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Talebarba

Não basta ser barbudo; a barba comprida, estilo taleban, deixa o mundinho alternativo e se desdobra em movimentos pelas redes sociais

ROBERTO DE OLIVEIRA DE SÃO PAULO

Preta, grisalha, ruiva, lisa, enrolada, despenteada. Pouco importa, desde que seja bem comprida. Barbas estilo taleban estenderam seus fios para além do universo moderninho dos "hipsters", grupos de gente descolada, interessada em coisas que ainda não são uma tendência.

Agora que quase todo o mundo tem desenhos impressos pelo corpo, essa barba virou a tatuagem da vez.

Maurílio Lima, 27, usou a sua, já na altura dos mamilos, para promover um "upgrade" na carreira. Na web, criou o movimento "vintage beard" ("barba das antigas", numa tradução livre).

Seu trabalho é centrado na exploração da barba, uma inspiração do cantor e multi-instrumentista americano William Fitzsimmons, que cultiva o visual há tempos.

No Brasil, Lima se diz um dos precursores do "Flowers in Your Beard" --aqui, o mundo recicla a "San Francisco (Be Sure to Wear Some Flowers in Your Hair)", hit de 1967, de Scott McKenzie.

Só que as flores que, nos anos 1960, enfeitavam os cabelos agora adornam longas barbas. Tudo isso para posar "diferente" em fotos publicadas nas redes sociais. É tendência lá fora. Já atraiu famosos como o ator Bill Murray.

"Como sou modelo, fiz as fotos por questão de marketing pessoal", diz Lima.

Há, porém, barbudões que não compactuam com essa corrente "poser", ou, digamos, "promocional".

"Não se trata de tendência ou de estar na moda, mas, sim, da minha identidade", defende o autônomo Thiago Couto, 31, há um ano e dois meses sem cortar a sua.

"Identidade" essa que, a depender do tamanho da barba, pode não pegar bem.

"Num ambiente corporativo, não me aceitariam com uma barba assim", reconhece o empresário Gilberto Custódio Júnior, 36. "Sou dono do meu negócio. Ainda bem."

Em seu ramo, o de música pop/rock, a barba taleban é mais que uma identidade: é "sinônimo de liberdade e personalidade", acredita Júnior.

Vamos combinar que a "personalidade" não pode ignorar a necessidade. A última vez que o empresário cortou os pelos foi numa viagem à Inglaterra, cinco anos atrás, por receio de ser confundido com algum terrorista.

Desde então, a mulher dele é quem cuida dos detalhes, aparando as pontas. "Ela adora esse visual", diz Júnior, que já foi alvo de chacotas. "Crianças apontam, adultos me chamam de Bin Laden."

Quem soube canalizar a zombaria e vestiu a carapuça foi o comerciante Francisco Helder Braga Fernandes, 54.

Ninguém o conhece pelo nome de batismo. Só por Bin Laden. Afinal, esse cearense de Jucás é a cara do ex-líder da Al Qaeda, morto em 2011.

"Sou precursor da barba taleban no Brasil", gaba-se. A dele não vê uma tesoura desde 2009. É lavada com xampu e condicionador três vezes por semana. A cada duas horas, leva borrifadas de "Playboy Vip Jequiti e Ferrari, o de embalagem preta". Passa pelos banhos de cheiro à noite. Assim Fernandes segue até altas horas no seu bar, o do Bin Laden, que fica no centro de São Paulo.

'BARBUDETES'

A febre dos barbudos entre jovens de metrópoles americanas e europeias fez surgir até implante de barbas em clínicas de estética do Reino Unido e dos Estados Unidos.

Salões de beleza ressuscitam a velha e clássica barbearia. Com duas unidades em São Paulo, o Circus Hair, dos Jardins, criou um serviço nos moldes tradicionais, com produtos específicos para barba, navalha e toalha aquecida.

"A moda hoje traz uma barba mais longa, que exige sempre muitos cuidados especiais", explica Rodrigo Lima, 35, que se apresenta como diretor criativo do salão.

Comunidades pró-barba pipocam na internet. Uma das mais populares é a "Faça amor, não faça a barba", com 400 mil seguidores. Para promover a interação entre "os amantes de barba", a "Barbudos para as Barbudetes" reúne 4.135 membros.

De cara, a "Gordinhos Barbados e Admiradoras" avisa: "Entre somente se for gordinho barbudo ou admirador".

A administradora de vendas Mariana Finotti, 29, entra em todas elas. "Os grupos servem para conhecer pessoas. Conversamos sobre diversos assuntos e rolam muitas paqueras também", diz.

Para Mariana, a barba confere "ar de virilidade e intelectualidade absurdamente irresistível". Barba, especialmente as longas, segundo ela, inspiram confiança e despertam "ideias luxuriosas".

Mas a moça avisa: "Não basta deixar crescer. Gostamos delas bem cuidadas".


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