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Críticas à gestão da segurança marcam debate sobre violência

Para os participantes, criminalidade cresce com falhas na lei e erros do poder público

Evento na Folha reuniu ex-secretário, sociólogo e vereadores eleitos, que responderam perguntas da plateia

DE SÃO PAULO

Falta de inteligência e integração entre as polícias, erros da cúpula da Segurança Pública, legislação falha.

Essas foram as principais conclusões apontadas por convidados em debate promovido pela Folha ontem sobre a recente onda de violência no Estado.

O vereador eleito Ari Friedenbach (PPS), que se envolveu com o tema da segurança após sua filha ser assassinada por um adolescente, em 2003, criticou a investigação policial. Já o advogado Ronaldo Marzagão, secretário da Segurança entre 2007 e 2009, na gestão de José Serra (PSDB), disse que a solução do problema passa por reformas estruturais, inclusive na legislação criminal.

O sociólogo Renato Sérgio de Lima, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, disse que o Estado deve ter instituições fortes, que respeitem os direitos humanos e trabalhem de foram articulada. "O modelo é esquizofrênico. Muitas vezes as polícias, o Ministério Público e o Judiciário trabalham em oposição uns aos outros."

Para o vereador eleito Conte Lopes (PTB), capitão reformado da Polícia Militar, o Estado falha ao não conseguir conter criminosos que agem mesmo presos, citando a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).

"Como policial, não consigo entender como uma facção pode funcionar dentro da cadeia", afirmou, sobre os casos de ataques a policiais ordenados por chefes presos.

Ele recomendou a transferência de chefes do PCC para presídios federais.

O debate foi mediado por Mário Cesar Carvalho, repórter especial da Folha. Os participantes também responderam a perguntas da plateia presente no auditório do jornal. Veja abaixo os principais trechos.

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HOMICÍDIOS

"A gente tem um sistema caro, ineficiente, que paga mal os policiais, convivemos com presídios superlotados. É verdade que conseguimos reduzir os homicídios, mas isso não se transformou em mudanças estruturais mais permanentes", disse Lima.

Para Conte Lopes, a redução das mortes em São Paulo foi um efeito do crescimento do crime organizado.

"Os homicídios caíram porque nas biqueiras [pontos de venda de drogas] o bandido não podia matar, caso contrário aparecia policial. Hoje, onde eles estão a polícia não vai. Foram aceitando esse quadro até chegar ao que está acontecendo agora."

ROTA

Os convidados também criticaram a cúpula da Segurança, afirmando que foi um equívoco centralizar na Rota (tropa de elite da PM) o combate ao crime organizado.

"Me parece que houve uma opção política de se deixar a cargo da Rota, que presta relevantes serviços, o combate direto ao tráfico de entorpecentes", disse Marzagão.

Para ele, a situação permite a prisão de traficantes menores, mas não ataca os chefes.

Conte Lopes, que fez carreira na Rota, defendeu a atuação dos policiais, mas concordou que eles não podem resolver o problema.

"A Rota é a única que apreende grandes quantidades de drogas. Mas não podemos passar a responsabilidade para eles, que são 800 homens de um universo de 135 mil no Estado todo."

INVESTIGAÇÃO

"Vemos muitos casos de policiais assassinados, mas poucos assassinos foram presos. As investigações são pífias e muitas vezes acabam liberando os suspeitos por falta de provas", disse Friedenbach.

Marzagão acrescentou que a investigação deve ser coordenada entre a polícia e diversos órgãos, como a Receita Federal.

"O binômio informação mais asfixiamento econômico é fundamental. Somente se poderá chegar aos grandes chefes do crime organizado através de um trabalho de investigação cruzando informações fiscais e financeiras."

PENA

Conte Lopes criticou a legislação brasileira por permitir as saídas temporárias. "O juiz recebe 19 mil pedidos de saída, e não tem mesmo como analisar tudo. Como é que ele vai saber que tem um chefão perigoso incluído ali?"

INTELIGÊNCIA

"O debate também passa por uma reflexão sobre as causas imediatas e as causas mais estruturais. A gente não consegue avançar em uma agenda de reforma porque fica um grande jogo de empurra entre esferas de poder", disse Lima.

"É preciso ter um tripé entre inteligência, coordenação e controle. Não adianta ter uma polícia forte se ela não tem controle. Não adianta controlar sem ter inteligência."


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