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Crônica de uma morte evitada

Reportagem presencia tentativa de suicídio de uma mulher na linha 1-azul do metrô na manhã de quarta-feira; ela foi socorrida

EDUARDO SCOLESE COORDENADOR DA AGÊNCIA FOLHA

Metrô de São Paulo, 9h50 de quarta-feira (8). O trem para, de repente, entre as estações Santana e Carandiru. As luzes se apagam, e o ar-condicionado é desligado.

Um, dois, três minutos se passam, até que uma mulher bem vestida e com aparentes 40 anos de idade passa correndo pela passarela de emergência, um corredor estreito que fica entre os trilhos e a grade de proteção.

Nesse trecho da linha 1- azul do metrô, os trens circulam em um elevado, passando por cima de uma avenida que liga a zona norte ao centro da cidade.

Jaqueta marrom, botas pretas e bolsa e sacola plástica na mão, a mulher para de correr e se volta para a grade.

Agora ela está sob o olhar atento dos passageiros do trem parado, onde está a reportagem da Folha, e de pedestres e motoristas, lá embaixo, na avenida.

Um desses pedestres é o mineiro Altamiro de Souza, 52, motorista desempregado que caminhava pela avenida Cruzeiro do Sul.

"Não pula, não pula, Jesus te ama", grita Souza.

"Eu vi que ela estava correndo lá em cima, e comecei a gritar pra voltar. Quando ela parou e olhou pra baixo, corri pro meio da avenida e parei o trânsito", diz o motorista, natural de Teófilo Otoni.

Desorientada, a mulher desce da passarela e passa a andar em cima dos trilhos, devidamente desligados.

HORÁRIO

No vagão em que está a reportagem, uma senhora de aproximadamente 60 anos começa a chorar: "Meu Deus, o que será que está passando pela cabeça dessa mulher".

Outro passageiro parece mais preocupado mesmo é com o horário: "Esse tipo de encosto é que atrasa a nossa vida", desabafa.

A mulher começa a correr de volta para a estação Carandiru assim que percebe a aproximação, pelos trilhos, de um grupo de seguranças a partir da estação Santana.

Um deles é o paulistano José Beserra, 58, há pouco mais de três décadas nesse mesmo serviço no metrô.

De uniforme preto e debaixo do forte sol da manhã, o segurança enfim se aproxima da mulher. O temor de Beserra é que ela se jogue lá de cima a qualquer momento.

Na cabeça dele, passa um filme de 15 anos atrás, quando trabalhava na antiga estação Ponte Pequena (hoje Armênia) e salvou uma mulher que acabara de se jogar no rio Tamanduateí.

A mulher, agora, já está do lado de fora da grade. Pode cair a qualquer momento. Fica lá poucos segundos, até voltar para uma área segura.

"Quando me aproximei da mulher, usei toda a minha experiência", diz o segurança, emocionado e ainda bastante suado, enquanto é atendido pelo serviço médico do metrô devido ao ferimento na canela causado na hora do bote.

"Isso aqui [machucado] não é nada. Estou feliz, é uma vida salva", comemora.

Já com a canela devidamente enfaixada, ainda numa salinha da estação Carandiru, Beserra recebe um forte abraço do mineiro Souza -- aquele que quase perdeu a voz para que a mulher não se jogasse no meio da avenida.

De acordo com o Metrô, a mulher --que não teve seu nome revelado--foi encaminhada para um pronto-socorro.


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