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Fotos, vídeos e cartas revelam o Mário de Andrade gestor

Itaú Cultural lembra período de 1935 a 1938 em que autor foi diretor de educação e recreação da Prefeitura de SP

Curadora vê sintonia entre o escritor e o administrador, preocupado em modernizar a cidade

TRAJANO PONTES COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Vai uma caipirinha de melancia aí? Talvez não, se você for dos que acreditam que essa fruta e álcool fazem mal quando reunidos. E há quem acredite. Ou, ao menos, quem acreditasse, lá por 1937, ano em que Mário de Andrade quis saber mais sobre as proibições alimentares dos paulistas.

O interesse não era literário, ao menos não diretamente. O levantamento foi feito pela Sociedade de Etnografia e Folclore, parte do Departamento de Cultura e Recreação da Cidade de São Paulo, dirigido por ele de 1935 a 1938.

Essa faceta de gestor de políticas públicas é lembrada pela Ocupação Mário de Andrade, em cartaz no Itaú Cultural.

Fotos, documentos, cartas, discos, vídeos e réplicas de objetos do escritor ajudam a reconstituir a gestão.

Apesar do nome do órgão, educação e recreação não eram todo o seu escopo. A ideia era cuidar da formação de público e da expansão cultural. Por isso, Mário criou uma rede de bibliotecas físicas e literalmente circulantes: jardineiras cheias de livros rodavam parques da cidade.

Mário e a rede de amigos com quem compartilhava angústias e experiências --como revela a correspondência na mostra-- também se preocuparam com documentação histórica e social.

A mostra traz mapas indicando aspectos demográficos da cidade que recebia grandes contingentes de europeus.

A cara desses imigrantes recentes aparece nas fotos de B.J. Duarte que registram os parques infantis criados em bairros operários para dar atividades divertidas e culturais a crianças de até 12 anos.

Os parques foram uma das prioridades de Mário à frente da secretaria. Um curioso vídeo institucional revela crianças na piscina, no banho de sol, recebendo cuidados médicos e odontológicos. Nada muito diferente dos equivalentes de hoje, mas com narração datada e empostada impossível de não se gostar.

De longe de São Paulo vêm vídeos e fotos da missão folclórica que Mário fez percorrer o Nordeste. Sob a liderança do engenheiro Luis Saia, o grupo captou como as pessoas viviam, o que dançavam, onde moravam, que música tocavam.

CAÍ COM OS COBRES

A curadora Silvana Rubino vê sintonia entre gestor e escritor. "Como é que se podia ter o modernismo estético numa cidade arcaica. Dá para ser moderno se falta escola? Como entender ruptura estética sem repertório?", pergunta.

"Mário era um homem à frente do seu tempo?", pergunto. "Talvez ele estivesse plenamente ligado às questões diante de seus olhos e houvesse quem segurasse o breque", ela prefere dizer.

A exposição não aborda aspectos econômicos da gestão, mas uma curiosa nota fiscal revela um gestor cuidadoso. "Comprei pro Departamento pagar mas depois achei caro e caí com os cobres eu mesmo". Era um tinteiro, adquirido da joalheria La Royale.


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