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Suzana Herculano-Houzel

Avós e netinhos

Avós ajudam a fazer vingar netinhos saudáveis, e os netos os ajudam a manter a saúde física e mental

Dizem as teorias sobre a evolução (esta, um fato --mas isso é outra história) que importa para a perpetuação da espécie simplesmente se os indivíduos conseguem se reproduzir, passando seus genes adiante. Nesse caso, o que acontece depois seria biológica e evolutivamente irrelevante.

Mas estão aí nossos avós para provar que a história não é bem assim. E não se trata apenas de avós humanos. Em várias espécies onde fêmeas permanecem em bandos, avós-elefantas, avós-leoas, babuínas e chimpanzés têm oportunidade de interagir com seus netinhos.

Como o envelhecimento saudável pode ser evolutivamente benéfico, ou seja, que vantagens evolutivas ele pode ter?

Muitas, como sabe quem cresceu com avós presentes --e como sabem também os avós que têm seus netinhos por perto. Mas vou ilustrar por ora apenas com os achados do neurocientista Stephen Suomi, do Instituto Nacional de Saúde Infantil e Desenvolvimento Humano nos EUA.

Suomi aprendeu com seu orientador, Harry Harlow, que filhotes de macaco reso criados sem mãe e sem carinho crescem com um leque de distúrbios sociais e de ansiedade. Ter mãe, afinal, não é apenas ter quem alimente e proteja.

Mas, em seguida, Suomi descobriu que a introdução de macacas e macacos idosos, cuidadores experientes e carinhosos, resgatava o desenvolvimento dos bebês. Não de qualquer jeito: se o contato com os bebês era forçado, a saúde dos "avós" deteriorava. Mas, tendo a opção de ir e vir à vontade, ter "netinhos" para cuidar recuperava também a saúde física e mental dos macacos idosos --e alguns até se tornaram pais novamente!

Avós voluntariamente carinhosos, portanto, ajudam não só a educar a nova geração como ainda a fazer vingar netinhos saudáveis e bem integrados socialmente --e, de quebra, os avós se mantêm revigorados por serem úteis aos netos.

Eu bem sei. Perdi minha avó no começo deste ano. Cresci ouvindo-a dizer, sempre hiperbólica, que estava à beira da morte --mas ela manteve a saúde de um touro enquanto teve netos e bisnetos por perto de quem cuidar.

Consolo-me, então, pensando não nos anos que perdemos, mas nos 40 em que tive o privilégio de crescer com uma avó que me ensinou música, tricô, costura, empadão e leite queimado; que me divertia não engolindo sapo algum e dirigindo feito uma louca até os 80 e tantos anos --e que sempre teve colo para mim e, depois, para meus filhos.


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