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Namoro high-tech

Aplicativos de celular para casais facilitam a comunicação a distância e ajudam a resolver crises; para especialistas, programas generalizam dicas

JULIANA VINES COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Seu casamento não é o mesmo depois do nascimento dos filhos? Reserve 15 minutos por dia para uma conversa a sós com seu parceiro e planeje uma noite romântica a cada duas semanas.

A receita anticonflitos está no aplicativo para smartphone "Couples Counseling & Chatting" (aconselhamento de casais e bate-papo), que, com um diagnóstico rápido e exercícios para fazer a dois, tenta transformar o celular em um terapeuta de casais a distância.

Em oito semanas desde sua estreia nos Estados Unidos, o programa já foi baixado 30 mil vezes, cifra comemorada pela psicoterapeuta americana Marigrace Randazzo-Ratliff, criadora do aplicativo.

"Ele ajuda os casais a se sentirem confortáveis com seus problemas, sem colocar rótulos ou patologizar'. É possível trabalhar as situações por vários meses, além de tirar dúvidas comigo [de graça]", disse à Folha.

Os ensinamentos são baseados nos 25 anos de profissão da terapeuta e nada mais. O aplicativo não é o único do tipo nos EUA (veja ao lado) e seu sucesso pode ser explicado pela importância que a internet e o smartphone passaram a ter na vida a dois.

Um relatório recente do instituto de pesquisas americano Pew Research Center revelou que 41% dos adultos de 18 a 29 anos que namoram se sentem mais próximos do parceiro graças a mensagens de texto e conversas on-line. E 23% deles já tentaram resolver virtualmente uma briga que tinham dificuldades para solucionar cara a cara.

Para o psiquiatra Luiz Cuschnir, do HC da USP, se por um lado a tecnologia ajuda com a comunicação imediata, por outro pode gerar mal-entendidos. "As carinhas' e interjeições usadas on-line podem ser mal interpretadas ou insuficientes."

No caso dos aplicativos de terapia, o risco é a generalização com recomendações que nem sempre são úteis para todos os casais.

"O mesmo problema pode ter causas diferentes. Esse é um ajuste fino que só a terapia presencial consegue", explica Ailton Amélio, psicólogo e professor da USP.

Para a terapeuta de casais Tai Castilho, os aplicativos não devem ser vistos como terapia. "Podem ajudar, mas são dicas, não substituem a mediação do especialista."

Em sua defesa, Randazzo-Ratliff diz que o "Couples Counseling..." foi testado em grupos de casais e inclui avaliações que personalizam os procedimentos.

REDE PARA DOIS

Por aqui, esses aplicativos feitos por terapeutas não são populares. Outras aplicações para casais, porém, já têm adeptos fiéis, entre elas o Couple e o Avocado, redes sociais exclusivas para dois que têm como principal atrativo facilitar a comunicação com um canal 100% privado (só dá para falar com o parceiro).

"É algo só meu e dela. Nos aproxima mesmo quando estamos longe", diz Ronie Geribola, 22, estudante. Ele namora há 10 meses e usa o Couple há sete. A ideia foi da namorada Brenda Shedelba, 19, coordenadora pedagógica, que buscava um jeito de reduzir a distância entre eles.

"Nos encontramos só uma vez por semana. Nos momentos em que queremos compartilhar coisas, usamos o Couple", diz.

Além de conversar, eles trocam fotos, marcam eventos em um calendário compartilhado e dão "beijos de dedo" ""ferramenta que faz o aparelho tremer quando os dois colocam os polegares na tela ao mesmo tempo.

Para a psicóloga Luciana Ruffo, do Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática da PUC-SP, a exclusividade dessas redes é uma armadilha: facilita o contato, mas também o controle.

"Eu sei que naquele momento o parceiro está só comigo, mas a gente não vive exclusivamente para o outro. Muitos têm dificuldade para lidar com o fato de que o parceiro tem outros contatos e outras relações afetivas."

O mesmo pensa Amélio. "A coisa toda é muito mais complexa que um aplicativo. Uma ferramenta pode ajudar na comunicação, mas, se o casal não quiser conversar, não adianta nada. Muitos casais não se comunicam bem na vida real, imagine on-line."


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