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CRÍTICA / TRAGÉDIA

Montagem de grupo experimental renova peça de Shakespeare

Atores do Wooster Group levam "Hamlet" aos palcos e interagem com versão do espetáculo filmada em 1964

LUIZ FERNANDO RAMOS CRÍTICO DA FOLHA

Teatro em trânsito. Em seu "Hamlet", o Wooster Group alarga as possibilidades da mimesis espetacular, revertendo tendência de migração da teatralidade para as telas.

No espetáculo, imagens filmadas reaparecem revigoradas na tridimensionalidade do palco.

O texto de William Shakespeare (1564-1616), mediado pela versão filmada por John Gielgud (1904-2000) em 1964, e afetado pelo descompasso inevitável entre as imagens da película e sua imitação sincrônica no palco, ganha novos ares.

O ator Scott Shepherd, excelente no papel do protagonista, joga abertamente desde o início, informando os procedimentos utilizados para transpor o filme para a cena, que chama de "teatro-filme reverso".

Quando a ação se inicia, os intérpretes tornam-se também manipuladores de objetos, adereços, câmeras e telas, como se animassem o espaço cênico ao mesmo tempo em que dizem suas falas.

Com isso, confronta-se o texto mítico com o esforço patético de repetir ao vivo, e com destreza extraordinária, o que o ainda jovem Richard Burton (1925-1984) e companhia fizeram há 50 anos.

PAUSAS

Até pelo significado daquele filme, realizado para gerar duas transmissões ao vivo, simultâneas em milhares de cinemas, e, com isso, inventar um novo meio, o "teatro-filme", o "Hamlet" do Wooster, na contramão, efetivamente constitui um "filme-teatro".

A direção de Elizabeth LeCompte define as marcações a partir dos enquadramentos das 17 câmeras utilizadas na filmagem de 1964 e de uma reedição que suprime e desloca pausas.

Assim, prevalece no espaço cênico a lógica do diretor de TV que cortou a exibição do filme, acrescida dos "pulos" que a nova edição incorporou. Desmonta-se, assim, a gramática fílmica e descobrem-se novas possibilidades cênicas.

Que a verve do bardo inglês mostre-se resistente no embate com a massa de indícios visuais proposta só confirma sua genialidade. O que se apresenta, porém, renova-a com tanta intensidade que o modo de fazê-lo torna-se achado realmente memorável.


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