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MBAs mudam para contemplar mais empreendedorismo

Com boom de novos negócios e de empresas iniciantes de tecnologia, escolas tentam ampliar conteúdo prático

Karime Xavier/Folhapress
Reynaldo Ng abriu uma academia de dança durante o curso de MBA
Reynaldo Ng abriu uma academia de dança durante o curso de MBA
FELIPE GUTIERREZ FELIPE MAIA DE SÃO PAULO

A ECONOMIA MUDOU, E GRADES CURRICULARES DOS CURSOS DE MBA PRECISAM SE ADAPTAR ÀS TENDÊNCIAS DOS NOVOS NEGÓCIOS

Ganha força uma tese: os cursos de MBA precisam se reinventar. Isso porque, com o culto ao empreendedorismo e a explosão de novos negócios, a economia mudou, mas as grades curriculares teriam permanecido muito teóricas e demasiadamente focadas em formar consultores ou executivos de grandes empresas.

A tese não é unanimidade, mas já é encampada pela prestigiosa Universidade Harvard, que reformulou o conteúdo de seus programas de MBA para dar ênfase a experiências empresariais reais. Nos EUA, há ainda um best-seller que preconiza a ideia (veja entrevista na página 7).

No Brasil, escolas também fazem adaptações para contemplar novas necessidades.

Na FIA (Fundação Instituição de Administração), matérias de empreendedorismo foram adicionadas ao currículo dos cursos de MBA, diz o coordenador James Wright.

"Os alunos são obrigados a desenvolver um plano de negócio. Os melhores são apresentados para um grupo de investidores."

A Trevisan Escola de Negócios reformulou a grade de 2013 para valorizar a aplicação prática de conhecimentos e para melhorar características dos alunos, como a capacidade de liderança.

Foi exatamente a falta de ligação entre teoria e prática que incomodou o ex-aluno Thiago Nascimento, 26, cofundador da Bloompa, empresa que vende serviços para lojas virtuais. Ele terminou o MBA, mas diz que o curso teve pouco impacto na carreira.

"A pós me despertou certas curiosidades, mas o que realmente aprendi foram as coisas de que fui atrás por vontade própria. Para quem quer empreender, quanto mais prático [o curso], melhor", destaca.

Carlos da Costa, presidente da escola de negócios iPL (Instituto de Performance e Liderança, na sigla em inglês), afirma que os formados em um curso de MBA sabem fazer boas análises e recomendações, mas têm dificuldade de tomar boas decisões.

"No dia a dia de uma empresa, é preciso saber correr riscos, tomar atitudes, ir atrás de clientes, de linhas de crédito, enfim, colocar ideias de pé." Para isso, afirma, nem todas as escolas estão preparadas.

VELOCIDADE

Atualmente no primeiro trimestre do MBA, Marcelo Germano, 39, dono da Lumma Despachantes, está pensando em trancar a matrícula.

Ele diz que para alguém que quer ser diretor de uma organização ou seguir carreira em uma grande empresa, o curso é válido porque o aluno "vai assimilando conhecimentos e desenvolvendo competências" para assumir um cargo de gestor.

No entanto, para aqueles que têm um negócio próprio, diz ele, o MBA é lento e não combina com a vida do empreendedor, que tem um ritmo acelerado.

Para Germano, falta adaptação às necessidades de quem precisa gerir uma microempresa, já que as aulas ensinam a tomar decisões com base em dados que só podem ser obtidos a partir de pesquisas muito caras para um pequeno empresário.

"Acho o curso muito rico. Mas ele não deveria ser útil só para quando eu 'for' algo. Eu já sou empreendedor."

O engenheiro Rogério Santos, 27, adiou o MBA que faria para aprender a gerir negócios. Fazer o curso seria o "caminho natural", ele destaca, mas, em vez disso, optou por trabalhar em uma start-up, a loja on-line de móveis Mobly. "Em uma empresa menor, eu estou, de certa forma, empreendendo, fazendo as coisas acontecerem do zero. Estou tendo muita experiência em liderança."

HARVARD

Com base nas novas necessidades dos alunos, a escola de negócios de Harvard começou, no ano passado, a implementar mudanças em seu programa de MBA.

Um novo módulo obrigatório, logo no primeiro ano, exige que os estudantes viajem para países emergentes, como o Brasil, para desenvolver um novo produto ou serviço em alguma das empresas parceiras da universidade.

Os estudantes também têm de unir os conhecimentos adquiridos durante o curso para desenvolver e lançar um pequeno negócio real.

Além disso, eles formam pequenos grupos a fim de desenvolver capacidades de liderança por meio de avaliações de professores e dos próprios colegas.

E todas essas novidades e aplicações práticas acontecem em um curso "strictu sensu", já que, nos EUA, esses programas são uma pós-graduação equivalente a um mestrado.

No Brasil, nem todos acham que esse deve ser o caminho.

CONTEÚDOS DOS PROGRAMAS PASSAM A DAR ÊNFASE A EXPERIÊNCIAS PRÁTICAS, ATÉ MESMO COM LANÇAMENTO DE EMPRESAS REAIS

"Quando o profissional volta à escola, quer mais informação. Quer se atualizar. Na carreira, já vê coisas práticas no dia a dia. Não é finalidade da escola ensinar isso", afirma Marina Heck, da Fundação Getulio Vargas.

É uma posição parecida com a de Marcelo Politi, 50, sócio da empresa N9ve Eventos, que completou o MBA no Ibmec em 2003. "É um curso teórico que vale a pena quando já se tem prática."

Olavo Furtado, coordenador de MBA da Trevisan Escola de Negócios, destaca que o objetivo do curso é fornecer instrumentos para que os alunos saibam lidar com "características intangíveis" nas organizações, como os relacionamentos humanos.

Reynaldo Ng, 32, abriu a Academia Movimento e Arte, especializada em dança, quando cursava o MBA na BBS (Brazilian Business School). "O curso deu ideias de como conduzir o negócio."

Ele afirma que técnicas que aprendeu para fazer pesquisas de mercado o ajudaram a medir o interesse por um novo serviço no bairro onde está a academia. Ele conta também que aprendeu novas técnicas para fazer a divulgação do empreendimento.

Ng lembra que, durante as aulas no MBA, colocava em discussão situações que vivia na sua empresa e usava as respostas dos professores como uma consultoria.

ESCOLHA

Armando Dal Colletto, diretor-executivo da Associação Nacional de MBA, explica que para emitir certificado de MBA a escola precisa ser uma instituição de ensino (por exemplo, uma faculdade ou uma universidade).

Caso o curso não seja ministrado em uma instituição de ensino, a escola precisa ter um acordo com uma faculdade ou com uma universidade.

Há ainda escolas que emitem certificados porque conseguiram liminar da Justiça.

Segundo Colletto, não há uma correlação entre o tipo de instituição que ministra o MBA e o grau de aplicação prática do curso.

Ele recomenda que, antes de optar por um programa, o candidato verifique a grade de aulas, descubra quem são os professores e tente conversar com ex-alunos para saber se o curso atenderá às expectativas que mantém.

ANTES DE ESCOLHER UM CURSO, VEJA COMO É A GRADE DE AULAS, QUEM SÃO OS PROFESSORES E FALE COM EX-ALUNOS


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