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Neuro

SUZANA HERCULANO-HOUZEL suzanahh@gmail.com

Motivação capitalista

O funcionalismo é a antítese de tudo o que a neurociência aprendeu sobre liderança no trabalho

Fui há alguns meses falar sobre a neurociência da liderança para um evento dos auditores do trabalho do governo federal. Boa parte da palestra foi sobre a importância da motivação: um bom líder deve oferecer à sua equipe desafios alcançáveis, expectativas positivas, reconhecimento, recompensa ao trabalho bem-feito e às metas cumpridas.

Após a palestra, uma jornalista do sindicato veio me fazer a pergunta que mudou a minha vida nos últimos meses: por essa ótica da neurociência, como eu avaliaria o serviço público federal?

Foram alguns segundos transformadores, enquanto meu cérebro passava em revista minha experiência como funcionária pública. A conclusão foi fácil: "Está tudo errado, o funcionalismo é a antítese de praticamente tudo o que a neurociência aprendeu nos últimos tempos sobre motivação e liderança no trabalho".

Explico: o salário no fim do mês é garantido. Não temos metas que façam diferença para a remuneração. Não há bônus. Não há pagamento diferenciado. Não há reconhecimento de esforços. Portanto, manter a motivação e estabelecer metas são questões de iniciativa pessoal.

Essa falta de uma cultura de reconhecimento do mérito, além da impossibilidade de considerar meus estagiários e "estudantes" do laboratório como trabalhadores que de fato são, levou-me a fazer um experimento. Temos meio cérebro de elefante a processar: 2,6 kg de tecido que, nas mãos de estudantes bolsistas e outros free-lancers, estavam caminhando a passos de cágado. Ao ritmo de 40 gramas por semana, levaríamos um ano inteiro para terminar o trabalho. Inaceitável.

Fiz as contas, então, e, num exercício de contabilidade criativa, reuni minha equipe e propus uma remuneração correspondente ao esforço de cada um: R$ 2,85 por grama de tecido processado.

Eles toparam --e a produção primeiro duplicou, depois quadruplicou. Desde a implementação do capitalismo em meu laboratório, a bancada está sempre cheia de jovens animados trabalhando furiosamente. Eles mesmos passaram a anotar suas produções respectivas, já antecipando a recompensa monetária, que será maior do que qualquer bolsa de iniciação.

Agora a meta inicial de terminar o projeto até maio será de fato cumprida, e tenho alunos sorridentes e motivados no laboratório. E eu, o que ganho, além de vê-los felizes? Só dor de cabeça contábil... Haja motivação pessoal!

NA PRÓXIMA SEMANA
Denise Fraga


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