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Opinião
Não é possível culpar questão social por escalada da violência
LUIS FLAVIO SAPORI ESPECIAL PARA A FOLHAALTA OU REDUÇÃO DE CRIMES É IMPACTADA PELA CAPACIDADE PREVENTIVA E REPRESSIVA DO APARATO POLICIAL
Após dez anos consecutivos de redução da criminalidade, o Estado de São Paulo volta a sofrer com o recrudescimento da violência urbana.
As evidências disponíveis permitem afirmar que não se trata de oscilação aleatória das estatísticas criminais.
Desde meados de 2012, identifica-se nítida tendência ascendente dos crimes violentos contra o patrimônio, com destaque para roubos e latrocínios, e dos crimes violentos contra a pessoa, com destaque para homicídios.
Um aspecto a ser destacado é a conjuntura socioeconômica na qual se dá tal recrudescimento da violência.
São Paulo e o país experimentam um processo de redução da pobreza e da desigualdade na distribuição da renda, acrescido da situação de quase pleno emprego.
As autoridades políticas e da segurança pública não podem, sob tal perspectiva, culpar a exclusão social pela deterioração da ordem pública.
Outros fatores estão intervindo nessa realidade e o principal deles é a perda de eficiência do aparato policial.
É recorrente acreditar-se que polícia não interfere na trajetória da criminalidade, dado que ela apenas lida com as consequências de causas sociais mais complexas.
Nada mais equivocado. A atuação da polícia, ostensiva ou investigativa, são decisivas na dinâmica do crime.
A alta ou redução de roubos, latrocínios e homicídios é impactada diretamente pela capacidade preventiva e repressiva do aparato policial.
Em SP, o fortalecimento da investigação e a postura proativa e focalizada do policiamento ostensivo contribuíram -e muito- para reduzir o crime na década passada.
Desde 2011, contudo, a deterioração da atuação policial tornou-se evidente. A taxa de esclarecimento de homicídios está em queda e a operacionalidade do policiamento ostensivo não é a mesma.
E o pouco de ação integrada das respectivas polícias, que ocorria em anos anteriores, perdeu-se por completo.
Quando a polícia é ineficiente, acentua-se a impunidade. E as oportunidades para a realização de atos criminosos são ampliadas.