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Meu bloco na rua

Banda Gueri-Gueri volta após dez anos no embalo do Carnaval dos blocos, que devem animar foliões de Guaianases aos Jardins

ROBERTO DE OLIVEIRA DE SÃO PAULO

De madame pulando com taça de champanhe na mão a "mano" de cordão de prata entoando marchinha na batida do hip-hop, folia é folia em qualquer canto.

Em Guaianases, o esquenta do sábado de Carnaval vai ser regado a cachacinha e caldo de mocotó com gente entupindo a Casa do Norte do bairro, reduto de migrantes na zona leste de São Paulo.

A cerca de 40 km dali, em frente ao Ibirapuera, uma parcela de foliões vai pagar R$ 120 por uma camiseta que dá acesso à área VIP perto do Monumento às Bandeiras.

Apesar das disparidades, os dois blocos desfilam com ao menos duas características comuns: ambos são abertos ao público e ostentam nomes, digamos, sui generis.

O da zona leste é o Cordão Carnavalesco Boca de Serebesqué, expressão "de origem rural que significa gente que fala muito", explica o professor Renato Souza de Almeida, 36, um dos seus fundadores. Criado em 2008, o bloco desfila no dia 1º.

Uma das mais tradicionais bandas do Carnaval paulistano, a Gueri-Gueri (vem de "guéri-guéri", "falatório") nasceu no coração dos Jardins e floresceu nas adjacências. Desfilou pela primeira vez em 1986 na rua Oscar Freire. Dez anos após longa hibernação, regressa ao Carnaval 2014 no próximo sábado.

À frente da banda está Fernanda Suplicy, 36, que acompanha o Gueri-Gueri desde menininha. Ela é filha de Roberto Suplicy, tradicional empresário da boêmia paulistana, dono do lendário bar Supremo, na esquina da Consolação com a Oscar Freire.

Foi Roberto, irmão do senador Eduardo Suplicy (PT-SP), que, ao lado de um grupo de oito frequentadores do bar, criou o Gueri-Gueri para animar o Carnaval de 1986.

Naquela época, São Paulo já carregava a alcunha de "túmulo do samba', o que se estendia ao Carnaval", como lembra a mulher de Roberto, a psicóloga Vera Suplicy, 69.

Começou pequeno, com 300 foliões. Mulatas tinham seus corpos pintados pelo artista plástico Gustavo Rosa, que morreu no final de 2013. Saíam pelas ruas do bairro cobertas de tinta. Só de tinta!

Nos anos 1990, o Gueri-Gueri chegou a reunir 25 mil foliões na Oscar Freire. Aí, então, a rua tornou-se pequena para tanta gente, e o bloco foi ancorar-se em frente ao Monumento às Bandeiras.

O retorno do Gueri-Gueri é um indício da febre dos blocos que domina o Rio de Janeiro há pelo menos dez anos e, ao que tudo indica, já está sacudindo o "túmulo".

Pelo menos 172 blocos estão cadastrados no site da prefeitura para desfilar em São Paulo neste Carnaval --esse é o número oficial, mas a própria prefeitura reconhece que ele possa ser maior.

Em Guaianases, o professor Almeida cedeu a garagem de casa para concentração e ensaios do cordão do bairro.

Explica que neste ano o grupo pretende retomar o culto à fantasia e dar menos espaço às camisetas. O bloco é composto de muitos filhos de migrantes nordestinos. Assim como o Gueri-Gueri, surgiu também em um momento de efervescência cultural --só que 22 anos depois do "colega bacaninha" dos Jardins.

O crescimento desses grupos sinaliza uma "retomada da democratização do Carnaval", avalia a cantora Preta Gil, à frente de um dos blocos mais tradicionais do Rio de Janeiro, o Bloco da Preta.

"É o povo se reapropriando da festa", diz. A cantora critica áreas VIPs, cordas, camarotes e afins. "O Carnaval dos blocos é, essencialmente", defende Preta, "para foliões pipoca". Estejam eles "estourando" nos Jardins ou nas ruas de Guaianases.

SERVIÇO
BANDA: Gueri-Gueri
QUANDO: sábado, às 14h
ONDE: Monumento às Bandeiras, Parque Ibirapuera
CORDÃO: Boca de Serebesqué
QUANDO: sábado, dia 1º, às 15h
ONDE: Casa do Norte, r. Prof. Cosme Deodato Tadeu, 150, Guaianases


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