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Lama invade pousadas e restaurantes em Maresias
Quartos e piscinas foram tomados por barro, pedra e galhos na chuva de sexta
Avalanche de sujeira foi causada por temporal que provocou estragos em boa parte da costa sul de São Sebastião
Até sexta-feira, a piscina formava um bonito azul anil em meio à mata atlântica na pousada com decoração estilo asiático, em Maresias, no litoral norte de São Paulo.
Ontem, dois dias após a tempestade que castigou a costa sul de São Sebastião, onde fica Maresias, e todo litoral paulista, a lama trazida pela forte correnteza de um rio tingia a água de marrom.
Nas espreguiçadeiras em volta, em vez de gente bronzeada, repousavam colchões molhados sob o sol forte.
Barro e pedras nas ruas, móveis danificados, pessoas levando colchões nas costas compunham o cenário nas ruas da badalada praia.
A Katmandu é uma das várias pousadas tomadas pelo barro após a tromba d'água que atingiu a serra do Mar, deixou dois mortos e fez ao menos 1.500 famílias perderem casas e/ou outro bens.
Uma das mortes foi na vizinha praia de Boiçucanga, onde uma menina de 11 anos foi arrastada por uma avalanche de barro e árvores que destruiu a casa da família.
A outra foi na rodovia dos Imigrantes, durante um deslizamento no km 52, que fechou a rodovia por 31 horas.
Em Maresias, além das pousadas -a reportagem identificou ao menos cinco atingidas-, casas de veraneio e restaurantes também foram danificados pelo temporal "nunca visto antes" por nativos da região e turistas.
"Veja o que são as obras de drenagem que a prefeitura diz ter feito aqui. São buracos com canais cheios de mato que não ajudam em nada", disse o italiano Marco Cesare Perrotti, 73, dono da pousada Villa'l Mare, que calcula o prejuízo em R$ 50 mil.
Ele e seus funcionários passaram a madrugada de sábado retirando camas, geladeiras e móveis enlameados da pousada para poder voltar a receber clientes à noite.
SUSTO
Na noite de sexta, hóspedes foram surpreendidos pela água imunda que invadiu os quartos do térreo. "Da sacada vimos carros boiando no estacionamento e na rua. A sorte é que estávamos no andar superior", disse a turista Nuely Souza Romã, 46.
Houve hóspedes que, após seis horas na estrada, voltaram para casa ao se depararem com a pousada alagada.
Na rua Nova Iguaçu, onde fica a Villa'l Mare, moradores usaram cordas para puxar vizinhos arrastados pela forte enxurrada. "A água batia na nossa barriga e nos puxava. Por isso, usamos a corda", disse o ajudante-geral Nunes Henrique dos Santos, 29.
O restaurante Gengibre Lounge ficou fechado até ontem. "Era mais de um metro de água, que arrastou mesas, cadeiras e encheu uma piscina de lama", disse o proprietário, Alexandre Lima, 32.
Dono de casa de veraneio, o engenheiro Sergio Costa, 61, colocou para secar os seis colchões que estavam no primeiro andar do imóvel.
Na manhã de domingo, a administradora hoteleira Priscila Dias, 35, tomava café vendo a piscina barrenta da pousada, com a amiga, a publicitária Carmen, 40. Ela saiu do Morumbi (zona oeste paulistana) e chegou no sábado a Maresias. "Triste. A pousada é muito charmosa".