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Nina Horta

Ninguém manda em mim

Confesso que, ao passar numa vitrine de livraria, eu sorria ao ver que não havia um que eu não tivesse

Meu Deus, vocês não imaginam como sou apegada à Amazon americana. Desde que começou, nunca deixei de comprar meus livros de cozinha lá. E, quando viajava, confesso que, ao passar numa vitrine de livraria, sorria ao ver que não havia unzinho (bom) que eu não tivesse, compradora compulsiva que sou.

E jamais me desapontaram. E jamais deixaram de me responder. E sempre perdoaram meus erros. São meus amigos, ou melhor, eu sou amiga deles, prima, irmã, vítima talvez.

Quando a campainha toca e é um daqueles embrulhos pardos, dá um calor no coração. E o Kindle, juro que posso chorar de alegria ao precisar de um livro e obtê-lo no mesmo segundo, inteirinho, brilhante, com capa e tudo, e fotos, caindo virtualmente no meu colo. Demais.

Os milhares de livros sobre alimentação que saem no mundo estão lá. Tudo, uma pequena tese sobre mandioca, um maluco que cozinha no mato para testar a sobrevivência, cozinheiros assassinos.

Então, venho dizer que a Amazon que se estabeleceu aqui não está fazendo um bom marketing de si própria. Vejo por mim e por todos os meus fraternos amigos. Toda e qualquer possibilidade de fazer parte da Amazon daqui nos apavora. Se me pedem para preencher alguns dados eu literalmente caio da cadeira, fecho o computador de tanto medo. Perigo, olha o golpe, lá vem o tiro mortal, fecha a porta, o bicho chegou. É vírus, não quero. Por quê? À toa, porque não quero. E, se eu não quero, ninguém pode me obrigar.

Comprar os livros brasileiros aqui, maravilha, seria a minha falência, mas maravilha. Eu preciso de um monte deles que a Amazon americana não tem.

E como é que ela vai se comportar aqui? Cheia dos truques? Igual à outra? Vou perder minha assinaturas de jornais e revistas americanos e ingleses? Não é possível. Se não é, então expliquem.

Mas, para tornar o assunto mais curto, recebi da Amazon (a minha, a de lá), o nome de um livro de um chef tailandês, que escreveu suas memórias e é um cara de linguagem supercriativa -tanto no que escreve, quanto no que fala e no que cozinha. Pois não sei a que alturas do pedido desse livro preenchi, com certeza, meu nome e endereço, pensando que era a Amazon americana que estava me pedindo. E, quando vi, era sócia da Amazon daqui e não mais de lá. Errei? Erraram?

Acontece, ás vezes. E leitores, leitores caros, fiquei dois dias louca, triste, deprimida, furiosa. Afinal, reviravolta geral, consertou-se a coisa, voltou tudo como dantes ao quartel de Abrantes. Já posso, outra vez, comprar lá fora. Ufa!

A Amazon é um porto seguro, do qual eu entendo, sou quase casada com o Jeff Bezos. E não quero me divorciar. Se eu não puder continuar comprando livros lá, mudo para Anna, Illinois, lá no "meinho" do Midwest, nem tem no mapa.

Sei que, com o tempo, eu me acostumaria com a Amazon daqui. Provavelmente ela é idêntica à de lá. Mas, só quando eu acreditar.

Por que não posso ser sócia daqui e de lá? Sopa no mel. Por enquanto, não quero. Por trás fica aquele medo de ter de cozinhar só com o livro da Dona Benta, que, infelizmente, detesto. Nasci "fusion".


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