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Ilustrada - em cima da hora / Flip 2014

História negligencia cartunistas, afirma curador em Paraty

Em bate-papo na abertura do festival, Jaguar diverte plateia ao relembrar casos vividos por Millôr Fernandes

Conferência de Agnaldo Farias e conversa com humoristas do 'Casseta' marcam a primeira noite da festa literária

DOS ENVIADOS A PARATY

A produção de um artista cuja obra é negligenciada e as histórias de um boêmio carioca foram os temas da abertura da Festa Literária Inernacional de Paraty, na quarta (30).

Os dois perfis descrevem o Millôr Fernandes apresentado em uma conferência pelo crítico e curador Agnaldo Farias, que analisou o desenho na obra do homenageado desta edição, e em um bate-papo entre "millormaníacos": os humoristas Hubert e Reinaldo, do "Casseta e Planeta", e o cartunista Jaguar.

Para Farias, "a história da arte negligencia cartunistas, fundamentalmente porque somos muito mal-humorados em nossa historiografia".

Por isso, a qualidade da produção artística de Millôr não tem o reconhecimento que merece. Estes trabalhos, disse o crítico, são vistos no mundo da arte como categoria secundária, da mesma forma que a crônica foi avaliada, por anos, nos meios literários.

Exibindo reproduções de obras, Farias discorreu sobre semelhanças entre traço e cores usados por Millôr e Miró e Picasso, entre outros.

Depois da densa e bem fundamentada conferência de Farias, o bate-papo fez a plateia gargalhar. Jaguar, 82, começava casos sobre o homenageado e perdia o fio da meada, mas não a atenção do público, que se divertia.

"Quando bebia, não tinha amnésia, mas agora que parei, embaralho tudo, fiquei com amnésia abstêmica", disse.

Contou de uma briga em um bar da zona sul carioca entre Millôr e Chico Buarque. "Chico cuspiu no Millôr, que jogou tudo que tinha na mesa em cima dele", relatou.

Na época, para não citar nomes, Jaguar contava que tinha havido uma briga entre o maior compositor do Brasil e o maior humorista. Um dia, encontrou Millôr, que disse: "Então eu andei brigando com Martinho da Vila?".

Ao responder a uma pergunta de Hubert sobre o motivo de Millôr ter conseguido escapar da prisão na ditadura enquanto todos os seus amigos foram presos, Jaguar disse que ele escapou "porque o carro estava cheio".

"Como tudo nesse país, a repressão também era uma esculhambação. Prenderam o Ferreira Gullar e mais alguém, aí iam passar na casa do Millôr, mas o carro já estava lotado e eles resolveram voltar no dia seguinte. O Millôr soube e, como era um sujeito brilhante, fugiu", contou.

A partir daí, Jaguar enveredou por uma divertida história sobre o motivo de ter se apresentado na Vila Militar para ser preso: "[Paulo] Francis estava preso e conseguiu me ligar. Disse que se eu me apresentasse, eles seriam soltos. Não acreditei, mas a consciência pesou. E lá fui eu, de táxi. Não teve aquela cena emocionante de ser preso".

Mas disse que foram os melhores três meses de sua vida. "Levei Guerra e Paz'. Acordava e lia. Se não tivesse sido preso, não teria lido nunca."


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