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Abrigos secretos recebem mulheres agredidas

Em SP, locais têm pelo menos 64 famílias; objetivo é proteger de violência doméstica

Localização é mantida em segredo, celulares são retidos e guardas fazem a segurança armada à paisana

LEANDRO MACHADO DE SÃO PAULO

A atendente Amanda (o nome é fictício) passou o Carnaval deste ano em um abrigo secreto. Teve que sumir do mapa. Durante uma semana ficou incomunicável, sem a possibilidade de falar com a mãe do lado de fora. Só saía com escolta.

Na semana anterior ao Carnaval, Amanda, 28, foi espancada pelo marido. "Ele bateu no meu rosto, o que nunca tinha feito, fiquei toda marcada", conta.

Até então, o marido não batia em sua face porque tinha medo que alguém "de fora" soubesse das agressões rotineiras. Foram cinco anos de casamento.

"Naquela semana, fiquei com medo de morrer, porque ele estava muito violento. Ele chegou a pegar uma faca". Amanda decidiu sair de casa. Foi embora com a roupa do corpo e os dois filhos pequenos nas mãos.

Para não ser encontrada, escondeu-se em um dos sete abrigos secretos que protegem mulheres em situação de violência doméstica extrema na cidade de São Paulo.

Os endereços desses espaços são sigilosos. Não há nada nas fachadas indicando que se trata de um equipamento público. Agentes da GCM (Guarda Civil Metropolitana) fazem a segurança armada à paisana.

Ao todo, segundo a prefeitura, 64 famílias (mulheres e seus filhos) vivem atualmente em locais como esse. O governo do Estado também tem um espaço, mas afirma não poder revelar qualquer informação sobre o abrigo.

As mulheres enviadas aos locais são escolhidas após entrar em contato com centros de defesa e referência da mulher espalhados pela cidade.

Só vão para abrigos pessoas que correm risco iminente de morrer.

Já abrigadas, elas ficam quase incomunicáveis. Celulares são proibidos na entrada e ligações para fora só são permitidas após um mês de permanência no local.

Quando saem para ir a audiências ou mesmo para passear, elas são acompanhadas por funcionários. "Eu me senti em uma prisão, não podia nem conversar com as outras mulheres. Por isso resolvi sair", conta Amanda.

"Elas correm muito risco de morrer. Se o marido souber onde elas estão, provavelmente serão mortas", diz Marcia Pereira, diretora do abrigo Helenira Rezende.

No local, que tem cinco vagas, vivem atualmente quatro famílias.

Entre os casos que Marcia testemunhou no abrigo está o de uma mulher queimada pelo companheiro e que sobreviveu por pouco. Em outra ocasião, recebeu uma mulher que denunciou à polícia o marido, chefe do tráfico.

"Muitas mulheres chegam sem documento, porque o agressor destruiu tudo. Há casos em que elas precisam mudar de Estado", diz.

O prazo máximo de permanência em um abrigo é de seis meses, segundo a prefeitura. Mas em casos em que a mulher ainda corre risco, o período pode ser estendido.

SEM EMPREGO

"O abrigo não resolve todo o problema porque a mulher tem que sair de lá", diz Raquel Marques, presidente da Artemis, ONG de defesa dos direitos das mulheres. "E depois? Muitas têm que mudar de vida, de nome, perdem o emprego", diz.

Foi o que ocorreu, em parte, com Amanda. Após deixar o abrigo, ela se separou do ex-marido e não foi mais agredida. Não teve que mudar o nome, mas foi para outro bairro e perdeu o emprego.

Seu filho mais novo saiu da creche e ainda não tem outra vaga. "Não posso mais trabalhar porque tenho que cuidar dele", conta ela, que vive sustentada pela mãe.


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