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PM, Marta vendia lingerie para elevar renda

Adriano Vizoni/Folhapress
Ao centro, Matilde, mãe de Marta Umbelina da Silva de Moraes, na missa do 7º dia da PM
Ao centro, Matilde, mãe de Marta Umbelina da Silva de Moraes, na missa do 7º dia da PM
RICARDO GALLO DE SÃO PAULO

- "Quem é a PM baleada?"

- "A Martinha."

- "Como ela está?"

- "Zerou..."

Naquela noite de sábado, 3 de novembro, corria entre PMs da zona norte de São Paulo a informação de que uma policial militar fora atacada. Ana (nome fictício), 35, apressou-se em ligar para o batalhão onde trabalhava, na mesma região, para saber se a vítima era alguma colega.

Era. Mas a colega não estava apenas baleada: "zerar", na polícia, significa morte.

Marta Umbelina da Silva de Moraes, 44, a Martinha, doce, animada e de voz fina, foi a primeira mulher a morrer nos assassinatos em série de PMs na Grande São Paulo.

Levou ao menos dez tiros ao chegar em casa, na Vila Brasilândia, também zona norte, depois de ter ido buscar a filha caçula, de 11 anos.

Era dia de folga e ela havia saído do carro para ajudar a filha a abrir o portão. Um homem atirou nas suas costas e fugiu. A filha viu tudo. Martinha, que estava sem farda (como sempre fazia na folga, a despeito de toda a vizinhança saber que era PM), chegou ao pronto-socorro morta. Na porta do PS, policiais mulheres choravam com a notícia.

Para a família, ela não foi morta por ser a PM Martinha; foi morta porque era policial.

VAQUINHA NO ENTERRO

Na quarta anterior, Ana falara com a amiga pela última vez. Martinha havia ligado para lhe oferecer lingeries, modo de engordar o salário líquido de R$ 2.500.

A vida financeira, aliás, ia mal, asfixiada pelas prestações do carro e da casa, esta comprada na Brasilândia.

Ainda assim, pensava em erguer uma laje e ampliar a casa onde vivia com os três filhos (a caçula, um de 18 anos e a mais velha, de 21), com quem passava o tempo livre desde o divórcio, anos atrás.

Não foi pelo salário que Martinha entrou na PM, em 1996, após largar emprego de telefonista; usar a farda e ajudar a comunidade era um sonho de juventude, diz a filha mais velha. Não há PM na família.

Na polícia, uma ironia: em boa parte da vida, trabalhou para auxiliar e confortar familiares de PMs mortos, uma das tarefas no setor de relações-públicas. De dois anos para cá, cumpria função administrativa noutra área (na rua, atuava só em ações específicas).

Seu corpo ficou quatro horas no IML, à espera de liberação. Depois, os amigos chegaram a fazer uma vaquinha para ajudar no enterro -e se cotizarão para não deixar os três filhos desamparados.

Soldado (a mais baixa patente da PM), Martinha morreu sem alcançar o maior sonho: tornar-se sargento.


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