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Crítica - Teatro

Peça sobre complicações do dia a dia tem efeito de velho sermão

Espetáculo dirigido por Marcia Abujamra reúne textos de cinco dramaturgos

GUSTAVO FIORATTI CRÍTICO DA FOLHA

O espetáculo teatral "C+A+T+R+A+C+A" se propõe a falar "sobre a nossa vida e a crescente impossibilidade de vê-la fluir". Palavras extraídas do próprio programa, em texto escrito pela diretora do projeto, Marcia Abujamra.

Há dois desafios a serem superados pelo trabalho em sua concepção.

1) Rever um tema que sofreu desgastes desde que o Movimento Passe Livre, no ano passado, elegeu simbolicamente a catraca entre os vilões da mobilidade urbana.

2) Circundar num mesmo jogo cênico a identidade de cinco autores (Fernando Bonassi, Jô Bilac, Marcelo Romagnoli, Noemi Marinho e Priscila Gontijo), convidados a criar a partir do tema anunciado.

Calcificado no berço, o trabalho emperra no número de obstáculos a serem superados por uma simpática proposta de criação. Contra o tal monstro da "catracalização", acaba subindo ao ringue um Frankenstein.

Verdade que a luta é boa, e o resultado não é exatamente ruim. A peça tem humor, abre-se para breves momentos oníricos, vibra no cuidado artesanal que há em cada centímetro de cena.

Seriam bem-vindos, aliás, mais espetáculos como este, arquitetados também espacialmente.

Em "C+A+T+R+A+C+A", quatro plateias são separadas por uma espécie de encruzilhada.

Neste espaço, um roteirista passará por um processo de seleção de emprego em uma grande corporação, depois um repórter fará perguntas estúpidas para uma passista dispersiva, entre outros conflitos.

Há, na colcha de retalhos, sacadas inspiradoras, como a cena de um casal que discute a relação durante um jantar, só que com um pilar bem no meio da mesa. A mesma situação é encenada duas vezes, com um casal gay por último.

As diversas costuras, no entanto, e o esforço por soluções que possibilitem a tão sonhada fluidez, amarram a peça nos excessos da experimentação. Em outras palavras, a peça é mais costuras do que pano.

No fim, associar a palavra "catraca" ao mundo de executivos e repórteres, sem jogar também sobre si o peso, acaba tendo o efeito de um velho sermão.


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