Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Cotidiano

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Arranha-céus devem ser mais humanos, diz arquiteto holandês

Para Winy Maas, 54, adensar as cidades é uma das principais formas de 'salvar o planeta'

Ele defende edifícios de uso misto, com residências, comércio e espaços livres para convivência

ITALO NOGUEIRA DO RIO

Um vídeo animado de prédios empilhados de forma irregular criando um arranha-céu de 400 m em Jacarta (Indonésia) surpreendeu a plateia do 9º Fórum Mundial de Criatividade, no Rio, no mês passado.

Foi com intensidade que o arquiteto holandês Winy Maas, 54, apresentou a materialização do seu binômio predileto: densidade e porosidade.

"Faço uma verticalização alternativa que inclui uma dimensão humana. Temos que quebrar a verticalização da forma como conhecemos hoje", disse Maas à Folha.

Para ele, membro do premiado escritório MVRDV (é o 'M' da sigla), adensar cidades é uma das principais formas de "salvar o planeta".

Prédios de uso misto (comercial e residencial) reduzem as distâncias. Espaços vazios nos edifícios e planos diretores ajudam a humanizar e criar áreas de convivência, diz.

Ele foi um dos arquitetos convidados a elaborar um novo plano urbano para Paris. Maas propôs a ampliação de parques e a redistribuição da atividade econômica.

No edifício de Jacarta, ele radicalizou sua proposta. Cada bloco tem uma função e há até um hotel no topo. As inúmeras varandas que surgem do desencaixe criam jardins.

Ele rejeita, porém, a tese de que verticalização é a única forma de adensamento. "Há potencial que nos permite adensar mais sem arranha-céus."

-

Folha - Por que densidade e porosidade são tão importantes?

Winy Maas - Densidade nos ajuda muito a salvar o planeta. Deixamos espaço para agricultura, florestas, manejo da água, etc. Outro argumento é favorecer o intercâmbio, locais de encontro, além de ser mais eficiente. Cria uma composição mais ecológica do planeta.

Ao mesmo tempo que as pessoas querem densidade, estar perto do bar, da biblioteca, também querem um jardim, uma praça. Aí entra a porosidade. Se eu quero uma torre, como terei um jardim?

Geralmente há rejeição a grandes torres, como a de Jacarta. Como o sr. vê essas críticas?

Nós fazemos edifícios de escala menor. Mas também faço uma verticalização alternativa que inclui uma dimensão humana. Temos de quebrar a verticalização como a conhecemos e transformá-la em pequenas vilas empilhadas. Pode ser uma alternativa para encorajar a viver em locais densos de forma humana.

Mas é claro que a densidade não precisa ter sempre 200 m. Bairros europeus às vezes têm densidade que é quase o dobro das favelas do Rio. Há potencial que nos permite adensar mais sem arranha-céus como os feitos na Ásia.

As pessoas vivem num lugar e trabalham em outro. Como combinar essas funções?

As pessoas não vão morar e trabalhar num mesmo prédio. Mas faço edifícios com áreas comerciais para que a cidade reduza a necessidade de transporte. É o que propomos na Grande Paris [grupo que propôs integrar a periferia ao centro]. Descobrir qual é a melhor mistura de diferentes elementos [é o desafio].

O sr. conhece uma favela brasileira? Por onde começaria a trabalhar nelas?

Sim, fui à Providência.

Atualizaria completamente o fornecimento de gás, energia e água. Tudo feito localmente seria o primeiro passo. Talvez fazer poços profundos e [gerar] eletricidade local, sem conexão com a rede [da cidade]. Uma espécie de favela autárquica poderia ser um projeto interessante.

Favelas existem há muito tempo, e algum investimento já foi feito. Mas há tantas. Por onde começar? É uma questão econômica.

Qual a maior dificuldade em adaptar cidades já existentes?

Depende da área. Algumas são menos densas e mais fáceis de transformar. Mas sempre há franjas, lugares abandonados que podem ser usados. O que está sendo feito, por exemplo, na zona portuária do Rio é necessário.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página