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Carmo de Brito (1924 - 2014)
Uma breve história do tempo
DE SÃO PAULODurante os 54 anos de existência de sua relojoaria (de 1955 a 2009), em Itatiba (SP), Carmo reuniu muitas histórias, incluindo a do relógio movido a banha de porco, que ele sempre contava.
Um cliente levou para conserto um relógio que ele próprio havia tentado arrumar. Quase acertara: ao constatar que o maquinário precisava de lubrificação, improvisou, e o relógio voltou a funcionar --desde que no quentinho da chapa do fogão a lenha e, à noite, no forninho de pão.
Carmo começou a trabalhar em Jarinu, onde nasceu, aos seis anos. Frequentou a escola por cinco meses --o que não o impediu de ler e escrever e de fazer cálculos.
Na juventude, já casado com Tiana, sua companheira por 62 anos, mudou-se para Itatiba. Seu sonho era lidar com as máquinas do tempo. Sem recursos, conseguiu relógios velhos para desmontá-los e montá-los, até desvendar a mágica do mecanismo.
Abriu uma oficina, e o negócio cresceu nos anos 1960. Era tanto tempo no trabalho que a lente para examinar as peças acoplava-se ao redor de seu olho, sem suporte.
Ciente de que há gosto para tudo, dispunha de produtos variados, mas não deixava de emitir seus pareceres. "Se quiser, compre. Mas eu não recomendo", dizia.
Com a mesma paixão, dedicou-se às plantas e aos animais de seu sítio. Nem ouvia quando os filhos tentavam convencê-lo de que, a caminho dos 90 anos, era melhor não subir no abacateiro para colher as melhores frutas.
Morreu na sexta (23), de câncer, aos 89 anos. Viúvo, deixa seis filhos (outros dois são falecidos), netos, bisnetos, irmãos e amigos, que concordam com a canção: "A dor da gente não sai no jornal".