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Minha História - Alex Cardoso de Melo, 43

Sonho sem fim

Executivo de banco larga carreira para se dedicar a difundir exemplos de cidadania

Alex Cardoso de Melo, 43, largou a carreira de executivo e mudou radicalmente de vida por um sonho tido como incompreensível até para amigos próximos: dedicar-se a disseminar os ideais de 24 grandes sonhadores, como de Martin Luther King. Criou a ONG "Meu sonho não tem fim", que coordena e banca sozinho. Tudo começou aos 16 anos, ao fazer uma poupança para um projeto social após ver a indiferença das pessoas diante de uma senhora na rua.

(...) Depoimento a

ADRIANA FARIAS DE SÃO PAULO

Descia a rua Direita, no centro de São Paulo, quando vi uma senhora sentada num caixote. Ela era tão frágil, devia ter uns 80 anos, segurava uma tigelinha para esmolas.

Eu tinha 16 anos. Aquilo mexeu muito comigo. Pensei em como poderia ajudar as pessoas. Fiz uma poupança e passei a guardar até 30% do salário como auxiliar administrativo para que um dia eu pudesse fazer um projeto social.

No trabalho, comecei a datilografar reflexões de apelo moral e entregar aos colegas. Aí veio o estalo: trabalhar com conscientização e motivação.

Após sete anos, em 1994, surgiu a base do que viria a ser hoje a ONG "Meu sonho não tem fim", que não aceita doação de nenhuma espécie nem tem política de patrocínio. Passei a disseminar grandes exemplos de vida, como a de Ayrton Senna, seus valores morais e familiares.

Em 1999, veio a ideia de exposições itinerantes sobre ele em comunidades carentes, escolas públicas, Febem [Fundação Casa] e em CEUs (Centro Educacional Unificado), alcançando mais de 140 mil crianças e adolescentes.

Foi aí que vi um menino de seis anos com a irmã na porta de um CEU na zona sul de São Paulo. Ele temia entrar na exposição. "Ah, tio, ele tem medo da polícia", disse um amigo dele.

Havia uma base policial no local. Aí eu fui lá buscá-lo e disse para ele não ter medo. Peguei o menino no colo e, quando passei ao lado da polícia, ele urinou.

O que esse menino já viu dentro da comunidade dele? Foi algo que o marcou profundamente e para recuperar uma criança assim é um trabalho de anos. Isso para mim tem um valor absurdo de começar a entender onde é que eu tinha que ir com a ONG.

Passei a transmitir os ideais de outros grandes exemplos de vida, associando-os a virtudes distintas como a cidadania de Betinho, a coragem de Martin Luther King, a bondade de Mahatma Gandhi, a fé de Madre Teresa de Calcutá, totalizando 24 grandes sonhadores.

Deixei meu emprego de executivo no banco e me dediquei mais intensamente ao meu projeto social de 2002 a 2006. Passei também a dar palestras gratuitas para grandes formadores de opinião e executivos, além de fortificar a base da ONG com folhetos, folders, revistas, livros, DVDs, estudos e pesquisas, site oficial e página em redes sociais.

Ninguém entendia muito bem o rumo que eu havia tomado. Passei por certas dificuldades, comprava apenas o necessário, mas preservei a educação dos meus dois filhos [de 16 e 18 anos]. Minha família entendeu a minha escolha e a poupança que eu havia feito desde os 16 anos ajudou neste momento.

Em 2007, virei representante comercial e para isso criei a Luminia, uma empresa onde 50% do faturamento é destinado para a ONG.

Não vou ficar rico com isso, nem quero, mas foi a forma de conseguir flexibilizar os horários, dar tranquilidade para minha família e recursos para projetos mais caros e ambiciosos da organização, como o livro "Um sonho que não tem fim".

Já são 27 anos de trabalho voluntário. Eu mudei a minha vida para isso e sou imensamente feliz. Não vou dizer que não tenho problemas, todos nós temos, mas tenho a consciência que a minha vida é muito útil. Todo dia eu acordo e sei que fiz o bem para alguém que nem conheço.

Não há riqueza no mundo que pague isso, não é demagogia. A ONG é como um o farol que tenta jogar um facho de luz na vida das pessoas. E tudo graças aquela senhorinha sentada no caixote.


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