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Após tubarão matar jovem, promotor quer vetar banho de mar
Paulista de 18 anos morreu anteontem depois de ser atacada em praia do Recife; para o governo, medida é desnecessária
Proposta atinge 30 km onde já houve ataques; jovem é a primeira mulher a morrer nos últimos 21 anos em PE
A morte de uma turista paulista vítima de ataque de tubarão levou o Ministério Público a pedir ontem a proibição do banho de mar na região metropolitana do Recife.
Bruna Gobbi, 18, não resistiu aos ferimentos causados na tarde de anteontem e morreu no fim da noite. Ela havia tido a perna esquerda amputada.
A jovem foi a primeira mulher a morrer vítima de ataque de tubarão nos últimos 21 anos em Pernambuco. A família pretende processar o Estado.
O enterro está previsto para a tarde de hoje, em Escada (a 63 km do Recife), onde vive a maior parte da família.
PROPOSTA
Desde 1992, 59 pessoas foram atacadas por tubarões na Grande Recife e 24 delas morreram, segundo o Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões.
"Já existem cinco decretos estaduais que proíbem esportes náuticos. Nossa recomendação é para que haja extensão [da proibição] para o banho de mar", disse o promotor Ricardo Coelho.
Coelho afirmou que caberá ao comitê indicar trechos e períodos do ano em que deve haver proibição ao longo dos 30 km de litoral onde já houve ataques.
O banho em piscinas naturais entre recifes de coral e a faixa de areia seria permitido, sugere ele.
Segundo o promotor, a fiscalização ficaria sob responsabilidade dos bombeiros, como já ocorre com o surf e outros esportes aquáticos.
Ele diz acreditar que a medida não afetará o turismo.
O Estado tem 15 dias para decidir se acata a recomendação. Caso não aceite, o promotor diz que vai acioná-lo na Justiça em busca da interdição.
REPERCUSSÃO
A proposta causou polêmica. Fundador da Avituba (Associação das Vítimas de Ataques de Tubarão), Charles Pires, 35, perdeu as duas mãos ao ser atacado na praia de Boa Viagem --a mesma em que Bruna foi mordida--, em 1999.
Ele critica o trabalho de prevenção do Estado, mas se diz contra a proibição. "Não acho justo. É radical."
O engenheiro de pesca Bruno Pantoja, do Instituto Propesca, avalia a medida como radical, mas necessária para que o governo busque outros meios de evitar os ataques.
Para o governo, a recomendação é desnecessária. "Isso atenta contra o direito de ir e vir. As praias pernambucanas são lindas e seguras. É só seguir as orientações que temos dado", diz o secretário de Defesa Social, Wilson Damázio.