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Kuduro agita quiosques de angolanos em piscinão
Africano já pode pedir moradia permanente
Kizomba, kuduro e semba africano misturados às batidas de funk animam os dias ensolarados dos frequentadores do Piscinão de Ramos, vizinho à favela Roquete Pinto, no Complexo da Maré, maior conjunto de favelas do Rio com cerca de 130 mil habitantes, na zona norte.
O ritmo eclético vem de dois quiosques de angolanos instalados na orla da praia artificial há cerca de quatro anos e atraem conterrâneos. Grande parte deles desconhece a nova regra que facilita aos refugiados conseguirem a residência permanente.
Enormes caixas de som ocupam a maior parte do espaço no interior do quiosque do angolano Bartolomeu Adão Abilho, conhecido como Keoma, 43, que mudou para o Brasil há 16 anos.
Ele diz que começou com uma barraquinha com peixe, conseguiu legalizar uma instalação de madeira e passou a trabalhar todos os dias lá.
"Sempre que posso tomo uma cerveja gelada ou uma caipirinha, vou para água, mergulho e tomo uma chuveirada para tirar o estresse da agitação", disse à Folha enquanto preparava uma caipirinha. O copo é vendido a R$ 3, menos da metade do cobrado nos quiosques de Copacabana (zona sul).
Abilho, que é residente permanente, diz que conheceu a "boa vida" por intermédio de um angolano, que tem um comércio no piscinão.
No interior da favela a agitação de angolanos continua, mas o clima é outro. Até chegar ao local, a reportagem passou por ruas e becos, em que era possível flagrar traficantes com pistolas e fuzis.
Mesmo sem visitar sua terra há quase 20 anos, Celso Marco Miranda, 34, mantém as tradições africanas. Atende diariamente a dezenas de conterrâneos que vivem na favela Vila do João, na Maré.
Anistiado, ele diz que fugiu da guerra civil que se estendeu entre 1975 e 2002 em Angola. Em 1996 chegou à Maré e montou casa e bar.
AGORA, RESIDENTES
Desde o dia 26 de outubro, quase 2.000 angolanos e liberianos já podem trocar seu status de refugiado no Brasil pelo visto de residente permanente, que garantirá mudanças na relação desses cidadãos com o Estado.
Levantamento do Ministério da Justiça aponta que 4.317 angolanos vivem no Brasil em situação regular, sendo 1.688 refugiados. A decisão do governo brasileiro segue orientação da ONU (Organização das Nações Unidas).