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Para fugir de traficantes, cirurgião 'salvou' morto

Médico vivenciou cenas de guerra ao trabalhar em ambulâncias do Rio

Como plantonista do Samu, rodou por mais de 12 horas até achar vaga para paciente em hospital público

DO RIO

Após 11 anos trabalhando em hospitais públicos do Rio, o cirurgião Marcio Maranhão, 44, aceitou o pouco disputado cargo de plantonista do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência).

Tinha vontade de trabalhar também fora dos centros médicos, de "praticar a medicina 'in loco', conhecer a doença do ponto de vista social".

Mas o que vivenciou a bordo das ambulâncias, nas quais percorreu favelas do Rio entre 2005 e 2006, foram cenas de guerra, com grupos armados e jovens baleados.

As experiências constituem alguns dos episódios mais marcantes do livro "Sob Pressão - A Rotina de Guerra de Um Médico Brasileiro" (ed. Foz), que o médico escreveu após pedir exoneração do SUS, em 2009. A obra será publicada no próximo dia 17.

Num deles, o cirurgião precisou encenar com a equipe o resgate do parente de um traficante para sair ileso da favela Parque União, no Complexo da Maré, na época sob violenta guerra do tráfico.

Um morador tinha sido eletrocutado e estava no chão, rodeado por traficantes com armas em punho. Maranhão conta no livro que auscultou o coração do homem, mas ele já havia morrido. Fingiu.

Apressado, gritou para o motorista trazer a maca e, na ambulância, chegou a entubar a traqueia do morto. Precisava mostrar que agia. Ligou a sirene e saiu em disparada.

FAMÍLIA

Há 16 anos casada com Maranhão, a médica Lenita Balbino, 44, conta que ficava apreensiva nesse período.

"Eu estava grávida e o Marcio de ambulância com uma porção de bandidos armados. Mas ele dizia que se sensibilizava com as histórias das pessoas porque era o único recurso delas", diz Lenita.

Em outro caso, Maranhão peregrinou por mais de 12 horas em ao menos quatro hospitais até conseguir vaga. No final, as filhas do paciente o convidaram para comemorar com cachorro-quente.

No livro, o médico também relata a situação dramática dos idosos, sujeitos à falta de leitos de terapia intensiva, de fisioterapeutas, de assistentes sociais, de nutricionistas.

"Apontar um culpado é leviano porque falta recurso, política social e econômica. Passa por má gestão e corrupção endêmica", avalia.

Como exemplo, Maranhão cita o SUS inglês, o NHS (National Health Service), que atende até a monarquia. O modelo brasileiro, segundo ele, se aproxima do americano -mas, nos EUA 75% das pessoas têm planos de saúde e, no Brasil, apenas 25%. (DB)


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