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Tribo de luxo

Após invadirem hotel no sul da Bahia, índios se revezam em bangalôs, piscina e sala de massagem

MÁRIO BITTENCOURT COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
EM UNA (BA)

Cerca de 70 índios tupinambás têm encarado uma nova rotina desde que invadiram um hotel de luxo em Una, no sul da Bahia.

Antes ocupados só com pesca, venda de artesanato e andanças pela mata, desde domingo os índios passam o dia acompanhando a programação da TV a cabo, deitados em camas, esteiras e sofás.

Parte deles faz um revezamento em bangalôs, piscinas e salas de massagem.

Deitado na cama de um dos 14 bangalôs do hotel Fazenda da Lagoa, onde uma diária ultrapassa a casa dos R$ 1.000, o tupinambá Marcelo dos Santos, 21, diz, enquanto muda o canal da TV: "Queria saber o motivo desse hotel ser de luxo, pois nada disso me interessa muito".

Apesar da afirmação, ele afirma que a TV "tem vários programas legais". "Só estamos usando, não danificamos nada", declara Santos.

CONFLITOS

No sul da Bahia há cerca de 7.000 tupinambás, que vivem em comunidades espalhadas em Una, Ilhéus e Buerarema. Conflitos com fazendeiros e policiais são comuns.

Alguns moram em casa com parede de cimento e telha de cerâmica. Outros em casebres de taipa, com parede de barro e teto de palha.

"Índio não faz questão de mordomia. E estar aqui serve apenas para conhecermos a vida do branco", disse Santos.

Numa volta pelas dependências do hotel de luxo, que ocupa uma área de seis quilômetros de praia privativa, a reportagem encontrou somente algumas almofadas e toalhas fora de lugar.

No momento da invasão, no domingo, não havia hóspedes no hotel. O estabelecimento está fechado desde julho de 2012 por causa de passivos ambientais.

Ontem pela manhã, na área dos bangalôs, havia cerca de dez indígenas, entre os quais algumas crianças. Os outros 60, segundo o cacique Val Tupinambá, 35, estavam "espalhados pelo hotel".

"Quem quiser sair, é liberado. Alguns preferem ficar nos aposentos, outros preferem andar pela mata, pescar, mas, ao final da tarde, voltam."

O hotel de luxo é a 47ª propriedade invadida pelos tupinambás desde fevereiro do ano passado, quando começou a onda de ações para pressionar o governo federal pela demarcação de uma área total de 47,3 mil hectares.

Nessa extensão de terra reivindicada, há cerca de 600 pequenas e médias propriedades, inclusive o hotel, segundo os tupinambás.

De acordo com a Funai, órgão federal responsável pela questão indígena, o processo de demarcação da área reivindicada pela tribo já está sendo analisado no Ministério da Justiça.

Artur Bahia, sócio do hotel, disse estar revoltado com a situação. "Entraram lá e colocaram cinco pessoas pra fora do hotel à força", afirmou.

"Estamos dando entrada [na Justiça] com um pedido de reintegração de posse. Queremos o hotel de volta. De índio, os invasores não têm nada."


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