmente, o esporte é e será, disparado, a maior contribuição do país para o mundo, à frente da música, da TV, da agricultura etc.

Nesse universo, Barrichello é uma esperança de termos um herói. E essa esperança varia entre a euforia de vermos um davi superando golias germânicos no sábado e o desespero/desilusão/desprezo de constatar conspiração/azar/incompetência no domingo.

Mas Barrichello é apenas o que temos de imediato. E no lugar de entender essa limitação, vamos, público e mídia, tentar usurpar esse potencial heroísmo do piloto até as últimas consequências.

A coluna, desde o anúncio da contratação de Barrichello, busca evitar esse erro, tentando demonstrar e analisar sua real situação na Ferrari e na própria F-1, que não é tão boa como apregoam alguns, mas também não é tão ruim como defendem outros.

Barrichello é o quarto e precisa melhorar.

Admitir isso é o primeiro passo.




NOTAS


Domínio
Os resultados dos testes de Barcelona foram acachapantes. Em todos os dias, sem exceção, a Ferrari dominou a McLaren, fazendo com que Schumacher até sonhasse publicamente com a primeira pole do ano. A de Barrichello, em Silverstone, foi creditada corretamente pela equipe como fruto de seu esforço pessoal em uma situação adversa _suas três poles foram obtidas assim.

Diversidade
O que mais impressiona na Indy, neste ano, é como os resultados, tanto em classificação como em corrida, estão dispersos até aqui. A razão para isso deve estar nas diversas alterações de motores e chassis promovidas pelas equipes para esta temporada. O Rio recebe a prova pela quinta vez, neste fim-de-semana, mas ainda não conseguiu emplacar o evento de verdade. E o problema passa, claro, pela quase ausência da TV na promoção da prova.



E-mail:
mariante@uol.com.br



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