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Foco

'Made in China' faz loja pioneira dos lustres na Consolação fechar as portas

Desde 1951 na rua temática, Bobadilha viu clientes ricos migrarem para outras regiões

"Tempo é dinheiro. Ganhe dinheiro não perdendo tempo. [...] Ideias luminosas, Lustres Bobadilha", dizia o jingle criado nos anos 1950

VANESSA CORREA DE SÃO PAULO

Sílvia Bobadilha, 55, dona da mais antiga loja de lustres da rua da Consolação, não gosta dos modelos chineses da concorrência. Tem particular horror aos de cristais fajutos, a preços muito menores do que os seus, repletos de cristais tchecos.

"Hoje a rua derrama uma chinesada descartável, de produção em série. Começaram a aparecer há uns três anos, mas, no último, explodiram", lamenta Sílvia.

Percebeu, com uma ponta de desgosto, que "agora, paulistano rico vai pro Shopping JK", na Vila Olímpia (zona oeste), e não quer saber da tradicional Consolação "com a violência que anda por aí". Ainda mais que ela não tem estacionamento próprio. "Precisaria ter motorista na porta."

Seus melhores clientes hoje, diz, vêm do interior do Estado e do Nordeste. "Piauí, Bahia. Fazendeiro de cacau."

IRONIA

Com a nova situação, ela cedeu à oferta (que não revela) do vizinho Bradesco, que "a vida inteira" quis comprar seu imóvel. Ouviu dizer que a agência vai ser ampliada.

Ironia. O terreno onde a loja foi instalada em 1951, quando a rua ainda era de paralelepípedos, foi comprado do próprio Amador Aguiar, ex-presidente do Bradesco e que morreu em 1991.

Sílvia quer liquidar seu estoque até setembro, quando entrega o imóvel, e promete derrubar os preços. Ao percorrer a loja fundada por seu pai, Íbero, e o tio, Izer, aponta para um modelo art noveau dos anos 1920 (que baixou de R$ 50 mil para R$ 20 mil) e lembra da época de ouro.

Nos anos 1960 e 1970, a Bobadilha chegou a 70 funcionários, tinha fabricação própria e vendia lustres para artistas do então vizinho Teatro Record. Mazzaropi, Arrelia, e Roberto Carlos (o cantor) estão entre os famosos que assinaram seu livro de ouro.

Na mesma época o antigo bar Riviera (que reabre sob nova direção neste ano), a poucos metros dali, atraia a boêmia e a intelectualidade paulistana, e as rádios martelavam o jingle "tempo é dinheiro, ganhe dinheiro não perdendo tempo: ideias luminosas de Lustres Bobadilha".

Vendedores de outros tradicionais estabelecimentos da Consolação não veem uma derrocada da rua dos lustres, mas dizem que aproximadamente oito lojas fecharam na última década --quatro nos últimos dois anos. Cerca de 25 funcionam hoje na via.

Roberto Salerno, 64, dono da cinquentenária Igapó Lustres, "concorrente direto" da Bobadilha, diz que tem enfrentado certa "oscilação", além dos protestos que insistem em ocorrer na região. "Não tem sido um ano bom para nós." Nem por isso vê nos chineses concorrentes à altura de seus lustres de estilo.

Os "made in China" e a mudança do perfil da Consolação levaram Sílvia a abandonar o local onde a loja fez escola --muitos antigos funcionários abriram negócios na rua.

Mas ela quer manter o nome Bobadilha vivo e não descarta levar a marca para outra região da cidade.


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